18 de Setembro de 2024

Exame de sangue com ajuda de IA pode dar vantagem contra Parkinson


Cientistas liderados pela University College London (UCL), no Reino Unido, e pelo Centro Médico Universitário de Goettingen, na Alemanha, desenvolveram um exame de sangue que usa inteligência artificial (IA) para prever o Parkinson até sete anos antes do início dos sintomas. Segundo o estudo, detalhado, ontem, na revista Nature Communications, a doença é a neurodegeneração que avança mais rapidamente no mundo, e atualmente afeta quase 10 milhões de pessoas. Os autores acreditam que a previsão e o diagnóstico precoce podem ser as chaves para retardar ou interromper a condição.

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No Parkinson há morte das células nervosas na substância negra do cérebro, responsável pelo controle do movimento. Essas estruturas se deterioram devido ao acúmulo da proteína alfa-sinucleína, o que promove a perda da capacidade de produzir dopamina, um hormônio crucial. Atualmente, o tratamento envolve terapia de reposição de dopamina após o aparecimento de sintomas, como tremores, lentidão de movimentos e questões de memória. 

Kevin Mills, autor sênior do estudo e professor no Instituto de Saúde Infantil UCL Great Ormond Street, afirmou que à medida que novas terapias se tornam disponíveis, é crucial diagnosticar os pacientes antes dos sintomas aparecerem. "Não podemos regenerar nossas células cerebrais, então proteger as existentes é fundamental", pontuou, em nota.

Durante a pesquisa, a equipe empregou a tecnologia para identificar novos biomarcadores para Parkinson, buscando utilizá-los em um teste viável para qualquer grande laboratório do NHS, o sistema público de saúde da Inglaterra.

Com o uso de aprendizagem de máquina, a equipe analisou oito biomarcadores sanguíneos alterados em pacientes com Parkinson, fornecendo diagnósticos com 100% de precisão. Para o trabalho, cientistas analisaram o sangue de 72 pacientes com Transtorno Comportamental de Movimento Rápido dos Olhos (iRBD). Esse distúrbio faz com que os pacientes movimentem seus sonhos sem saber. Atualmente, sabe-se que entre 75% a 80% das pessoas com iRBD desenvolverão uma sinucleinopatia — distúrbio cerebral causado pelo acúmulo anormal da proteína alfa-sinucleína nas células cerebrais —  incluindo Parkinson.

Quando a ferramenta de aprendizado de máquina analisou o sangue desses pacientes identificou que 79% dos voluntários com iRBD tinham o mesmo perfil de alguém com Parkinson. Os participantes foram acompanhados, então, durante uma década e as previsões da IA corresponderam à taxa de conversão clínica —com a equipe prevendo corretamente que 16 pacientes desenvolveriam Parkinson e sendo capaz de fazer isso até sete anos antes do início de quaisquer sintomas.

Os cientistas continuam acompanhando agora os voluntários que receberam a previsão de desenvolver Parkinson, para verificar ainda mais a precisão do teste.

Alexandre Bossoni, neurologista do Hospital Santa Paula, da rede Dasa, em São Paulo, pondera haver muitos desafios na implementação de um teste de sangue para prever o Parkinson. "A questão número um é a fisiopatologia completa da doença que ainda não é totalmente conhecida. Por mais que se estude e desvende vários mecanismos o total conhecimento de como ela começa, evolui e todos os processos fisiopatológicos não são sabidos. Isso limita o desenvolvimento de biomarcadores que falem quem vai ou não desenvolver Parkinson no futuro."

Conforme o médico, a segunda questão é a doença ser multifatorial. "Depende do indivíduo e do meio ambiente a determinação de quem vai desenvolver ou não. Como a detecção precoce do Parkinson pode impactar as estratégias de tratamento atuais e futuras, principalmente antes dos sintomas motores surgirem."

Carlos Uribe, neurologista do Hospital de Base do Distrito Federal, ressalta que, por enquanto, esse tipo de exame, se comprovado, não irá impactar muito na prática clínica diária. "Mesmo sabendo com antecedência que realmente está em risco de desenvolver essa doença, ainda não temos um tratamento específico efetivo para evitar que ela siga seu curso."

Todavia, o neurologista detalha que o teste poderá ser usado em estudos para o desenvolvimento de terapêuticas. "Por enquanto esse tipo de exame vai ser mais importante para selecionar os participantes de estudos que analisem se alguma intervenção pode ser efetiva para evitar que as pessoas desenvolvam a doença, mais voltado para a ciência."

Embora os resultados iniciais sejam promissores, é preciso garantir que o teste funcione bem para todas as pessoas. Requer estudos maiores. Além disso, os profissionais de saúde precisam ser treinados para usar o teste e entender os resultados corretamente.  Ele também deve ser fácil de usar e acessível. É importante considerar as implicações éticas e psicológicas de prever uma doença incurável anos antes dos sintomas aparecerem. Precisamos fornecer apoio adequado e aconselhamento para as pessoas que testam positivo e suas famílias. Outras doenças poderiam se beneficiar de abordagens semelhantes, como Alzheimer, esclerose lateral amiotrófica (ELA), esclerose múltipla (EM) e Doença de Huntington.

Ana Claudia Pires Carvalho, neurologista e especialista em
Doença de Parkinson do hospital
Anchieta, em Brasília

 


Embora os resultados iniciais sejam promissores, é preciso garantir que o teste funcione bem para todas as pessoas. Requer estudos maiores. Além disso, os profissionais de saúde precisam ser treinados para usar o teste e entender os resultados corretamente.  Ele também deve ser fácil de usar e acessível. É importante considerar as implicações éticas e psicológicas de prever uma doença incurável anos antes dos sintomas aparecerem. Precisamos fornecer apoio adequado e aconselhamento para as pessoas que testam positivo e suas famílias. Outras doenças poderiam se beneficiar de abordagens semelhantes, como Alzheimer, esclerose lateral amiotrófica (ELA), esclerose múltipla (EM) e Doença de Huntington.

Ana Claudia Pires Carvalho, neurologista e especialista em
Doença de Parkinson do hospital
Anchieta, em Brasília

 

Fonte: correiobraziliense

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