23 de Novembro de 2024

O 'inquietante' pacto de proteção mútua entre Rússia e Coreia do Norte


A visita do presidente da Rússia, Vladimir Putin, à Coreia do Norte tem sido acompanhada com atenção pelo mundo.

E a aproximação cada vez mais evidente entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e e o colega russo tem colocado o Ocidente em alerta.

Agora, a aliança entre os dois países deu um passo adiante com a assinatura de um acordo entre Kim e Putin que inclui uma "assistência mútua em caso de agressão contra uma das partes", segundo explicou o mandatário russo, citado pelos meios de comunicação estatais de Moscou.

Os líderes estiveram reunidos durante duas horas na quarta-feira (19/6), em Pyongyang, capital norte-coreana.

Kim Jong-un classificou a Rússia como o "amigo e aliado mais honesto" e se referiu a Putin como "o amigo mais querido do povo coreano", de acordo com um comunicado da agência estatal russa RIA.

Já Putin teria dito, segundo as agências russas, que a Coreia do Norte tem direito a se defender e que ambos os país podem cooperar militarmente, ainda que o acordo seja "de natureza defensiva e pacífica".

Em declaração aos jornalistas em Pyongyang, Kim advertiu que seu país responderá "sem hesitar" aos "incidentes ou guerras" que Coreia do Norte ou Rússia enfrentarem, após a assinatura do chamado Acordo Integral de Parceria Estratégica.

"Não haverá diferenças na interpretação, nem vacilações ou indecisão no cumprimento do dever de responder em um esforço conjunto a diversos incidentes ou guerras que já enfrentam nossos países, ou que enfrentarão no futuro", disse o líder norte-coreano.

Kim também declarou que a relação entre a Coreia do Norte e a Rússia agora se eleva a um "novo nível de aliança" e que o tratado acelerará a criação de um "mundo multipolar" onde nenhum país dominante possa exercer um poder hegemônico.

O acordo levantou questões entre os especialistas.

Muitos se perguntam o que realmente significa a assinatura e como isso pode influenciar em questões relevantes como a guerra na Ucrânia.

Para o correspondente de diplomacia da BBC, Paul Adams, apesar de os dois líderes descreverem o acordo em termos "audaciosos", é "difícil avaliar o que ele significa na prática, até que um texto formal seja anunciado".

Kim o chama de "o tratado mais forte jamais criado", e Putin de "documento revolucionário".

"Para Putin, tudo está relacionado com a guerra na Ucrânia. Ele precisa conseguir todos os projéteis de artilharia e foguetes que puder", analisa Adams.

Segundo estimativas da Coreia do Sul, a Rússia já recebeu 10 mil contêineres de munições de Pyongyang.

Já Kim, escreve Adams, "tem suas próprias necessidades, evidenciadas pelo recente fracasso de seu país em colocar um satélite espião em órbita. Apesar das sanções, a Rússia ainda pode reunir o tipo de experiência técnica que o líder norte-coreano deseja."

O que ele realmente conseguirá?

Em suas declarações, o líder russo disse que "não exclui o desenvolvimento de uma cooperação técnico-militar com a Coreia do Norte".

"Isso soa como um compromisso", diz o analista. "Os dois países estão claramente estreitando seus laços, para consternação do mundo ocidental. A China também pode ter suas preocupações."

Mas o que os dois países querem dizer com “assistência mútua em caso de agressão contra uma das partes deste acordo”?

"Talvez os dois líderes prefiram que isso continue sendo inquietante e ambíguo", avalia Adams.

Na avaliação Laura Bicker, correspondente da BBC na China, o acordo, apesar de ambíguo, pode ter reflexo nos países vizinhos à Coreia do Norte.

"A Coreia do Sul pode mudar de ideia sobre fornecer armas para a Ucrânia. Isso também pode aproximar os sul-coreanos do Japão. Os dois rivais históricos já deixaram de lado algumas de suas diferenças nos últimos dois anos para assinar um acordo trilateral com os EUA, na esperança de combater uma Coreia do Norte provocativa e a crescente influência da China", escreve Bicker.

Para Bicker, é improvável que Pequim demonstre qualquer desaprovação em público, mas a "China pode querer se distanciar deste acordo".

Durante a visita de Putin à Corea do Norte - a primera oficial ao país asiático em 24 anos -, Kim Jong-un assegurou que apoia "plenamente" a invasão russa à Ucrânia.

Isso é especialmente relevante para o líder russo, que, desde o início da guerra, se tornou um pária para o Ocidente e tem buscado aliados em outros lugares.

Na visita, Putin revelou que a Coreia do Norte tem abrigado filhos de soldados russos mortos na Ucrânia no acampamento de verão Songdowon, na costa do Pacífico do país.

Em um comunicado, a agência de desinformação da Ucrânia disse que "a visita mostra que Putin está procurando qualquer oportunidade para continuar a guerra, apesar de afirmar que está pronto para a paz".

Já o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba, afirmou anteriormente em uma entrevista à BBC que este encontro é prova de que nem a Ucrânia nem a Rússia podem travar esta guerra sozinhas.

Estados Unidos e Coreia do Sul têm acusado a Coreia do Norte de fornecer à Rússia artilharia e outros equipamentos, provavelmente em troca de alimentos e ajuda militar.

Ambos os países negam a existência de um acordo de armas, mas em 2023 prometeram fortalecer seus vínculos militares.

Quase dois anos e meio após a invasão da Ucrânia, não há dúvida de que a interdependência entre a Coreia do Norte e a Rússia continua se fortalecendo, já que fornecem suprimentos mutuamente.

Putin foi recebido na Coreia do Norte com um desfile impressionante .

No aeroporto, havia tapetes vermelhos, rosas vermelhas e a guarda de honra posicionada na pista, enquanto os dois líderes sorriam e se abraçavam.

A praça Kim Il-Sung, em Pyongyang, estava repleta de pessoas, balões coloridos, flores e coreografias.

Enormes cartazes com fotos dos dois líderes enfeitavam os prédios durante a cerimônia de boas-vindas.

"Esta luxuosa recepção ocorre em um momento em que a Coreia do Norte, fortemente sancionada, tem sofrido com a escassez de alimentos, combustível e energia, com uma economia esgotada que piorou muito devido à pandemia de covid-19", observa a jornalista da BBC Shaimaa Khalil, de Seul, na Coreia do Sul.

Apesar da situação econômica, Pyongyang parece não ter poupado recursos para esta visita, com a esperança, é claro, de que produza resultados, indica Khalil.

Putin presenteou Kim com um luxuoso automóvel russo Aurus, uma adaga e um jogo de chá, informaram os meios de comunicação estatais russos, citando o assistente presidencial Yuri Ushakov.

Os dois também assistiram a um concerto de gala

Após a visita à Coreia do Norte, Putin partiu em direção ao Vietnã, país aliado de longa data da Rússia.

Fonte: correiobraziliense

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