Após o Comitê de Política Monetária (Copom) decidir manter a taxa de juros em 10,5%, após cerca de 10 meses em queda, reações negativas tomaram conta de membros do governo federal e de entidades que representam o setor produtivo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a medida e fez novas críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
A fala de Lula em entrevista à Rádio Verdinha, em Fortaleza (CE), contribuiu para que a moeda americana invertesse a tendência de queda registrada pela manhã, e encerrasse o dia a R$ 5,462 — maior valor desde o registrado no dia 22 de julho de 2022, quando a cotação ficou em R$ 5,498.
"Foi uma pena que o Copom manteve, porque quem perde com isso é o povo brasileiro. Quanto mais a gente pagar de juros, menos dinheiro a gente tem para investir aqui dentro. E isso tem que ser tratado como gasto", disse Lula.
Para o presidente, o pagamento dos juros da dívida pública deve ser tratado como gasto e o dinheiro deixa de ser investido no país. A decisão do BC, segundo Lula, beneficia apenas as instituições financeiras e os especuladores. "A decisão do Banco Central foi investir no mercado financeiro, foi investir nos especuladores que ganham dinheiro com os juros", acrescentou.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, frisou que o cenário fiscal vai "mostrar claramente" o compromisso do governo com o arcabouço aprovado no ano passado e que espera que, já na próxima reunião, o Copom decida cortar novamente os juros. A decisão da última quarta-feira foi unânime.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) emitiu uma nota em que afirma considerar "inadequada e conservadora" a decisão do Copom. "A manutenção do ritmo de corte na Selic seria o correto, pois contribuiria para mitigar o custo financeiro suportado pelas empresas e pelos consumidores, sem prejudicar o controle da inflação", comentou o presidente da entidade, Ricardo Alban.
A CNI também destacou que, com a manutenção da Selic no atual patamar, a taxa de juros reais do país, que está em 6,64% ao ano, continua sendo a segunda maior do mundo, atrás apenas da Rússia.
Já o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, saiu em defesa do Banco Central (BC) e criticou a atuação do governo federal no controle de gastos públicos. Segundo o líder da entidade, a política fiscal do governo Lula precisa sair do "terreno expansionista" para harmonizar a política monetária restritiva, que se reflete na Taxa Básica de Juros.
"Nós tivemos, infelizmente, ontem (quarta-feira), uma decisão do Banco Central interrompendo o ciclo de quebra na taxa de juros, o que é ruim do ponto de vista daquilo que nós precisamos. Não estou aqui para fazer nenhuma crítica ao BC. O banco tomou sua decisão técnica, vendo o cenário e a conjuntura, e verificou que tem havido uma deterioração do quadro fiscal e das expectativas de inflação", disse Sidney, nesta quinta-feira, durante o 3º Congresso da Associação Brasileira de Instituições de Pagamentos (Abipag), em Brasília.
O presidente da Febraban acredita que já há um esgotamento do debate em torno do aumento de receitas e defende um debate mais avançado para incluir no planejamento fiscal uma reavaliação do ritmo de crescimento das despesas. Ele citou o tamanho das despesas com o incentivos sociais — que chega a 6% do PIB — e com a Previdência.
"Nós precisamos entrar na agenda definitiva de sustentabilidade fiscal. É isso que vai fazer com que o Brasil consiga ter um crescimento sustentável, e é isso que fará com que nós consigamos manter a inflação na meta e termos condições de termos juros mais confortáveis, que é o que todos desejamos", acrescentou.
A decisão unânime do Copom, na véspera, de manter a taxa Selic em 10,5% levou a uma reação positiva do mercado no início da manhã. Antes, havia um temor de que o BC afrouxaria a politica monetária a partir de 2025, quando o atual presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, será substituído. A partir do próximo ano a diretoria da instituição será composta por uma maioria indicada por Lula.
Na reunião anterior, em maio, os quatro diretores indicados por Lula votaram por corte menor da Selic, o que levantou suspeitas de ingerência política na autarquia. A decisão dessa semana trouxe alívio ao mercado.
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