De um épico histórico japonês até um controverso drama sobre stalking e uma adaptação de vídeo game, os críticos da BBC Caryn James (CJ) e Hugh Montgomery (HM) selecionam as melhores séries do streaming apresentadas em 2024 até agora.
E, nesta reportagem, confira os oito melhores filmes de 2024 até o momento, segundo os críticos da BBC.
Os números da lista abaixo não representam uma ordem de classificação. Eles foram incluídos apenas para separar as séries com mais clareza.
Se a quarta temporada de True Detective tivesse incluído apenas aquela inesquecível palavra "corpúsculo" para designar as vítimas de assassinato preservadas no gelo, já teria sido suficiente. Mas a série foi renovada e foi muito além disso.
Jodie Foster se reafirma como a amarga chefe de polícia de uma pequena cidade do Alasca. Ela lidera as investigações de um caso de assassinatos múltiplos cada vez mais assustadores.
A série se passa em uma época do ano em que o sol não aparece por duas semanas naquela região. Sua bela fotografia no azul noturno faz o espectador sentir o frio do local, levado para um mundo em que cientistas especializados em alta tecnologia moram lado a lado com os habitantes locais, com suas crenças sobrenaturais.
Poderíamos passar horas desvendando os ovos de Páscoa e as conexões com a temporada original da série, de 2014, como muitos têm feito. Mas, neste contexto, não é necessário.
A roteirista e diretora mexicana Issa López trouxe nova energia para esta franquia. Ela fez com que a série ficasse renovada e cativante, do seu início assustador até o final, que é de cair o queixo. (CJ)
True Detective: Terra Noturna está disponível no Brasil no Max.
Quando Game of Thrones (2011-2019) chegou ao fim, surgiram longas discussões sobre qual série poderia sucedê-la. Várias séries fantásticas disputavam o posto, como o spin-off de O Senhor dos Anéis (Os Anéis de Poder, da Amazon), e a própria série derivada de Game of Thrones (A Casa do Dragão, da HBO).
Cinco anos depois, sua sucessora mais convincente acabou sendo uma série sem nenhum sinal de fantasia.
Xógum: A Grande Saga do Japão é um drama histórico sobre o Japão real do século 17. Ela preserva a rígida visão de mundo de Thrones, seus visuais épicos e o intenso interesse pelas manobras políticas.
O romance histórico (Ed. Arqueiro, 2008) escrito por James Clavell (1921-1994) já havia inspirado uma minissérie de imenso sucesso nos anos 1980. Xógum conta a história de John Blackthorne (interpretado por Cosmo Jarvis, à la Richard Burton), um navegador britânico que naufraga no litoral japonês e se envolve em uma batalha pelo poder entre membros do conselho governante do país.
A ação que se segue é deslumbrantemente filmada, brilhantemente interpretada – e decididamente brutal. As diversas maquinações dos personagens acabam gerando cenas de violência sem a menor hesitação.
Todo o elenco é brilhante, desde Hiroyuki Sanada, como o combatido conselheiro Lord Yoshii Toranaga, até Anna Sawai, como a tradutora e amante de Blackthorne, Mariko.
A produção foi originalmente idealizada como uma série fechada, mas seu sucesso foi tão grande que a FX já anunciou planos para mais duas temporadas. Vamos esperar que eles consigam manter o nível desta primeira. (HM)
Xógum: A Gloriosa Saga do Japão está disponível no Brasil no Star+ e no Disney+.
A história de terror autobiográfica de Richard Gadd parecia ter caído de paraquedas na Netflix. Mas ela se tornou, merecidamente, um dos maiores, mais comentados e mais perturbadores sucessos do ano.
Gadd criou e interpreta um problemático humorista de nome Donny Dunn, que faz amizade com Martha. Ela entra no bar onde ele trabalha, cria uma fantasia sobre um relacionamento entre os dois e começa a persegui-lo com e-mails que quase destroem a vida dele.
Jessica Gunning interpreta Martha de forma excepcional, ao mesmo tempo ameaçadora e digna de compaixão, em meio aos seus delírios.
A tensão cresce ao longo da série, até atingir um ponto excruciante. Donny também sofre agressões sexuais repetidamente, em detalhes de virar o estômago, por um produtor de TV que promete alavancar sua carreira.
A série causou controvérsias depois que os espectadores pesquisaram na internet e encontraram Fiona Harvey, supostamente a versão de Martha na vida real. Ela concedeu entrevistas à imprensa e, agora, está processando a Netflix por difamação, negligência e violação de privacidade.
Abalos da vida real à parte, Bebê Rena é arte confessional na sua forma mais cativante. (CJ)
Bebê Rena está disponível no Brasil na Netflix.
No ano passado, a série da HBO The Last of Us pôs fim à tradição de adaptações de videogame inferiores ao original, apresentando uma versão cativante do jogo de ação e aventura.
E eis que surge agora uma adaptação surpreendentemente elegante para a TV de uma franquia de games pós-apocalípticos, que certamente fez ainda mais sucesso que o jogo: uma versão sorrateiramente engraçada da série de videogame Fallout, que imagina um mundo devastado por uma guerra nuclear, com algumas pessoas vivendo em abrigos luminosos no subsolo.
A atriz britânica Ella Purnell lidera o elenco como uma moradora do abrigo 33. Com seus olhos brilhantes, ela é forçada a seguir em uma missão reveladora para a superfície da Terra, a fim de resgatar seu pai, que foi raptado.
Naquele Velho Oeste futurístico, ela entra em contato com um inquieto soldado (Aaron Moten) e um "morto-vivo" caçador de recompensas (Walton Goggins), entre outros personagens.
Fallout é coproduzida por Lisa Joy e Jonathan Nolan – criadores da série Westworld (2016-2022), que é similar, mas inferior. É uma experiência impressionante e imersiva, que não deixa a dever ao material fonte, mas com ritmo narrativo próprio.
Para completar, Purnell é uma verdadeira estrela em formação e Goggins é uma revelação na sua interpretação em duas linhas de tempo. (HM)
Fallout está disponível no Brasil na Amazon Prime Vídeo.
Andrew Scott interpreta de forma fascinante o mortal charlatão Tom Ripley nesta versão hitchcockiana do romance O Talentoso Ripley (Ed. Cia. de Bolso, 2012), da escritora americana Patricia Highsmith (1921-1995).
Ambientada em Nápoles e Roma nos anos 1960, a dramática cinematografia em preto e branco, do cineasta ganhador do Oscar Robert Elswit, captura perfeitamente o belo mundo sombrio onde vive Ripley, um vigarista de pequenos golpes de Nova York, que avança até se tornar adepto da dolce vita.
Quando Ripley rouba a identidade do seu rico e preguiçoso amigo Dickie Greenleaf (Johnny Flynn), um simples olhar para o rosto de Scott consegue revelar as muitas trapaças cometidas pelo personagem.
Flynn, Dakota Fanning e Eliot Summer interpretam brilhantemente as pessoas que são exploradas por Ripley.
Em estilo muito diferente do memorável filme de 1999 (O Talentoso Ripley), com sua farta iluminação, Steven Zaillian escreveu e dirigiu a série de forma fascinante, oferecendo os visuais mais gloriosos possíveis. (CJ)
Ripley está disponível no Brasil na Netflix.
Nenhuma série despertou tanto as emoções em 2024 quanto esta adaptação do romance do escritor britânico David Nicholls (Ed. Intrínseca, 2011).
A produção mostra os altos e baixos do relacionamento de dois amigos, Dexter e Emma, por 20 anos, desde a universidade. Ela acompanha a dupla no mesmo dia, 15 de julho, todos os anos.
A série começa nos anos 1980 e oferece uma deslumbrante viagem no tempo para os espectadores de uma certa idade. A ambientação é completa, ao som de uma trilha sonora vencedora e cuidadosamente curada, com músicas de sucesso de cada período.
Mas, no fundo, o que compõe a obra são as interpretações cativantes dos dois artistas principais, tanto individualmente quanto em conjunto.
Depois de se tornar uma promessa para o público na segunda temporada de The White Lotus (2022), Leo Woodall vive o arrogante Dexter, um garoto de programa refinado e compreensivo, mas convincentemente irritante.
Já Ambika Mod chamou a atenção pela primeira vez no drama médico This is Going to Hurt (2022). Agora, ela parte para se tornar uma estrela interpretando Emma, uma personagem inteligente, mas vulnerável.
E atenção: se você não sabe o que acontece na série, prepare-se para as lágrimas. (HM)
Um Dia está disponível no Brasil na Netflix.
Uma das mais improváveis premissas para uma série de TV trouxe também uma das mais deliciosas surpresas do ano.
Clive Owen interpreta com ironia e inteligência o detetive particular Sam Spade, criado pelo escritor americano Dashiell Hammett (1894-1961). O personagem foi transportado da São Francisco decadente dos anos 1940 para uma pequena cidade francesa da década de 1960.
Sem imitar o consagrado e durão Spade de Humphrey Bogart no filme Relíquia Macabra (1941), Owen oferece um personagem perspicaz e emocionalmente frio – mas, às vezes, também confuso, especialmente quando tenta dominar o idioma francês.
Existem relacionamentos pessoais complexos – uma amante glamourosa (Chiara Mastroiani) e uma jovem que passa a ser guardiã de Spade – e, é claro, assassinatos que ele não pode deixar de investigar em uma próspera cidade do interior, onde moram e conspiram nazistas não regenerados.
O diretor Scott Frank (O Gambito da Rainha, 2020) criou uma série viva e cheia de suspense. E Owen faz seu próprio Spade, um homem com um coração por baixo do seu imenso sangue-frio. (CJ)
Raramente, uma série de TV pode causar impactos tão evidentes sobre assuntos do governo. Mas foi o que aconteceu no início deste ano com esta brilhante minissérie britânica.
Ela trata do escândalo nacional dos correios do Reino Unido, que fez com que mais de 700 gerentes de agências postais fossem indevidamente acusados de adulterar sua contabilidade e cometer roubo e fraude, devido a uma falha no sistema de computadores.
Quando foi ao ar no Reino Unido, em 1º de janeiro, Mr. Bates vs. the Post Office trouxe imensas e imediatas repercussões.
A série chegou a fazer com que o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, anunciasse a criação de uma nova lei para "absolver e compensar rapidamente as vítimas".
Este drama em quatro partes da diretora Gwyneth Hughes reúne brilhantemente as histórias humanas das muitas vítimas inocentes – entre elas, o personagem-título, Alan Bates (Toby Jones), que se torna o líder dos chefes dos correios na luta por justiça – e apresenta o contraste com a burocracia desumana que eles enfrentam.
O impacto da série comprova que, por mais valor que tenham os documentários, uma dramatização, às vezes, pode transmitir uma história para a consciência pública de forma inigualável.
Será que Mr. Bates irá inspirar outras séries de TV a abordar escândalos institucionais da nossa época? Tomara que sim. (HM)
Ao mesmo tempo engraçada e assustadora, Kate Winslet mostra que está no seu auge com esta comédia política sombria. Ela interpreta Elena Vernham, ditadora de um país fictício da Europa central.
No lado do absurdo, Elena canta a música Santa Baby durante seu discurso de Natal à nação e chama seus cidadãos de "meus amores". E, no lado ameaçador, ela se apresenta como populista, mas é implacável na sua determinação de permanecer no poder, invadindo um país vizinho e prendendo seus adversários políticos. É como se ela fosse filha de Eva Perón e Vladimir Putin.
Winslet equilibra elegantemente as cenas cômicas e maléficas da sua personagem e é rodeada por um elenco de estrelas, que inclui Matthias Schoenaerts como o soldado psicopata que se torna seu amante, Andrea Riseborough como seu assustado servidor e Hugh Grant em um único episódio, como o chanceler deposto por Elena.
O tom de O Regime é mais absurdo do que crítico, mas, no final, o tumultuado mundo político da série começa a espelhar o mundo real. (CJ)
O Regime está disponível no Brasil na Amazon Prime Vídeo e no Max.
Esta série de ficção científica causou muita sensação na sua estreia. É o novo projeto dos criadores de Game of Thrones, David Benioff e DB Weiss.
A série pode não ter se tornado exatamente o fenômeno que a plataforma de streaming esperasse, mas mereceu fortes elogios pela sua inteligência e ambição criativa.
Baseada no romance do mesmo nome, do escritor chinês Liu Cixin (Ed. Cia. das Letras, 2016), O Problema dos 3 Corpos conta a história de um grupo de amigos cientistas que tentam descobrir o que está causando uma onda de suicídios na sua comunidade.
A história envolve cenas passadas durante a Revolução Cultural Chinesa (1966-1976), um misterioso jogo de realidade virtual e muitos outros detalhes.
No começo, a série é uma história alucinante, mas ela se baseia em uma premissa oportuna e brilhantemente envolvente: o que faríamos se soubéssemos que a raça humana seria destruída daqui a 400 anos?
O Problema dos 3 Corpos traz também a sequência mais chocante do ano, comparável com o infame Casamento Vermelho de Game of Thrones.
A Netflix já anunciou que a série terá mais duas temporadas – e só. Esperamos que ela mantenha o seu ritmo. (HM)
O Problema dos 3 Corpos está disponível no Brasil na Netflix.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Culture.
Fonte: correiobraziliense
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