22 de Novembro de 2024

Ucrânia: Rússia ameaça os EUA depois de bombardeio à Crimeia


O governo do presidente russo, Vladimir Putin, culpou os Estados Unidos pelo "ataque bárbaro" contra a cidade de Sebastopol, às margens do Mar Negro, na península anexada da Crimeia, e acusou Washington de "matar crianças russas". "É evidente que a participação dos Estados Unidos nos combates, a sua participação direta, que leva à morte de cidadãos russos, tem que ter consequências", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. O assessor de Putin pediu aos jornalistas presentes na entrevista coletiva  para que perguntassem à Europa e aos EUA "por que seus governos matam crianças russas". A Rússia afirma que cinco mísseis foram disparados, pelas forças ucranianas, a partir do sistema de lançamento norte-americano ATACMS, no domingo (23/6). O quinto míssil teria explodido sobre a praia, matando quatro pessoas, entre elas duas crianças, e ferindo mais de 151 — das quais 82 foram hospitalizadas. 

De acordo com o Ministério da Defesa da Rússia, o artefato desviou de sua rota depois de ser atingido pelo sistema de defesa aérea de Moscou. As autoridades russas asseguram que a Ucrânia não consegue realizar, sozinha, ataques com mísseis de longo alcance ATACMS. Por isso, sustentam que o ataque teria sido realizado com a participação de especialistas, de tecnologia e de dados da inteligência norte-americana. Até a noite desta segunda-feira (24), a Casa Branca não tinha comentado as acusações do Kremlin.

Os Estados Unidos e países-membros da União Europeia avalizaram o uso de armas ocidentais, por parte da Ucrânia, em ataques de alvos militares russos utilizados para bombardear o território ucraniano. A resposta de Putin veio na mesma moeda: ele ameaçou, no começo do mês, fornecer armamentos equivalentes a inimigos das potências ocidentais, para que alcancem seus interesses em outras regiões do mundo.  

Momento em que banhistas foram surpreendidos pelas explosões sobre a praia
Momento em que banhistas foram surpreendidos pelas explosões sobre a praia (foto: Reprodução)

A primeira retaliação russa veio no campo diplomático: o Ministério das Relações Exteriores da Rússia convocou Lynne Tracy, embaixadora americana em Moscou, para informá-la sobre "medidas de represália". "Comunicou-se à embaixadora que tais ações de Washington autorizando ataques dentro do território russo não ficariam impunes", afirma o comunicado. 

Petro Burkovsky, analista da Fundação de Iniciativas Democráticas Ilko Kucheriv (em Kiev), lembrou ao Correio que a Rússia não é mais uma potência equivalente aos EUA. "Moscou não pode desafiar diretamente Washington, pois Putin sabe o tipo de resposta devastadora que seu país sofrerá, tanto militar quanto econômica. Por exemplo, os Estados Unidos podem suspender por completo o comércio de petróleo, gasolina e gás com a Rússia. Além disso, vários destróieres da Marinha norte-americana podem lançar mais mísseis cruzeiros de alta precisão do que a frota russa inteira e destruí-la. Portanto, o Kremlin nem mesmo tentará provocar um ataque direto aos EUA", afirmou. 

Para Burkovsky, a Rússia poderá retaliar o bombardeio em Sebastopol usando ataques cibernéticos ou fornecendo equipamento a aliados, como o Irã e a Coreia do Norte. "O Kremlin poderia enviar a Teerã e a Pyongyang ouro e tecnologia bélica. Mas, descarto uma ofensiva militar direta. Putin foi, e continua sendo, um covarde", ironizou. Ele aposta que o líder russo tentará encontrar meios de apoiar o republicano Donald Trump nas eleições de 5 de novembro, a fim de retaliar o presidente Joe Biden. "Além disso, o que é relevante para os EUA e para a América do Sul, o Kremlin poderá enviar criminosos para países da América do Sul, os quais receberam treinamento, na Venezuela e da Nicarágua, do Grupo Wagner (do mercenário Yevgeny Prigozhin, morto em acidente aéreo em agosto de 2023). Eles teriam o objetivo de cometer ataques violentos massivos em território norte-americano, para forçar uma crise interna que pudesse prejudicar Biden", disse.  

Bombeiros combatem as chamas depois de ataque com míssil russo, em Odessa, às margens do Mar Negro
Bombeiros combatem as chamas depois de ataque com míssil russo, em Odessa, às margens do Mar Negro (foto: Oleksandr Gimanov/AFP)

Professor de política comparada da Universidade de Kiyv-Mohyla, Olexiy Haran ressaltou ao Correio que Sebastopol não faz parte do território russo, apesar de as forças de Moscou terem anunciado a anexação da região em 2014. "Nós chegamos a utilizar nossos próprios mísseis (de fabricação ucraniana) contra alvos russos na Crimeia. A Rússia não pode culpar um país por defender seu território. Isso é simplesmente estúpido e cínico", criticou.

 17/11/2023  Crédito: Carlos Vieira/CB/DA Press. Brasília, DF. Mundo. Petro Burkovsky, analista da Fundação de Iniciativas Democráticas Ilko Kucheriv (em Kiev).
Petro Burkovsky, analista da Fundação de Iniciativas Democráticas Ilko Kucheriv (em Kiev) (foto: Carlos Vieira/CB )

"Putin defintivamente usará 'ferramentas híbridas', como interferência na campanha eleitoral dos EUA e a proliferação de armas nucleares de mísseis intercontinentais em países como o Irã. Ele estava planejando fazer isso, de qualquer maneira. Agora, apenas achou uma 'desculpa'."

Petro Burkovsky, analista da Fundação de Iniciativas Democráticas Ilko Kucheriv (em Kiev)

 

Fonte: correiobraziliense

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