As pesquisas de intenção de voto ainda não garantem nada, mas mostram que há chances elevadas de o ex-presidente Donald Trump obter um segundo mandato nas eleições presidenciais de novembro.
Quem quer que seja o vencedor da disputa eleitoral entre Trump e o atual presidente, Joe Biden, o resultado repercutirá no mundo todo e o resultado afetará a vida de milhões de pessoas para além das fronteiras da América.
Trump – que deve ser confirmado como candidato republicano na convenção nacional do partido em julho – nem sempre dá detalhes completos sobre os seus planos.
Mas está claro que em muitas áreas suas políticas se distanciam das do democrata Joe Biden. Abaixo estão algumas delas.
Donald Trump crítica os bilhões de dólares enviados pelos EUA em ajuda militar à Ucrânia desde a invasão em grande escala da Rússia em 2022.
Trump, que elogiou publicamente o presidente russo Vladimir Putin durante sua presidência, prometeu acabar com a guerra “dentro de 24 horas”, se eleito. Ele não disse como, mas o comentário levantou preocupações de que a Ucrânia poderia ser pressionada a ceder território à Rússia.
Um projeto de lei que incluía US$ 60 bilhões de assistência militar a Kiev ficou paralisado no Congresso dos EUA durante meses por apoiadores republicanos de Trump. E o ex-presidente não disse muito quando ele finalmente foi aprovado em abril.
Um dos seus aliados, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, disse, no entanto, após visitar o antigo presidente dos EUA na Flórida em março, que Trump “não dará um centavo” à Ucrânia se eleito.
Questionado sobre os comentários de Orban, Trump disse à revista Time: “Eu não daria a menos que a Europa começasse a igualar”.
Ele disse que “tentaria ajudar a Ucrânia”, mas a Europa “não estava pagando a parte que lhe cabe”.
O corte da ajuda militar agrada os eleitores republicanos. Segundo pesquisa publicada em 8 de maio pelo Pew Research Center, 49% dos republicanos questionados disseram que Washington estava gastando muito dinheiro com a Ucrânia, em comparação com 17% dos eleitores democratas.
Michelle Bentley, especialista em Relações Internacionais da Universidade Royal Holloway de Londres, diz que as mensagens de Trump podem já estar tendo um impacto, uma vez que Putin “pode estar se sentindo encorajado” pela possibilidade de um retorno de Trump.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), uma aliança militar composta por 32 países, incluindo os EUA, o Reino Unido, a Alemanha e a França, é um dos alvos preferidos de Trump.
Como presidente, ele ameaçou frequentemente retirar os EUA, caso os outros membros não cumprissem a meta acordada de gastar 2% do produto interno bruto (PIB) em defesa.
Segundo as regras da Otan, qualquer ataque a um país membro é considerado um ataque a todos os países do bloco.
Mas em fevereiro deste ano Trump disse que não só não protegeria um país que “não pagasse” como ainda encorajaria Moscou a fazer “o que quisesse” com ele.
O site da campanha de Trump afirma que o presidente pretende “reavaliar fundamentalmente” o propósito e a missão da Otan.
As opiniões estão divididas sobre se algum dia ele retiraria os EUA da aliança.
Ed Arnold, do think-tank de defesa Royal United Services Institute, com sede em Londres, diz que Trump “poderia ainda enfraquecer” o bloco sem, no entanto, precisar deixá-lo – diminuindo o número de tropas americanas na Europa ou impondo condições à resposta dos EUA no caso de uma invasão russa a um país membro da Otan.
A presidência de Trump foi marcada por políticas agressivas de imigração, e ele promete ir ainda mais longe caso retorne à Casa Branca.
Ele tem dito que “iniciaria a maior operação de deportação doméstica da história americana”.
O republicano também se comprometeu a acabar com a cidadania por nascimento para filhos de migrantes sem documentos e a travar guerra contra os cartéis de droga mexicanos.
No ano passado, ele sugeriu, ainda, que expandiria as polêmicas proibições de viagens anteriormente impostas a pessoas de diversos países de maioria muçulmana.
“Além de buscar deportar milhões de imigrantes não autorizados, muitos dos quais vivem nos EUA há décadas, Trump busca reduzir a imigração legal”, diz Doris Meissner, ex-comissária do agora extinto Serviço de Imigração e Naturalização dos EUA, hoje especialista do Migration Policy Institute, com sede em Washington.
O site da campanha de Trump destaca que, no cargo, ele suspendeu o programa de reassentamento de refugiados dos EUA. Meissner diz que é provável que ele tente fazê-lo novamente.
Ela acredita, no entanto, que os planos do ex-presidente encontrariam barreiras legais, como no primeiro mandato, quando os tribunais intervieram em decisões, como nas proibições de viagens.
Além disso, seu plano de deportação “irá de encontro à realidade de que o governo federal não tem recursos para deter e remover pessoas nem perto dos números que Trump promete”, acrescenta ela.
O presidente Biden prometeu uma política de imigração mais “humana” e suspendeu ou revogou várias políticas de fronteira da era Trump. Mas as pesquisas de opinião mostram que os eleitores tanto da esquerda quanto da direita estão preocupados com os níveis de imigração, deixando Biden com a missão de encontrar um difícil equilíbrio.
Em junho, o atual presidente emitiu uma ordem que permite que as autoridades removam rapidamente migrantes que entrarem ilegalmente nos EUA, sem que seus pedidos de asilo sejam processados. Mas duas semanas depois, Biden anunciou, também, uma política que protegerá de deportação centenas de milhares de cônjuges de cidadãos norte-americanos sem documentos.
No período em que foi presidente, Trump apoiou Israel e seu governo de direita abertamente.
Anunciou o reconhecimento de Jerusalém pelos EUA como capital de Israel, derrubando décadas de política oficial dos EUA, e transferiu a embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém.
Ambas as mudanças– que não foram desfeitas por Biden – foram vistas pelos palestinos como uma tomada de partido na disputada questão em torno do estatuto de Jerusalém.
O governo de Trump apoiou os assentamentos judaicos na Cisjordânia ocupada – que a grande maioria da comunidade internacional considera ilegais sob o direito internacional, o que é contestado por Israel.
Sua administração também mediou acordos que normalizaram as relações entre Israel e quatro países da Liga Árabe – Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Sudão e Marrocos.
No entanto, alguns consideram que ele guarda mágoa de Benjamin Netanyahu desde as eleições presidenciais dos EUA em 2020, quando o primeiro-ministro israelense telefonou para felicitar Biden, embora Trump ainda contestasse os resultados.
Na sequência dos ataques de 7 de Outubro, Trump disse que Netanyahu “não estava preparado” para um ataque do Hamas e chamou o Hezbollah, grupo militante islâmico do Líbano, de “inteligente”, despertando ira entre os republicanos que apoiam Israel.
Ele continua a ressaltar seu histórico de apoio a Israel, mas agora diz que o país deve "terminar o que começou" contra os militantes do Hamas em Gaza. Mas "acabar com isso rapidamente" porque está "perdendo a guerra de relações públicas".
À revista Time, Trump disse que em uma guerra Irã-Israel, ele “protegeria Israel”, sem dar maiores detalhes sobre como o faria. Como presidente, retirou os EUA do acordo nuclear com o Irã, intensificou as sanções e autorizou um ataque que matou o comandante militar iraniano mais poderoso, Qasem Soleimani.
No cargo, Trump desencadeou uma amarga guerra comercial com a China. Se reeleito, sugeriu tarifas superiores a 60% ao país.
No ano passado, ele também falou sobre “novas restrições agressivas” a fim de “interromper todas as futuras compras chinesas” de infra-estruturas nos EUA em setores vitais como energia e telecomunicações.
Com o aumento das tensões no Mar da China Meridional e em Taiwan, algumas pessoas próximas querem que a política de segurança dos EUA se volte mais para a China.
Elbridge Colby, conselheiro do Departamento de Defesa durante a administração Trump, tornou-se uma voz influente na segurança entre os republicanos e é cotado para um papel na administração Trump.
O intelectual conservador faz parte de um grupo de republicanos que quer que Washington faça de Pequim sua principal prioridade internacional.
“Não é que devamos simplesmente virar as costas à Ucrânia, mas apoiá-la não deve ser uma prioridade num momento em que a China é uma ameaça muito maior aos interesses americanos do que a Rússia”, afirma Colby.
Ele acrescenta que tem certeza de que Trump “está bem ciente disso”.
Taiwan é autogovernada e considera-se distinta do continente chinês, com uma constituição própria e líderes eleitos democraticamente.
Mas Pequim vê a ilha como uma província separatista que eventualmente acabará sob seu controle – e não descarta o uso da força para que isso aconteça.
Historicamente, os EUA têm sido deliberadamente pouco claros sobre como reagiriam caso a China invadisse Taiwan. Biden, no entanto, foi o mais explícito de todos os líderes americanos ao dizer que os EUA defenderiam a ilha.
Trump recusou-se a dizer o que faria. Em 2016, após vencer as eleições, ele gerou queixa da China ao aceitar um telefonema de felicitações do presidente de Taiwan, numa ruptura com a política norte-americana de décadas de ausência de relações diplomáticas.
Como presidente, Trump retirou os EUA do Acordo de Paris de 2015 sobre mudanças climáticas. Biden reverteu a decisão – o site da campanha de Trump diz que ele repetiria a ação.
Ele está prometendo “perfurar, baby, perfurar” em busca de petróleo, prometendo energia mais barata.
Seu site também afirma que ele irá acabar com os “litígios frívolos” de ambientalistas, acabar com os subsídios à energia eólica, reduzir os impostos sobre os produtores de petróleo, gás e carvão e revogar as regulamentações introduzidas por Biden relacionadas a emissões geradas por veículos.
Não houve, nos últimos 30 anos, dois candidatos presidenciais tão distantes em matéria de clima, afirma o professor David G. Victor, especialista em alterações climáticas da Universidade da Califórnia, em San Diego.
Também ex-autor principal do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, o professor Victor diz que uma vitória de Trump seria “uma catástrofe” para as atuais metas climáticas do governo dos EUA.
“Ele afastaria nossos aliados… então há muito pânico”, diz ele.
Simon Evans, vice-editor do influente site sobre alterações climáticas Carbon Brief, diz que seria “muito improvável” que os EUA cumprissem seus compromissos climáticos internacionais se Trump retornasse à Casa Branca.
Ele é coautor de um estudo que conclui que os EUA também provavelmente não cumprirão as metas do presidente Biden, mas por uma margem menor.
Biden investiu históricos US$ 300 bilhões em energia limpa e iniciativas climáticas através da sua Lei de Redução da Inflação. Mas alguns ativistas climáticos opõem-se às ações que ele tomou para aumentar a produção de petróleo e gás, incluindo o projeto petrolífero Willow, no Alasca.
“Acho que Biden está fazendo tudo o que pode”, diz o professor Victor.
“Ele fez promessas ousadas de reduzir as emissões que quase certamente não cumpriremos. Mas não há dúvida de que sua administração fez mais em matéria de política climática do que qualquer outra na história.”
Fonte: correiobraziliense
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