A Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta sobre o sedentarismo que acomete o globo. Um estudo da instituição revela que quase um terço dos adultos (31,3%), o equivalente a 1,8 bilhão de pessoas, não pratica atividade física suficiente, o que prejudica a saúde física e mental. A estimativa, detalhada na revista The Lancet Global Health, é a maior desse tipo realizada até hoje.
"A inatividade física é uma ameaça silenciosa à saúde global e, infelizmente, não está na direção certa", afirmou Ruediger Krech, diretor de Promoção da Saúde da OMS, apontando para uma tendência "contrária às esperanças".
Se a tendência atual continuar, os índices de insuficiência de exercícios vão atingir 35% em 2030, segundo os pesquisadores. O objetivo mundial de reduzi-los em 15% até esse mesmo ano está cada vez mais longe. Para uma boa saúde, a OMS recomenda que os adultos pratiquem ao menos 150 minutos semanais de atividade moderada, ou 75 minutos de práticas mais intensas, como corrida e esportes coletivos. Também pode haver uma combinação equivalente dos dois tipos.
O sedentarismo eleva as chances de problemas cardiovasculares, diabetes tipo 2 e de alguns tumores, como de mama e de cólon, além de transtornos mentais, lembrou Krech. Além do impacto individual, não se movimentar representa "um encargo financeiro para os sistemas de saúde", afirmou Leanne Riley, do Departamento de Doenças não Transmissíveis da OMS.
Carlos Rassi, coordenador do Centro de Cardiologia Sírio-Libanês, em Brasília, frisa que sedentarismo já está impactando muito os sistemas de saúde. "Pois aumenta a incidência de várias queixas e doenças que poderiam ser evitadas ou pelo menos teriam a incidência diminuída com a prática de atividade física."
Renata Figueiredo, presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr), destaca que ser ativo fisicamente promove ainda uma sensação de bem-estar, diminui a percepção de dor, e melhora a qualidade do sono.
"A atividade física serve como uma distração eficaz do estresse diário. A prática regular de exercícios, especialmente aqueles coletivos, como esportes, facilita a socialização e pode atenuar sentimentos de solidão. Manter uma rotina ativa desempenha um papel importante na proteção e melhoria das funções cognitivas, prevenindo a neurodegeneração, um aspecto particularmente relevante à medida que envelhecemos."
Mais de 50% dos adultos dos Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Cuba, Líbano, Coreia do Sul, Panamá, Catar, Iraque, Portugal, Arábia Saudita, são considerados muito sedentários. Esse número fica abaixo de 10% em 15 países da África Subsariana, em nações ocidentais ricas, na Oceania e no sul da Ásia.
A falta de atividade física afeta mais as mulheres, 33,8%, do que os homens, 28,7%.
Para virar o cenário e fazer a realidade andar na direção oposta, não basta modificar os comportamentos individuais, é necessário mudar as sociedades e criar ambientes, especialmente nas cidades, mais abertos à atividade física e o trabalho menos sedentário, afirmam os especialistas.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, apelou para "priorizar medidas ousadas, incluindo políticas públicas e aumento do financiamento para reverter essa tendência preocupante". Globalmente, os pesquisadores apontam alguns sinais de melhora. Quase metade dos países fizeram progressos na última década, e 22 parecem estar no caminho para atingir o objetivo global de reduzir o sedentarismo até 2030, caso sigam no ritmo.
Tácio Santos, professor de educação física do Centro Universitário (CEUB) de Brasília, diz que a compreensão sobre aptidão física relacionada à saúde, engloba quatro componentes principais: condição cardiorrespiratória, composição corporal, força muscular e flexibilidade. "Os dois primeiros estão associados à proteção contra fatores de risco para doenças cardiometabólicas, como hipertensão, derrame, infarto e condições metabólicas, como diabetes."
Os demais componentes envolvem não apenas autonomia para realizar atividades diárias, mas também a capacidade de explorar diversas formas de atividade física, seja esportiva, de lazer, ou seja rotineira. "Além disso, a saúde funcional está relacionada a um menor risco de dores crônicas, como a lombar, e lesões não traumáticas em várias situações cotidianas", afirmou Santos.
Paula Fabrega, endocrinologista do Sírio-Libanês, em Brasília, ressalta que a atividade física deve ser incentivada desde a infância. "Por volta dos 40, 50 anos, é importante fazer algo como uma 'poupança muscular', ganhar mais massa magra para esse período em que há queda de hormônios. De 150 a 300 minutos, é o recomendado. Incentivamos a contagem de passos para quem consegue. Manter acima de 6 mil ajuda."
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