Embora o uso de tabaco esteja diminuindo entre adultos nos Estados Unidos, o de cannabis está aumentando.
As leis e políticas que regulam o uso de tabaco e cannabis também estão seguindo direções diferentes.
As políticas de tabaco estão se tornando mais restritivas, com proibições de fumar em lugares públicos e limites nas vendas, como proibições estaduais de produtos com sabores.
Em contraste, mais Estados estão legalizando a cannabis para uso médico ou recreativo, e há esforços para permitir exceções para a cannabis nas leis contra o fumo.
No Brasil, o STF esclareceu em junho de 2024 a distinção legal entre usuário e traficante, estabelecendo que a posse de até 40 gramas de maconha não deve ser considerada crime e que o usuário deve apenas receber uma advertência.
Essas mudanças significam que um número crescente de pessoas está propenso a ser exposto à fumaça da cannabis. Mas o quanto essa fumaça da cannabis, inalada diretamente ou de forma passiva, faz mal?
Sou médica de atendimento primário e pesquisadora em um Estado americano onde a cannabis agora é legal para uso médico e recreativo.
Eu e meus colegas estávamos interessados em como as opiniões sobre a segurança da fumaça do tabaco e da cannabis têm mudado durante esse período de crescente uso e comercialização da cannabis.
Em nossa pesquisa com mais de cinco mil adultos nos EUA em 2017, 2020 e 2021, constatamos que as pessoas estão cada vez mais acreditando que a exposição à fumaça da cannabis é mais segura do que a do tabaco.
Em 2017, 26% das pessoas achavam que era mais seguro fumar um baseado de cannabis do que um cigarro diariamente. Em 2021, mais de 44% escolheram a cannabis como a opção mais segura.
As pessoas também eram mais propensas a classificar a fumaça passiva da cannabis como "completamente segura" em comparação com a do tabaco, mesmo para grupos vulneráveis, como crianças e mulheres grávidas.
Apesar dessas opiniões, pesquisas recentes levantam preocupações sobre os efeitos da exposição à fumaça da cannabis na saúde.
Décadas de pesquisa e centenas de estudos associaram a fumaça do tabaco a múltiplos tipos de câncer e doenças cardiovasculares.
No entanto, há muito menos estudos sobre os efeitos a longo prazo da fumaça da cannabis. Como a cannabis ainda é ilegal no nível federal, é mais difícil para os cientistas estudá-la.
Tem sido particularmente difícil estudar resultados de saúde que podem levar muito tempo e mais exposição para se desenvolverem.
Revisões recentes da pesquisa sobre a cannabis e o câncer ou doenças cardiovasculares consideraram esses estudos inadequados porque incluíram relativamente poucas pessoas com exposição intensa, não acompanharam as pessoas por tempo suficiente ou não levaram em consideração adequadamente o tabagismo.
Muitos defensores da maconha apontam para a falta de descobertas claras sobre os efeitos negativos da exposição à fumaça da cannabis como prova de que ela seria inofensiva.
No entanto, eu e meus colegas acreditamos que este é um exemplo da famosa citação científica de que "ausência de evidência não é evidência de ausência".
Cientistas identificaram centenas de produtos químicos presentes tanto na fumaça da cannabis quanto na do tabaco, muitos dos quais são carcinogênicos e tóxicos.
A combustão do tabaco e da cannabis, seja por meio do fumo ou de vaporizadores de ervas, também libera partículas que podem ser inaladas profundamente nos pulmões e causar danos aos tecidos.
Estudos em animais sobre os efeitos da fumaça passiva do tabaco e da cannabis mostram efeitos preocupantes semelhantes no sistema cardiovascular, incluindo comprometimento da dilatação dos vasos sanguíneos, aumento da pressão arterial e redução da função cardíaca.
Embora mais pesquisas sejam necessárias para determinar o risco de câncer de pulmão, ataques cardíacos e derrames causados pela fumaça da cannabis, o que já se sabe tem gerado preocupações entre as agências de saúde pública.
A forma como as pessoas percebem a segurança da cannabis tem implicações importantes para o seu uso e para as políticas públicas.
Pesquisas mostram que as pessoas tendem a usar mais o que acreditam ser menos arriscado.
As opiniões sobre a segurança da cannabis também moldarão as leis de uso médico e recreativo da cannabis e outras políticas, como se a fumaça da cannabis será tratada como a fumaça do tabaco ou se exceções serão feitas nas leis de ambientes livres de fumo.
Parte da complexidade nas decisões sobre o uso da cannabis reside no fato de que, ao contrário do tabaco, ensaios clínicos demonstraram que a cannabis pode ter benefícios em certos contextos.
Isso inclui o manejo de tipos específicos de dor crônica, a redução de náuseas e vômitos associados à quimioterapia e o aumento do apetite e ganho de peso em pessoas com HIV/AIDS.
Vale ressaltar que muitos desses estudos não se basearam na cannabis fumada ou vaporizada.
Infelizmente, embora uma busca na internet sobre maconha retorne milhares de resultados sobre os benefícios para a saúde da cannabis, muitas dessas alegações não são respaldadas pela pesquisa científica.
Eu peço às pessoas que desejam aprender mais sobre os potenciais benefícios e riscos da cannabis que conversem com profissionais de saúde ou busquem fontes que apresentem uma visão imparcial das evidências científicas.
O National Center for Complementary and Integrative Health oferece uma boa visão geral dos estudos sobre a cannabis (em inglês) para o tratamento de várias condições médicas, bem como informações sobre os possíveis riscos.
* Este texto foi originalmente publicado em setembro de 2023 e republicado em junho de 2024
*Beth Cohen é professora de Medicina na Universidade da Califórnia, San Francisco
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).
Fonte: correiobraziliense
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