23 de Novembro de 2024

Ucrânia: Otan anuncia envio de caças a Kiev e apoio àdesão


A Ucrânia está mais perto de fazer parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e de receber os primeiros caças F-16 prometidos pelo Ocidente — as aeronaves são consideradas importantes para que o país conquiste a supremacia aérea ante a invasão russa. "Seguiremos apoiando (a Ucrânia) em seu caminho irreversível rumo à plena integração euro-atlântica, incluindo a adesão à Otan", afirmaram os 32 países na declaração final da cúpula da aliança, em Washington. Ao mesmo tempo, a Otan anunciou que liberará mais US$ 40 bilhões (ou R$ 216 bilhões) em ajuda para a ex-república soviética comandada por Volodymyr Zelensky. "Os aliados se comprometem a fornecer um financiamento mínimo de 40 bilhões de euros no próximo ano e manter níveis sustentáveis de assistência em segurança para ajudar a Ucrânia a alcançar a vitória", afirma o mesmo texto, segundo o qual "a Rússia continua sendo a ameaça mais significativa e direta à segurança dos aliados".

"Durante a cúpula, foram tomadas novas medidas para fortalecer nossa dissuasão e defesa, além de reforçar nosso apoio de longo prazo à Ucrânia para que possa prevalecer na guerra contra a Rússia", acrescenta a declaração final, que também acusa a China de ter se tornado um facilitador decisivo da guerra da Rússia contra a Ucrânia. 

Os caças F-16 começaram a ser enviados para Kiev, a partir da Dinamarca e da Holanda. "Podemos defender — e defenderemos — cada centímetro do território da Otan juntos", disse o presidente dos Estados Unidos e anfitrião da cúpula, Joe Biden, ao Conselho do Atlântico Norte — o órgão decisório da aliança, reunido em Washington. Zelensky comemorou a primeira remessa das aeronaves de combate e assegurou que elas aproximam a Ucrânia "de uma paz justa e duradoura". No entanto, criticou a demora dos EUA e de outros países de liberarem ajuda financeira. "É hora de sair das sombras, tomar decisões firmes, trabalhar, agir e não esperar por novembro ou qualquer outro mês", declarou, ao mencionar as eleições presidenciais norte-americanas, em 5 de novembro. 

A Bélgica e a Noruega também se comprometeram a contibuir com caças. A previsão é que os caças comecem a voar o espaço aéreo ucraniano durante o verão (até o fim de agosto). Citado pela agência de notícias Tass, o vice-chanceler russo, Andrey Rudenko, menosprezou a cúpula da Otan e disse não esperar  "surpresas" do evento, a não ser uma escalada das tensões. Em outro desdobramento, a Polônia anunciou que planeja reforçar a presença militar e os sistemas de defesa nas fronteiras com Belarus e o enclave russo de Kaliningrado, fronteira oriental da União Europeia e da Otan. "Atualmente, existem cerca de 6 mil soldados, mas a longo prazo serão até 17 mil, com 8 mil no local e 9 mil na reserva", prontos para serem mobilizados em 48 horas, formando "uma força de reação rápida na fronteira", explicou o chefe do Estado-Maior do Exército Polonês, general Wieslaw Kukula.

Segundo Anton Suslov, especialista da Escola de Análise Política (em Kiev), os ucranianos têm aguardado os caças F-16 há muito tempo. "O periodo de espera está diretamente ligado ao treinamento de pilotos ucranianos e de pessoal de serviço. Finalmente, as primeiras equipes de pilotos completaram a preparação, então, esperamos que os caças cheguem logo", afirmou ao Correio. "O terrível recente ataque de mísseis russos, que matou mais de 30 civis e ameaçou dezenas de crianças em um hospital da capital, provou a necessidade de fortalecimento da defesa aérea, o que inclui os caças F-16."

Por sua vez, Petro Burkovsky — analista da Fundação de Iniciativas Democráticas Ilko Kucheriv (em Kiev) — lembrou que os caças F-16 são caças de quarta geração capazes de transportar mísseis ar-ar e impedir que os bombardeiros russos se aproximem do espaço aéreo ucraniano e lancem bombas guiadas sobre Kharjkiv, a segunda maior cidade do país. "Os caças também podem conduzir missões para suprimir a artilharia russa e a defesa aérea na chamada 'ponte terrestre' entre a Rússia e a Ucrânia, e perturbar gravemente a logística russa com a Crimeia. Com certeza, não mudam o jogo, mas serão fundamentais para nivelar o campo de jogo e impedir novos avanços russos na região do Donbass (leste)" , disse à reportagem. "Cabe ao comando supremo decidir o papel que essas aeronaves desempenharão na guerra."

Para Burkovsky, a declaração final dos 32 países-membros da Otan, com menção a uma possível adesão da Ucrânia, foi redigida com o objetivo de impedir que Donald Trump, caso eleito, barganhe com Putin sobre as escolhas de política externa de Kiev. "É um sinal de que os aliados não deixarão de apoiar a Ucrânia com armas. Isso torna a levantar dúvidas sobre a capacidade da Rússia de prosseguir com a guerra pelos próximos 13 meses", observou. Ele acrescentou que o ataque recente a um hospital infantil, em Kiev, aumentou a revolta popular na Ucrânia. "Mesmo antes dessa ofensiva, de acordo com a nossa sondagem nacional, 60% dos ucranianos entrevistados disseram que interpretavam o controle de todos os territórios ocupados pela Rússia como uma vitória na guerra. Outros 40% disseram que a vitória seria a destruição completa do Exército russo", acrescentou Burkovsky. 

Vladyslav Faraponov, analista da Internews Ukraine e diretor do Instituto de Estudos Americanos (em Kiev), disse ao Correio que avalia a questão dos caças prometidos pela Otan "de modo muito prático". "Saber que eles estão a caminho em 2024, após dois anos de pedidos, é um grande alívio. No entanto, é um grande problema para a Ucrânia que somente cheguem agora. A Rússia adaptou-se a esse fato."

Fonte: correiobraziliense

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