Um novo relatório publicado pelas Nações Unidas estima que a população mundial deve aumentar nas próximas décadas, dos atuais 8,2 bilhões para cerca de 10,3 bilhões de pessoas.
Publicado em 11 de julho (Dia Mundial da População), o estudo World Population Prospects ("Perspectivas da população mundial", em tradução livre) prevê este ano que o número de pessoas do planeta "atingirá seu ponto mais alto em meados da década de 2080 e começará a diminuir gradualmente em seguida".
Há mais de meio século, a ONU elabora projeções periódicas da população mundial, combinando dados dos censos nacionais dos Estados membros, taxas de natalidade e mortalidade e outras pesquisas demográficas.
Mas será que podemos confiar nesses números?
"Calcular o número de pessoas que existem neste planeta é uma ciência inexata", declarou à BBC o demógrafo Jakub Bijak, economista e professor da Universidade de Southampton, no Reino Unido.
Bijak reconhece que, quando prevemos números populacionais, a única certeza que temos é a falta de certeza.
"Não temos bola de cristal", destaca Toshiko Kaneda, especialista em previsões demográficas da organização de pesquisa Population Reference Bureau, de Washington DC, nos Estados Unidos.
Mas isso não significa que os demógrafos estejam tirando números da cartola, quando o assunto são as estimativas populacionais e suas projeções futuras.
"É uma tarefa difícil, baseada na nossa experiência, conhecimento e em cada informação a que temos acesso", explica Kaneda. "É complicado."
Os demógrafos atualizam suas projeções constantemente. Neste ano, por exemplo, a ONU estima que, até 2100, a população mundial será 6% menor do que as previsões feitas uma década atrás.
Apesar desses frequentes ajustes, os dados demográficos são importantes para que os governos e outras instituições públicas possam tomar decisões sobre o futuro.
Isto posto, o que nos dizem os últimos números da ONU?
O estudo Perspectivas da População Mundial 2024 afirma que "uma em cada quatro pessoas de todo o mundo vive em um país cuja população já atingiu seu ponto máximo".
Mesmo assim, 126 países e territórios ainda verão sua população crescer por mais três décadas. Eles incluem algumas das nações mais populosas do mundo, como Índia, Indonésia, Nigéria, Paquistão e Estados Unidos.
No Brasil, o índice de crescimento populacional atual é de 0,41% ao ano, segundo o relatório da ONU.
Outra conclusão importante deste novo relatório é que a expectativa de vida mundial voltou a aumentar, após uma ligeira redução durante a pandemia de covid-19.
Mundialmente, as pessoas nascidas hoje viverão, em média, 73,3 anos – um aumento de 8,4 anos desde 1995.
"Prevê-se que novas reduções da mortalidade resultem em longevidade média mundial de cerca de 77,4 anos em 2054", segundo o relatório.
Os dados da ONU indicam que, no Brasil, a expectativa de vida no nascimento atualmente é de 75,8 anos.
O crescimento demográfico apresenta grandes variações em diferentes partes do mundo.
Alguns países, como Angola, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Nigéria e Somália, sofrerão rápido aumento do número de nascimentos nos próximos 30 anos. Espera-se que a população destes países seja duplicada.
Mas o relatório da ONU indica que, em algumas partes do mundo, a imigração é o maior impulsionador do crescimento demográfico.
Em 19 países em que a população já chegou ao seu pico – incluindo a Alemanha, Japão, Itália, Rússia e Tailândia –, os dados demonstram que a população teria atingido esse ponto anteriormente, em nível mais baixo, se não houvesse a imigração.
Segundo o relatório, espera-se que a imigração "contribua para o crescimento contínuo da população em vários países, que devem atingir seu nível máximo após 2054. Estes países incluem Austrália, Canadá, Catar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos."
"A migração vem ganhando cada vez mais força como mecanismo de redistribuição de pessoas no planeta", afirma Bijak, "mas a maioria dos países não faz nenhum acompanhamento dos migrantes ou verifica apenas uma vez a cada década, durante os censos populacionais, com alcance muito limitado."
O professor explica que existem países que empregam pesquisas ou registros populacionais, "mas são uma minoria – principalmente os países mais desenvolvidos da Europa, América do Norte, Austrália e Nova Zelândia".
Ele acrescenta que algumas nações estão tentando utilizar fontes alternativas de dados, "como os localizadores dos telefones celulares, mas esta metodologia ainda precisa amadurecer até se tornar confiável; precisamos compreender melhor estes dados".
Para Kaneda, acompanhar os padrões migratórios vale a pena, pois eles podem se alterar com muito mais rapidez do que as taxas de fertilidade.
"A migração pode mudar da noite para o dia devido a desastres naturais ou guerras", explica a especialista. "No caso da taxa de fertilidade, mesmo em um país que detenha os dados mais baixos hoje e considerando que ela nunca irá baixar para zero, este dado não se altera com tanta rapidez."
Mas a migração internacional não deve ser considerada uma solução mágica, segundo Clare Menozzi, chefe da Seção de Análise Demográfica da Divisão de População das Nações Unidas.
Ela explica que, isoladamente, a migração "não pode compensar a redução, nem o envelhecimento da população a longo prazo, e não deve ser considerada uma 'solução' para o que, em última instância, é um processo universal e irreversível: a transição demográfica".
A prática de contar ou pesquisar a população em um censo, para atualizar e direcionar as políticas nacionais, tem uma longa história.
Acredita-se que o surgimento dos demógrafos remonte ao ano 4 mil a.C., quando o Império da Babilônia na Mesopotâmia (hoje, território pertencente ao Iraque) realizou o primeiro censo conhecido.
Desde então, a tecnologia dos censos aumentou imensamente, mas não parece ter facilitado o trabalho dos demógrafos.
Toshiko Kaneda afirma que a capacidade de um país de coletar dados mais precisos, mesmo em nações muito desenvolvidas como os Estados Unidos, "enfrenta desafios, como a crescente desconfiança no governo e preocupações com a privacidade".
A especialista destaca que as organizações de coleta de dados do mundo desenvolvido vêm sofrendo cortes orçamentários. E o enorme custo e complexidade da coleta de dados sobre a população representa um desafio ainda maior para os países pobres e menos desenvolvidos.
Mas a ONU alerta que "cada dólar investido no fortalecimento dos sistemas de dados gera 32 dólares em benefícios econômicos".
A ONU também recomenda prioridade na coleta de dados nas comunidades mais vulneráveis do mundo: "por exemplo, os lugares com a pior qualidade de dados sobre mães adolescentes (de 15 a 19 anos) são as regiões em que o parto entre as adolescentes é mais comum".
O relatório Perspectivas da População Mundial chegou este ano à sua 28ª edição. Ele traz estimativas e projeções oficiais de população da ONU.
Esta avaliação tem como base os resultados de mais de 1,7 mil censos nacionais de população realizados entre 1950 e 2023, além das informações dos sistemas de registro civil e de 2.890 pesquisas nacionalmente representativas, realizadas por amostragem.
O Instituto de Medição e Avaliação da Saúde (IHME, na sigla em inglês) da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, e o Instituto Internacional de Análise Aplicada de Sistemas IIASA-Centro Wittgenstein de Viena, na Áustria, são os outros organismos importantes que realizam projeções da população mundial.
Fonte: correiobraziliense
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