A postura mais firme e a fala fluida de Joe Biden durante a entrevista coletiva de quinta-feira não foram suficientes para estancar a sangria de sua campanha à reeleição. Nas últimas horas, aumentaram os pedidos, entre congressistas aliados, para que o presidente dos Estados Unidos abandone a disputa. A apenas 37 dias da Convenção Nacional Democrata, em Chicago, a insistência de Biden em permanecer na corrida eleitoral — aliada a recentes gafes — elevou a tensão em Washington, principalmente entre assessores de Biden.
"Por favor, passe a tocha a um dos muitos líderes democráticos capazes, para que tenhamos chance de derrotar Donald Trump, a maior ameaça enfrentada por este país", pediu a deputada democrata Brittany Petersen, a 18ª congressista a demonstrar insatisfação pública. Por sua vez, o também deputado governista Mike Levin, da Califórnia, admitiu que "chegou a hora para o presidente Biden passar a tocha".
Um grupo dos principais doadores de Biden decidiu congelar US$ 90 milhões (ou R$ 489 milhões) em recursos para a campanha enquanto o presidente permanecer na corrida pela Casa Branca. Por sua vez, o governador democrata do Colorado, Jared Polis, admitiu que o debate sobre a viabilidade da candidatura permanece "legítimo", um dia depois da entrevista de Biden. O líder da minoria democrata na Câmara dos Deputados, Hakeem Jeffries, se reuniu com o chefe de Estado, na noite de quinta-feira, mas não ofereceu endosso à candidatura, segundo a imprensa norte-americana. Jeffries disse que compartilhou com Biden "persectivas sinceras e conclusões sobre o caminho (da campanha democrata) a ser seguido". Pouco antes, o deputado democrata Greg Stanton pediu a Biden que, "pelo bem da democracia norte-americana e em prol de progresso nas prioridades compartilhadas", renuncie como candidato.
Apesar da pressão, Biden manteve os compromissos de campanha: na noite desta sexta-feira (12), ele visitou Detroit, no estado do Michigan. Na próxima semana, fará escalas no estados do Texas, republicano, e Nevada. Na quinta-feira (11), com 57 minutos de atraso e pouco depois de chamar o presidente ucraniano, Volodymy Zelensky de (Vladimir) Putin, Biden confundiu o nome da própria vice, Kamala Harris, com o do adversário republicano Donald Trump. O presidente francês, Emmanuel Macron, saiu em defesa do colega norte-americano, ao fim da cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). "Todos nós temos lapsos às vezes", disse.
Depois de desafiar Biden a um novo debate e a uma partida de golfe valendo US$ 1 milhão, Trump exortou o democrata a se submeter a um exame de faculdades mentais. "Joe deveria, imediatamente, fazer um teste cognitivo, e eu irei com ele, também o farei", prometeu. "Pela primeira vez, seremos um time e faremos isso pelo bem do país. A partir de agora, todos os candidatos presidenciais deveriam ser obrigados a se submeter a um teste cognitivo e de aptidão, independentemente de sua idade."
Segundo o jornal The New York Times, estados historicamente democratas — como New Hampshine, Minnesota e Virginia — temem que a não desistência de Biden os transforme em chamados "swing states", onde nenhum partido ou candidato detém maioria absoluta nas intenções de voto. Em entrevista ao Correio, Allan Lichtman, historiador político da American University (em Washington), acusou os democratas que pedem a desistência de Biden de adotarem um comportamento "totalmente autodestrutivo". "Eles estão fazendo o jogo de Trump, ao criticar publicamente o presidente em exercício e o candidato eleito do partido. Os republicanos não têm princípios para se unirem atrás de um criminoso condenado, mentiroso inveterado e autoritário", afirmou. "Espero que Biden resista e prossiga com a campanha."
Na entrevista coletiva de quinta-feira, Biden negou que o plano de reeleição esteja associado a uma tentativa de deixar um legado ao fim de seu mandato. E tratou de amainar as pressões dentro do Partido Democrata. "Sou a pessoa mais qualificada para concorrer à Presidência. (...) Estou nisso para completar o trabalho que comecei", declarou.
"Os democratas não têm coragem de lançar Joe Biden debaixo do ônibus sob o primeiro sinal de adversidade. Os aliados que pedem a desistência do presidente, caso bem-sucedidos, recriariam as mesmas condições que levaram à eleição de Trump em 2016: um assento aberto, sem nenhum presidente concorrendo e uma disputa partidária. Desde a virada do século 20, nenhum partido no poder conseguiu ser reeleito nessas condições."
Allan Lichtman, historiador político da American University (em Washington)
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