22 de Novembro de 2024

Como teorias da conspiração e ódio dominaram redes sociais após ataque a Trump


“Encenação”.

Poucos minutos após a notícia da tentativa de assassinato do ex-presidente Donald Trump, essa palavra esteve em alta no X (antigo Twitter) nos Estados Unidos.

É uma palavra que se tornou sinônimo de teorias da conspiração comumente usada nas redes sociais, muitas vezes para lançar dúvidas sobre um ataque ou tiroteio.

E nas últimas 24 horas, as publicações na rede foram tomadas por postagens cheias de especulações, ódio e diferentes afirmações sem evidências, que acumularam milhões de visualizações no X.

As tentativas de assassinato de presidentes dos EUA foram, no passado, ímãs para conspiração - o assassinato de John F. Kennedy em novembro de 1963, o mais famoso. Este foi o primeiro a acontecer em tempo real, por isso não é surpreendente que tenham surgido rumores infundados.

Mas o que se destacou foi a forma como isso tomou conta de todos os lados do espectro político.

Não se limitou a grupos de apoiadores políticos. Em vez disso, foi ativamente recomendado na própria rede social na aba "para você", que indica conteúdos, enquanto os usuários tentavam entender o que havia acontecido.

E muitas vezes foi postadas por usuários que pagam pelo "selo azul", ferramenta que dá mais destaque às postagens.

Como sempre, as teorias da conspiração às vezes começavam com questões legítimas e confusões. Elas se concentraram em supostas falhas de segurança, com muitos usuários perguntando, compreensivelmente, como o incidente poderia ter acontecido.

Como o atirador conseguiu chegar ao telhado? Por que ele não foi parado?

Nesse vácuo surgiu uma onda de descrença, especulação e desinformação.

“Parece muito encenado”, dizia um post no X que acumulou um milhão de visualizações. “Ninguém na multidão está correndo ou em pânico. Ninguém na multidão ouviu uma arma de verdade. Eu não confio nisso. Eu não confio nisso."

O perfil diz que se baseia na costa sudoeste da Irlanda. Desde então, a publicação recebeu uma nota da comunidade, que surge quando leitores questionam determinado post, no qual foi indicado que o tiroteio foi real.

Depois que mais imagens e depoimentos de dentro e de fora do comício foram compartilhados, o pânico e o medo daqueles que estavam presentes tornaram-se muito claros.

As conspirações foram agravadas pelas imagens extraordinárias que surgiram desde as fotos iniciais. Em particular, uma fotografia amplamente elogiada, tirada pelo fotógrafo-chefe da Associated Press em Washington, Evan Vucci, que mostra Trump, com o punho erguido, sangue no rosto e na orelha, com a bandeira dos EUA ao fundo.

Uma conta do YouTube com sede nos EUA disse que a imagem era “perfeita demais” e descreveu como eles conseguiram “a bandeira posicionada perfeitamente e tudo mais”. A postagem no X alcançou quase um milhão de visualizações – mas foi posteriormente excluída pela pessoa que a compartilhou. É importante se corrigir se você estiver errado, disseram em uma postagem separada.

Outros apontaram que, no momento em que os tiros foram disparados, Trump levantou a mão no palco. Eles usaram isso para sugerir que o evento foi armado, ainda que não haja qualquer evidência para apontar isso.

“Encenado para obter simpatia? Você não pode confiar nada nessas pessoas e não, não vou orar por ele”, escreveu um usuário que mora nos EUA.

Muitas das postagens mais virais, incluindo esta, vieram de usuários de tendência à esquerda que compartilham regularmente suas opiniões anti-Trump. Eles já tinham centenas de milhares de seguidores antes do incidente – e, portanto, um alcance significativo.

O que se desenrolou no X também saiu das páginas do manual da teoria da conspiração, aperfeiçoado nas redes sociais por ativistas empenhados que negam a realidade de quase tudo, incluindo a pandemia de covid-19, guerras, tiroteios em massa e ataques terroristas.

Uma postagem de uma conta baseada nos EUA com histórico de compartilhamento de afirmações infundadas como esta escreveu: “Este é o preço que você paga quando derruba a elite dos pedófilos satânicos”.

Aludiam à teoria da conspiração QAnon, que sugere que Trump está travando uma guerra secreta contra um Estado profundo – uma coligação sombria de serviços de segurança e inteligência, escondida da vista de todos, que procura frustrar todos os movimentos do ex-presidente.

Sem qualquer prova que apoiasse a ideia, sugeriram então que a “ordem” para o assassinato “provavelmente veio da CIA” e acusaram Barack Obama, Hillary Clinton e Mike Pence de estarem envolvidos. Não há evidências que apoiem nada disso – mas a postagem foi vista 4,7 milhões de vezes.

É um padrão familiar, mas a verdadeira mudança aqui é como esse tipo de linguagem está sendo amplamente utilizada pelos usuários médios das redes sociais. Não se trata apenas de pessoas que não gostam de Trump, sugerindo que isso foi encenado, mas também de pessoas que o apoiam, alegando que isso faz parte de uma ampla teoria da conspiração.

Políticos eleitos também se envolveram nisso. O congressista Mike Collins, republicano na Geórgia, postou que “Joe Biden enviou as ordens”. Ele fez referência a um comentário que o presidente Biden fez no início da semana sobre colocar “Trump no alvo”, referindo-se à batalha eleitoral.

Há perguntas legítimas sobre a linguagem usada para descrever Trump por outros políticos e meios de comunicação, bem como online, o que alguns dos apoiadores de Trump argumentam que inflou as tensões e contribuiu para esta tentativa de assassinato. Mas sugerir que isso foi ordenado por Biden é uma proposta totalmente diferente.

A postagem de Collins tem mais de 6 milhões de visualizações no X – mas desde então foi rotulada com uma nota da comunidade, que diz que não há evidências de que Biden estivesse envolvido de alguma forma. O alerta ainda acrescenta que a sua observação sobre o termo “no alvo” foi tirada do contexto.

Tentativas incorretas de identificar o atirador alimentaram as várias narrativas sem evidências.

Antes de o FBI nomear o atirador como Thomas Matthew Crooks, de 20 anos, que foi baleado e morto pelo Serviço Secreto, as reputações de outras pessoas estavam sendo prejudicadas.

Como o comentarista de futebol Marco Violi, que postou no Instagram no meio da noite vindo da Itália para dizer que tinha visto as alegações totalmente falsas de que ele era membro da Antifa – abreviação de antifascismo, uma afiliação vaga de ativistas principalmente de extrema esquerda – e estava por trás do ataque.

Essas falsas alegações tiveram milhões de visualizações em X e ele tentou esclarecer as coisas no Instagram.

No X, ativistas políticos de diferentes segmentos e apoiadores rapidamente se acomodaram em suas próprias bolhas, lendo postagens recomendadas pelo algoritmo do site, que confirmavam o que já pensavam. O resto do público lutou para evitar esse poço profundo de conspiração e especulação.

Este foi um teste para o novo Twitter de Elon Musk - e é difícil dizer que o site passou com louvor.

As outras redes sociais não foram inundadas da mesma forma, talvez devido ao seu público-alvo e à reputação de X como sede do discurso político.

O X não respondeu ao pedido de resposta da BBC.

Fonte: correiobraziliense

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