23 de Novembro de 2024

'EUA acreditam ser donos de todos os recursos naturais do mundo', diz Evo Morales


Na manhã de quarta-feira (10/7), a Praça Abaroa, uma das principais de La Paz, capital da Bolívia, estava lotada e dividida.

De um lado, "evistas" entoavam cantos de apoio ao ex-presidente Evo Morales, que havia pouco tempo tinha chegado à sede do Tribunal Supremo Eleitoral, em frente ao local.

Do outro lado estavam os "arcistas", apoiadores do atual presidente da Bolívia, Luis Arce, que vociferavam contra o outro grupo.

Em um dado momento, as agressões verbais se transformaram em pedradas e foi preciso que a polícia interrompesse o conflito.

Há poucos anos, essa cena seria impensável. Arce, afinal, foi ministro de Finanças de Morales entre 2006 e 2019. Em 2020, Arce chegou à Presidência com o apoio de Morales.

Mas a aliança acabou em 2021. No país, o motivo dado para o rompimento é a nova empreitada política de Morales: chegar à Presidência novamente.

Evo Morales é o principal líder de esquerda da Bolívia e um dos nomes mais conhecidos da política sul-americana. Líder indígena e cocaleiro, foi eleito presidente em 2005 e foi reeleito duas vezes.

Foi justamente sua última reeleição, em 2019, que levou o país a uma crise política e que fez com que ele renunciasse ao cargo e partisse para o exílio na Argentina.

No cerne da crise estava a polêmica manobra judicial que permitiu que ele tentasse um terceiro mandato. O cenário, porém, impõe desafios.

Em 2023, o Tribunal Constitucional Plurinacional da Bolívia decidiu que não é possível exercer mais de dois mandatos presidenciais, seja de forma consecutiva ou de forma descontínua.

Parte da opinião pública do país entende que a decisão impede Morales de disputar uma eleição novamente, uma vez que ele já foi eleito presidente três vezes.

Morales, no entanto, rebate a tese e diz que, tecnicamente, está "habilitado" e que lutará pelo direito de ser candidato novamente.

Mas ainda que vença uma futura disputa judicial pelo direito de disputar um novo mandato, ele terá que vencer um outro adversário: Luis Arce, a quem chama pelo apelido, Lucho.

Apesar de não dizer claramente que pretende disputar a reeleição, Arce tem feito críticas às tentativas de Morales de pleitear um novo mandato.

E foi em meio a esse cenário de tensão que o ex-presidente Evo Morales concedeu uma entrevista exclusiva à BBC News Brasil e à BBC News Mundo (serviço de notícias em espanhol da BBC), na sede do MAS (Movimiento al Socialismo), em La Paz.

Na entrevista, Morales comenta sua visão de um suposto plano dos Estados Unidos para dividir a esquerda boliviana, de olho nas reservas de lítio do país.

"O delito do povo boliviano é ter tantos recursos naturais [...] Esse é o nosso crime. Os Estados Unidos, por destino manifesto, acreditam ser donos de todos os recursos naturais do mundo", afirma.

O ex-presidente boliviano coloca em dúvida a versão dada pelo governo boliviano de que o país teria sido alvo de uma tentativa de golpe de Estado no dia 26 de junho.

Naquele dia, militares tentaram invadir a sede do governo boliviano, mas foram contidos e presos.

Para Morales, tudo não teria passado de um "autogolpe". "Se não é golpe ou autogolpe é um show bem encenado", disse Morales.

O ex-presidente critica a atuação de Arce na presidência e o acusa de "eleitoralizar o país" e de ter migrado para a direita.

"Lucho endireitou'", diz Morales.

Ainda segundo o ex-presidente boliviano, Arce não é mais um ativo da esquerda boliviana.

"Luis Arce, em vez de benefício, é uma fraqueza", afirmou.

O ex-presidente diz também que está disposto a disputar eleições primárias com Arce para que o MAS decida quem será o candidato do partido e diz acreditar que terá apoio popular para voltar ao cargo mais alto do país.

"Conhecendo meu povo, eles vão [impor] uma batalha dura para recuperar a revolução e salvar nossa querida Bolívia", afirma.

Confira os principais trechos da entrevista com Evo Morales.

BBC News Brasil - O Tribunal Constitucional Plurinacional da Bolívia decidiu no ano passado que não se pode ter mais de dois mandatos presidenciais na Bolívia. Mesmo assim, o senhor quer concorrer novamente? Por quê?

Evo Morales - A ação que apresentaram ao tribunal constitucional foi sobre a liberdade de expressão e não sobre a autorização [para disputar eleições] ou inabilitação [eleitoral].

Na parte resolutiva, não diz nada (...) portanto, não há decisão constitucional sobre a questão da inabilitação. Agora, segundo a Constituição, está dito: uma eleição e uma reeleição.

A [eleição] indefinida não está na Constituição, mas a descontínua está na Constituição. E agora, vamos nos basear na opinião consultiva.

O parecer consultivo da Corte Internacional de Direitos Humanos fala sobre a eleição indefinida, mas não da eleição descontínua. Ou seja: Evo [Morales], em nível nacional e internacional, está qualificado como candidato a presidente.

BBC News Brasil - Especialistas e o presidente Luis Arce dizem que sua condição política não lhe permite concorrer a uma outra candidatura à presidência e que esta candidatura seria um elemento de instabilidade política na Bolívia. Como o senhor responde àqueles que dizem que sua tentativa de chegar à presidência é um elemento de instabilidade política?

Morales - Primeiro, vamos falar legalmente e constitucionalmente. Estou demonstrando que, constitucionalmente, Evo está habilitado. Repito mais uma vez: uma eleição e uma reeleição. Mas a eleição descontínua não é proibida.

Agora, outra coisa é a opinião. Mas o povo decide isso.

Em 2005, vencemos as eleições (...) É claro que existem os chamados analistas políticos, que são de direita, e eles falam e comentam. Eu respeito.

Esta não é a primeira vez. Durante os tempos neoliberais, [diziam que] Evo era traficante de drogas, que era assassino, terrorista. E mesmo com essa campanha, vencemos. Agora, a história se repete.

BBC News Brasil - O senhor não tem medo de que essa instabilidade política possa levar a Bolívia à mesma situação de 2019?

Morales - Estou muito mais fortalecido, sabe por quê? Mesmo alguns que estavam no golpe de Estado [ele se refere à sua renúncia em 2019]... alguns da direita estão me procurando. E o que eles me dizem? Estão arrependidos.

Eles dizem: "Evo, quando você era presidente e nos dizia: isso sim, e isso não. E para onde você dizia, nós nos envolvemos e ganhamos dinheiro. Agora, estamos endividados."

BBC News Brasil - Vamos ao assunto do dia 26 de junho. O presidente Luis Arce disse que o que aconteceu foi uma tentativa de golpe, mas o senhor respondeu a esta versão e disse que possivelmente foi um autogolpe. Que provas o senhor tem para fazer essa acusação?

Morales - No dia 26 do mês passado, às 11h da manhã, alguns amigos militares me ligaram. Disseram: "Estão nos aquartelando". Eu disse a eles: "Me dê um raio-x ou [passe-me] os documentos [que comprovem]". Passaram 10 ou 15 minutos e eles me disseram: "É verbal".

Eu fui o primeiro a denunciar o aquartelamento suspeito das Forças Armadas.

Às duas da tarde, eu estava caminhando em minha propriedade para ver os peixes e vejo os tanques entrando na Praça Murillo.

Neste momento, preparei um tuíte declarando e convocando uma greve geral e o bloqueio das estradas nacionais para derrotar o golpe de Estado.

Continuei andando e quando me dei conta, o ministro do governo estava acariciando os tanques na Praça Murillo. Que tipo de golpe é esse? Fico surpreso.

Fico assistindo nas redes sociais, o golpista entra no Palácio Quemado e conversa com o presidente. Um ministro do governo está com um militar feliz, dando risadas. São as imagens.

BBC News Brasil - Mas o senhor acha que foi um autogolpe?

Morales - O que é isso? Comecei a duvidar. E eles [Luis Arce e o general Juan José Zúñiga] conversam e ele [Zúñiga] vai embora. Ele mesmo, general Zúñiga, disse que naquele domingo estava jogando basquete com seu amigo [Arce].

Infelizmente, Arce não respeitou a antiguidade e a institucionalidade ao nomear [Zúñiga como comandante das Forças Armadas]. Dos mais de 60 oficiais que ingressaram com ele [Zúñiga], ele era o número 48.

Como o número 48 vira general e comandante? Avisei ao ministro da Defesa. Disse ao ministro: "A antiguidade deve ser respeitada" (...) Ele me disse: "Não, a lealdade vem primeiro que a antiguidade" (...) Ele [Zúñiga] se considerava o general do povo.

Depois, ele vai e denuncia que estava acordado com Lucho para melhorar sua imagem (...) Se não é um golpe ou um autogolpe é um show bem encenado entre Lucho e Zúñiga. Estamos convencidos disso (...)

Tudo demonstra que se não é um golpe, é um autogolpe. Mas o certo é que houve um golpe na economia. O dólar disparou, há especulação total. O setor privado não quer investir. Há desconfiança dos organismos internacionais. É muito sério (...)

Que se investigue, que se saiba, mas tudo está bem planejado. Foi para elevar a imagem do Lucho? Será um verdadeiro golpe, uma tentativa de golpe? Ou será um autogolpe para se vitimizar?

BBC News Brasil - A grande maioria dos países da região demonstrou seu apoio ao presidente Luis Arce após o ocorrido em 26 de junho. O senhor acha que todos os presidentes, até mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que eles não estão bem informados sobre o que aconteceu?

Morales - Vejo isso como uma questão diplomática. Eles [os presidentes] expressaram solidariedade. Mas veja outro fato. Veja o golpe de 2019. Quem foi o promotor do golpe? A OEA [Organização dos Estados Americanos].

Na época, a embaixada dos Estados Unidos e o próprio [Donald] Trump aplaudiram o golpe de Estado de 2019 (...) Falei com vários colegas. Claro que não vão dizer que não é um golpe, repito, por questões diplomáticas.

BBC News Brasil - O presidente Lula fez uma viagem à Bolívia há dois ou três dias [Lula foi a Santa Cruz de La Sierra entre 8 e 9 de Julho] e deu seu apoio ao presidente Arce. Gostaria de saber se o senhor conversou com o presidente Lula nos últimos dias, principalmente depois do 26 de junho? O senhor se sente ignorado pelo presidente Lula?

Morales - Não tenho motivos para falar [com Lula]. Não tenho autoridade. Não procurei, nem procurarei, nenhum encontro.

Embora o presidente Lula tenha instruído seu ministro da Presidência a falar com os companheiros que estava em Santa Cruz [de La Sierra], mas eu não estava em Santa Cruz. Não tenho porquê procurá-lo.

Publicamente, digo que é um amigo, pode ser que me chame de "Evo".

Um dia, quando formos ex-presidentes, vamos conversar. Somos amigos, companheiros. Tenho muito respeito.

BBC News Brasil - Há especialistas, inclusive dentro do governo brasileiro [o Brasil é o maior comprador de gás natural produzido na Bolívia], que afirmam que a queda de produção de gás na Bolívia acontece porque o Estado boliviano não fez os investimentos necessários nos últimos anos para que a produção fosse mantida. Isso é, claro, algo que vai contra sua administração. O que aconteceu com os investimentos na exploração do gás?

Morales - Vou te resumir outra vez: quando chegamos, produzíamos 30 milhões de metros cúbicos de gás. Deixei o governo com produção de pelo menos 60 milhões de metros cúbicos de gás.

A renda petroleira, no tempo neoliberal, era de US$ 3 bilhões [R$ 16 bilhões]. Na nossa gestão, foi para US$ 40 bilhões.

Dizem que nos últimos dois anos [do seu governo] não encontrei nenhum outro campo de gás. Isto não é verdade.

Eu disse ao gabinete: se não encontramos gás, porque é um recurso natural não-renovável, dependermos totalmente de um recurso natural não-renovável não é bom para a economia de nenhum país do mundo. Eu perguntei: como você vai substituir essa economia do gás se não encontrarmos gás?

Tínhamos criado o Ministério da Energia. Exportar energia, vender energia ao Brasil, Argentina e outros países. Era um plano que tínhamos.

Chega Lucho e elimina o Ministério de Energia. Veja, quando cheguei ao governo, produzimos apenas 900 megawatts. A demanda interna era de 700 megawatts.

Em 2019, a demanda era de 1.500 megawatts, e a capacidade de produção era de 3.200 megawatts. Meu plano era gerar 9.000 megawatts para exportar.

BBC News Brasil - Presidente, há muitas pessoas, inclusive o senhor, que dizem existir interesses internacionais nas reservas de lítio. Recentemente, o senhor falou sobre um suposto plano dos Estados Unidos para dividir o MAS. Que provas o senhor tem desses interesses internacionais no lítio e na divisão da esquerda boliviana?

Morales - O delito do povo boliviano é ter tantos recursos naturais [...] ferro, lítio, hidrocarbonetos, terras raras. Os recursos naturais continuam a aparecer. Esse é o nosso crime. Os Estados Unidos, por destino manifesto, acreditam ser donos de todos os recursos naturais do mundo.

Os Estados Unidos pensam que, por destino manifesto, Deus os enviou para serem os policiais mundiais. Esse é o problema. Essa é a diferença que temos com o império.

Países que nacionalizam, que estabelecem a soberania econômica através da nacionalização dos seus recursos naturais…já entram na mira do império (...)

O golpe [de 2019] não foi só do gringo sobre o índio. Foi sobre o nosso modelo econômico. Com o nosso modelo econômico mostramos que a Bolívia tem muita esperança. Mas também foi, fundamentalmente, um golpe de Estado para o lítio.

Em outras palavras, nós passamos a industrializar o lítio (...) Nós deixamos uma fábrica de cloreto de potássio que gerava 300 mil toneladas por ano. Uma planta-piloto que gerou 1.000 toneladas de carbonato de lítio. E agora, tudo está completamente paralisado (...)

Por que digo que estamos na mira do império? (...) O movimento indígena por herança e por história é anticolonialista e anti-imperialista.

BBC News Brasil - Ontem [10/7], pessoas do mesmo campo político, vistas como marxistas, brigaram na praça. O senhor se sente responsável por esse clima de tensão na Bolívia?

Morales - Olha, os companheiros se mobilizaram quando souberam que eu tinha sido convidado [para uma reunião no Tribunal Supremo Eleitoral para debater o fim das eleições primárias e o calendário eleitoral de 2025], mas quem saiu [às ruas, pelo campo de Luis Arce]? Somente funcionários públicos.

Naquela noite, me informaram detalhes. Quem provoca [tensão]? É o governo usando seus funcionários públicos.

Levaram petardos, bazucas, tomates. Uma pequena equipe que eu tenho se infiltrou e estava com eles. Sabe o que disse um companheiro? Que os que não foram [à manifestação] seriam penalizados em um salário e multa.

E eu nunca fiz isso. [Do meu lado], as pessoas se mobilizaram voluntariamente.

BBC News Brasil - Mas a minha pergunta é: o senhor se sente responsável por esse clima de tensão que está acontecendo agora?

Morales - Mas como o governo… como pode usar seus funcionários para agredir militantes? Por favor! Ontem, uma ministra mentiu. Ela disse: "Uma pessoa eleitoralizou o país" (...)

Em 2021, eles tinham preparado um documento [chamado] "2025-2030 Lucho Presidente". Em Janeiro de 2021, eu recebi o documento e fiquei quieto.

Eu não disse nada, mas em setembro, eu disse ao presidente: "Olha, você é o candidato a presidente. É o seu direito. Você deve fazer uma boa gestão."

Ele estava prestes a ser proclamado [candidato]. Então eu mostrei a ele o documento (...) Ele ficou em silêncio, assustado e nervoso.

Mas para além disso, eu não concordo que ele diga: "Evo está à esquerda, [Luis Fernando] Camacho e [Carlos] Mesa, à direita e ele no meio".

É uma direitização de Lucho, (...) quem eleitoraliza [a Bolívia] é o governo.

BBC News Brasil - O presidente teme que essa divisão no terreno entre "evistas" e "arcistas" possa favorecer a direita no país?

Morales - Neste momento, Lucho, em vez de um benefício, é uma fraqueza.

Se eu não tivesse ido a campo com Lucho e com o MAS, o MAS teria afundado, assim como Lucho. Eu salvei o MAS. Quem é que divide?

Na minha administração, havia apenas um único grupo parlamentar dentro do MAS. Agora, há três bancadas divididas.

Na minha administração, havia uma única confederação. Agora, as confederações estão divididas.

BBC News Brasil - Tem gente que faz comparação entre você e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, por causa dessas sucessivas tentativas de permanência no poder. Qual é a sua resposta a essas comparações?

Morales - Vejamos [Angela] Merkel. Quantos anos ela esteve como primeira-ministra? (...) Quando alguém como eu fica oito ou nove anos no poder, eles nos criticam. Como?

Depois da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha ficou muitos anos tentando se reerguer… agora eu estou experimentando quão importante é a continuidade (...)

Mas, novamente, nós não estamos falando de reeleição indefinida.

Estamos falando sobre ser reeleito com uma pausa fora do poder. Como Lula, ou como acontece nos Estados Unidos.

BBC News Brasil - Mas o que o senhor acha dessas comparações?

Morales - Eu acredito em servir à Constituição. Eu respeito isso.

Para mim, seria melhor se houvesse eleição indefinida se forem resultado de processos e dessas gestões.

Por exemplo, a Alemanha, em que Merkel ficou 18 anos [foram 16] e como ela levantou o país e o tornou o melhor da Europa.

BBC News Brasil - O senhor está pronto para disputar as primárias com Luis Arce?

Morales - Eu disse isso publicamente. Nenhum problema. Sem primárias não há democracia nos partidos. É por isso que são tão importantes.

Eu me submeto às primárias. Se ele ganhar, eu faço campanha para ele. Se eu ganho, que ele faça campanha para mim.

BBC News Brasil - Há gente dentro do seu campo que classifica o presidente Luis Arce como um traidor. É assim que o senhor o classifica?

Morales - [Temos] Diferenças ideológicas, programáticas e até éticas. As pessoas veem isso como uma traição (...) Ele tem uma política de contração econômica.

Quando chegou, eliminou quatro ministérios. Falamos da receita do Banco Mundial, de reduzir o tamanho do Estado que somente regula e não investe. Lucho reduziu quatro ministérios (...) as pessoas protestaram. Quem eleitoraliza é Lucho (...) Isso é o que mais me enoja.

[Nota da redação: em meio à resposta, Morales pega um calhamaço de papel com um slide em que aparece um gráfico com diferentes nomes e sua posição no espectro político]

À esquerda: Evo Morales. À direita: Luis Fernando Camacho e Carlos Mesa. Ao meio: Lucho. Esta é a prova da direitização [de Luis Arce] (...) Lucho se "endireitou".

BBC News Brasil - Na América do Sul existem hoje muitos governos de direita como Equador, Paraguai, Uruguai, agora na Argentina. Esta divisão política na esquerda boliviana pode favorecer a direita? Minha segunda pergunta é: por que o senhor acha que a direita está avançando na região? Onde a esquerda está falhando?

Morales - O melhor para mim foi nos tempos de [Hugo] Chávez, [Rafael] Correa, [Néstor] Kirchner ou Lula. Avançamos na integração da América do Sul (...) A direita se moveu, infelizmente, com alguns problemas em alguns países (...)

BBC News Brasil - Mas por que a direita avança na América do Sul?

Morales - Mas, por favor, no passado não havia nenhuma esquerda (...) há golpes, golpes judiciais, lawfare. O que aconteceu com Rafael Correa? Imagina uma traição semelhante? Está acontecendo uma Guerra Fria. Apesar disso, seguimos vigentes. Esta é a luta. Aqui se perde, depois se ganha. Que os povos decidam suas políticas.

BBC News Brasil - Mas, presidente, não ficou claro onde a esquerda está falhando em fazer o avanço da direita em países importantes como Argentina, Equador, Paraguai e Uruguai. Onde a esquerda falha?

Morales - Eu não quero me meter muito… veja a Argentina… há o tema da inflação, inflação, inflação… isso é um tema de cada país.

Mas agora, dizem que os argentinos se deram conta como é com a direita ou com a extrema direita de Milei (...) cada país tem suas próprias particularidades.

BBC News Brasil - Minha última pergunta é: o senhor está disposto a ir às últimas consequências pela sua candidatura?

Morales - Não é Evo Morales, é o povo. As pessoas. Ontem [10/7], eu também fui surpreendido por pelo menos 3.500 militantes reunidos em menos de 24 horas.

Vêm de alguns departamentos como La Paz (...) conhecendo o meu povo, eles vão [impor] uma batalha dura para recuperar a revolução e salvar a nossa querida Bolívia.

Fonte: correiobraziliense

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