As divisões em torno da candidatura de Joe Biden aumentaram nas últimas horas, enquanto pesquisas sugeriam que o presidente perdeu terreno em estados decisivos para os democratas. Entre eles, estão Arizona, Geórgia, Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, onde derrotou Trump em 2020. A sondagem também mostrou que o inquilino da Casa Branca apresenta vulnerabilidade no Colorado, Minnesota, Maine, Novo México, Virgínia e New Hampshire. O levantamento foi feito pela BlueLabs, empresa financiada por doadores do Partido Democrata, e se concentrou na impressão da opinião pública desde o debate de 27 de junho, quando Biden teve uma atuação desastrosa.
Especialistas reconhecem que a situação do presidente ficou ainda mais delicada depois da tentativa de assassinato contra o magnata republicano Donald Trump. O deputado Adam Schiff engrossou o coro dos insatisfeitos com a candidatura de Biden e se tornou o democrata de maior peso a pedir, publicamente, que ele desista da reeleição.
Pela primeira vez, Biden confirmou que se retiraria da disputa, em uma situação específica. "Se eu tivesse alguma condição médica que surgisse, se alguém, se os médicos viessem até mim e me dissessem: 'Você tem esse problema'", disse a um jornalista da emissora Bet News. No início do mês, Biden chegou a afirmar que sairia da corrida eleitoral se o "Senhor Todo-Poderoso" lhe ordenasse.
Schiff, congressista pela Califórnia e o 20º a se pronunciar publicamente contra Biden, destacou que o presidente de 81 anos foi um dos mais "consistentes" da história dos EUA. "Sua vida inteira de serviço como senador, vice-presidente e agora como presidente fez o nosso país melhor. Mas nossa nação está em uma encruzilhada", alertou. "Um segundo governo de Trump minará os próprios alicerces da nossa democracia, e tenho sérias preocupações sobre se o presidente conseguirá derrotar Donald Trump em novembro", acrescentou, em um comunicado. "Embora a escolha de se retirar da campanha seja apenas do presidente Biden, acredito que é hora de ele passar a tocha." Para Schiff, a retirada da disputa seria uma maneira de ele assegurar o seu legado.
Outra pesquisa, da Universidade de Chicago e da agência Associated Press, revelou que sete em cada 10 adultos, incluindo 65% dos democratas, defendem que Biden abandone a corrida pela Casa Branca e permita que o partido aponte outro pré-candidato. A sondagem foi realizada entre 11 e 15 de julho, e grande parte dos dados tinham sido coletados antes da tentativa de assassinato contra Trump.
"Fora de controle"
A imprensa americana destacou que Biden teve uma conversa "tensa" com dezenas de congressistas de seu partido. Uma terceira sondagem, do instituto Ipsos e da agência Reuters, mostrou que 80% dos entrevistados acreditam que os EUA estão saindo do controle.
James Green, historiador político da Universidade Brown (em Rhode Island), disse ao Correio que está "menos otimista" sobre a possibilidade de uma vitória de Biden em 5 de novembro, ao considerar a atual conjuntura e levando-se em conta a atuação do presidente no debate e o atentado contra Trump. "O debate reforçou o argumento da ultradireita, segundo o qual Biden é incompetente. Mas vale lembrar que os primeiros debates de Barack Obama e de George W. Bush foram um desastre para ambos e, mesmo assim, eles ganharam a eleição."
Green adverte que divisões dentro do Partido Democrata e entre importantes doadores colocam a campanha em uma situação muito difícil. "Isso é refletido nas pesquisas, apesar de elas serem apenas um olhar do momento e não revelarem dinâmica. No entanto, Biden está perdendo terreno. Nesse sentido, vejo motivos para que os assessores do democrata demonstrem preocupação, pois ele precisa ganhar , sete estados-chave", acrescentou. De acordo com ele, o atual ocupante da Casa Branca está vulnerável em Michigan, por conta de seu apoio a Israel na guerra contra o Hamas, na Faixa de Gaza, embora Biden tenha uma posição diferente do premiê Benjamin Netanyahu.
Professor emérito de ciência política da Universidade Estadual de Ohio, Richard Gunther afirmou ao Correio que a tentativa de assassinato sofrida por Trump provavelmente despertou simpatia em relação ao magnata republicano. "A questão é: quanto tempo esses sentimentos irão durar. No entanto, no curto prazo, acredito que o atentado de sábado tenha contribuído para uma erosão do apoio a Biden", disse. Jerry Miller, diretor do Escritório de Estudos de Comunicação Política da Universidade de Ohio, concorda com Gunther e avalia que o incidente do último sábado (13/7) pode ter repercutido nas mais recentes pesquisas de opinião pública. "É possível que ele tenha encorajado simpatizantes de Trump a serem mais vocais em defesa do republicano e os não simpatizantes a serem menos eloquentes em sua oposição", observou à reportagem.
Miller ressalta que qualquer grande evento envolvendo um candidato pode ser uma poderosa ferramenta para a campanha influenciar sua trajetória. "Vimos isso no partido do presidente Biden, onde o seu desempenho no debate suscitou apoio e críticas. A campanha de Trump, por exemplo, usou o desempenho de Biden no debate para apoiar o republicano."
Por volta das 14h30 desta quarta-feira (16h30 em Brasília), o ex-presidente Donald Trump fez a terceira aparição em três dias de Convenção Nacional Republicana, no Fiserv Forum, em Milwaukee (Wisconsin). Cercado por seguranças, o magnata republicano subiu ao palco para um "reconhecimento" e ficou cerca de 20 minutos no local, fazendo perguntas aos técnicos de som e assessores. Trump fará um aguardado discurso, na noite de hoje, quando aceitará a nomeação do partido para ser o candidato à Casa Branca. Ferido com uma bala de fuzil, que atingiu-lhe de raspão a orelha, o ex-presidente deverá adotar um tom de pacificação em seu pronunciamento e exortar a unidade nacional.
"A tentativa de assassinato contra Trump também irá repercutir nas mensagens de campanha e nos relatórios dos meios de comunicação social, moldando potencialmente a opinião pública, especialmente quando essas mensagens se concentram em áreas geográficas consideradas geradoras de mais votos, como os swing states (estados indecisos)."
Jerry Miller, diretor do Escritório de Estudos de Comunicação Política da Universidade de Ohio
"Muito pequenas ou fracas demais". Após a tentativa de assassinato contra Donald Trump, no último sábado, alguns líderes e figuras proeminentes da direita ultraconservadora dos Estados Unidos criticaram as mulheres do Serviço Secreto encarregadas de proteger o ex-presidente. Várias mulheres de terno e óculos escuros, vestindo o uniforme típico dos agentes do Serviço Secreto, se lançaram para proteger (foto) e retirar do local o candidato presidencial republicano, que acabou ferido na orelha por uma bala de fuzil, em Butler (Pensilvânia). "Não deveria haver mulheres no Serviço Secreto. Os agentes devem ser os melhores e nenhum dos melhores é mulher", escreveu o ativista de direita Matt Walsh na rede social X. O Serviço Secreto mantém a política de recrutamento "DEI", que promove diversidade, equidade e inclusão. "DEI é racismo, simples e claro. É hora de proibi-lo nacionalmente, começando pelo governo federal", reagiu o senador J.D. Vance, escolhido por Trump como vice.
Kamala Harris, vice-presidente dos Estados Unidos e colega de chapa com Joe Biden, falou sobre o atentado, durante evento de campanha em Kalamazoo, Michigan. Ela classificou o incidente do último sábado como "hediondo, horrível e covarde". "Meu marido, Doug, e eu estamos gratos por ele não ter ficado gravemente ferido naquele dia. Assim que vimos o que estava acontecendo, fizemos uma oração pelo seu bem-estar e nossos pensamentos imediatamente se voltaram para Melania, que conhecemos, e sua família", disse Kamala, ao citar a ex-primeira-dama. Mais cedo, em vídeo, ela falou sobre a escolha do senador conservador J.D. Vance como vice da chapa republicana. "Trump buscou alguém que ele conhecia e que fosse um carimbo para sua agenda extremista. Não se enganem: J.D. Vance será leal apenas a Trump, não ao nosso país", declarou.
Peter Navarro, assessor comercial de Trump durante sua presidência (2017-2021), deixou uma prisão federal da Flórida depois de cumprir pena de quatro meses por desacato ao Congresso dos EUA, informou o Escritório Federal de Prisões. Navarro, 75 anos, deve viajar para Milwaukee, onde será um dos oradores da Convenção Republicana. Ele foi o primeiro alto assessor de Trump a ir para a cadeia por ações derivadas dos esforços do ex-presidente para anular os resultados das eleições de 2020. Navarro negou-se a cumprir uma intimação para testemunhar no Congresso.
Utilizamos cookies próprios e de terceiros para o correto funcionamento e visualização do site pelo utilizador, bem como para a recolha de estatísticas sobre a sua utilização.