06 de Setembro de 2024

Artigo: Dois candidatos no jogo de espelhos


A uma semana de enfrentar as urnas, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, joga uma "rodada de fogo" no esforço para conquistar o terceiro mandato consecutivo e dar continuidade ao projeto político chavista. A oposição, pelo seu lado, exibe pesquisas de opinião que dão ao seu candidato, o diplomata Edmundo González, vantagem de até 40 pontos sobre o adversário.

Em um dos comícios finais, Maduro advertiu que sua reeleição, no domingo que vem, será "a última chance" de livrar o país de "um banho de sangue", uma guerra civil. Olhando no espelho, o presidente venezuelano poderia enxergar o Donald Trump de quatro anos atrás, que resistia a entregar a Casa Branca ao desafiante Joe Biden, alegando fraude em sua derrota.

Hoje, o bilionário republicano desponta como franco favorito para dar o troco no presidente democrata — mais ainda depois do atentado que sofreu no último fim de semana. Quanto a Biden, cresce a expectativa de que desista da candidatura, sob pressão dos cardeais do partido e da base eleitoral.

Ainda assim, a exemplo do desafeto sul-americano, Trump segue sugerindo que não aceitará outro resultado senão a vitória, nas eleições de novembro.

A reta final da campanha pelo Palácio Miraflores promete emoções fortes e sobressaltos. Antes de tudo, por conta de um virtual blecaute informativo que deixa eleitores e observadores — inclusive, externos — praticamente às escuras. É como a situação do passageiro do trem-fantasma, que não pode enxergar o que vem pela frente, mas sabe que lhe aguardam sustos.

A incerteza começa pelas pesquisas, que em sua maioria são encomendadas por partidos e candidatos — e cada qual escolhe os números mais favoráveis para apresentar como "confiáveis". O campo governista é mais moderado nas projeções, mas também apresenta sondagens em que Maduro aparece à frente. E aposta, como nos últimos 25 anos desde a primeira eleição de Hugo Chávez, na base social construída pelo patriarca do "socialismo bolivariano".

O clima que antecede a votação na Venezuela estará no centro das atenções dos parceiros sul-americanos, na semana que começa. O presidente Lula, que no ano passado afiançou um acordo entre governo e oposição para a realização de eleições "livres e justas", mal disfarça a preocupação. Ao lado do colega da Colômbia, o ex-guerrilheiro esquerdista Gustavo Petro, ele joga as fichas na construção de um mecanismo regional que administre a crise e evite a intervenção de "agentes extrarregionais".

Na própria vizinhança, no entanto, a Argentina de Javier Milei puxa a fila dos governos que se alinham aos EUA nas advertências a Maduro para que aceite uma eventual derrota. A Casa Branca, por sinal, se vê às voltas com o dilema de Joe Biden e o desafio de tentar reverter uma derrota que se desenha no horizonte. A torcida pela oposição venezuelana inclui ainda a Europa, que teve uma missão de observação eleitoral desconvidada por Caracas.

Quanto a Donald Trump, o discurso de encerramento da Convenção Nacional Republicana, quando aceitou formalmente a candidatura, soou em muitas passagens como a fala de um presidente eleito. Por sinal, o favorito nas pesquisas uma vez mais "antecipou" o início do próprio governo para a noite da votação. A ênfase ficou em temas domésticos, com grande espaço para relatos e reflexões sobre o atentado frustrado.

Mas houve espaço para um par de temas de política externa. Como tem repetido desde fevereiro de 2022, o presidenciável republicano insistiu em que entrará em campo para "resolver" a guerra na Ucrânia antes mesmo de tomar posse. O prazo vale também para o conflito entre Israel e o Hamas, mas nesse tópico o candidato toma partido claro: advertiu o movimento palestino para "consequências severas", caso não liberte até novembro os reféns israelenses que capturou em outubro de 2023.

Trump não falou diretamente sobre a América Latina, a não ser para reafirmar a política de linha-dura contra a imigração ilegal para os EUA. Indicação clara de que o tom será o mesmo do primeiro mandato, quando impôs sanções à Venezuela e transformou na prática em letra morta o reatamento de relações com Cuba, celebrado pelo antecessor democrata Barack Obama.

 


Fonte: correiobraziliense

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