O candidato à Casa Branca Donald Trump realizou o primeiro comício de campanha após a tentativa de homicídio que o deixou levemente ferido e matou um espectador, há exatamente uma semana, na Pensilvânia. O evento político ocorreu na tarde de ontem, em Grand Rapids, no estado-pêndulo do Michigan, e marcou a estreia do vice-presidente escolhido, o senador JD Vance, de Ohio, em campanha para as eleições americanas, previstas para ocorrer em 5 de novembro.
Antes de anunciar o companheiro de chapa, o senador JD Vance fez uma breve fala, na qual criticou o atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Ao entrar na arena, Trump elogiou seu vice, afirmando que escolheu Vance, principalmente, por levantar e defender a bandeira dos trabalhadores. O candidato relembrou o atentado que sofreu, afirmando que "tomou um tiro pela democracia". Trump falou por aproximadamente duas horas e foi fortemente aplaudido por eleitores do Michigan, onde venceu em 2016 e perdeu nas presidenciais de 2020.
Apesar de melhorias na situação econômica do país nos últimos anos, Trump repetiu as críticas sobre a economia norte-
americana e retomou o tom de patriotismo e protecionismo em seu pronunciamento. O candidato prometeu taxar novamente a China, dar fim a impostos, reduzir a inflação e aumentar a produção de veículos da indústria automotiva nos EUA.
"Em quatro anos da minha liderança, eu fiz mais pelo Michigan e pelos trabalhadores da indústria automobilística do que qualquer outro presidente", afirmou. Em seguida, defendeu o combate à imigração ilegal no país: "Ao resgatar nossa economia, nós também vamos resgatar as fronteiras sagradas, soberanas de um lugar chamado Estados Unidos da América."
Ao falar de educação sexual e racial nas escolas, assim como questões de saúde pública, Trump demonstrou resistência: "No primeiro dia, eu vou assinar um decreto presidencial para que qualquer escola não use teoria de raça ou de gênero. Não vou dar um centavo para qualquer escola que obrigue a vacina ou a máscara. E vou manter homens, desde o primeiro dia, fora de esportes femininos."
Durante o comício, Trump levantou a atual indecisão em relação a quem concorrerá pelo Partido Democrata e propôs aos 12 mil presentes uma "pesquisa" sobre quem deveria ser seu adversário nas urnas: "Quem é seu candidato preferido?", questionou. "Quem vocês gostariam que a gente concorresse, para a gente ganhar?", disse, sugerindo os nomes de Biden e da vice, Kamala Harris. A resposta dos espectadores não surpreendeu: vaias. Ainda, Trump chamou Kamala de "louca" e Biden de "burro", apelidando-o como "Joe trapaceiro".
O republicano também teceu ofensas duras ao partido do concorrente. "Como vocês podem ver, o Partido Democrata não é o partido da democracia, são os inimigos da democracia. É o partido da corrupção. São parte dessa classe política falha. E nós somos o partido das pessoas, do povo, dos americanos que trabalham duro, junto com todas as raças, religiões e credos. Nos tornamos um partido muito grande", exclamou, em meio à ovação. E frisou: "Não sou extremista em absoluto."
Trump aproveitou a oportunidade para agradecer o apoio de líderes mundiais e o carinho de seus eleitores, especialmente desde o episódio que quase ceifou sua vida, no último fim de semana. "Nós estamos mais fortes do que nunca e vamos ficar mais e mais", disse. O candidato ainda divide opiniões.
Edward Young, 64 anos, já participou de 81 atos pró-Trump e se mostrou surpreso com o atentado. "O que presenciamos no sábado passado foi um milagre", disse à Agence France-Presse (AFP). Outra eleitora, Sherri Bonoite, 75, participava de seu primeiro ato eleitoral como partidária do republicano e afirmou: "Até mesmo um tiro a toda velocidade não consegue detê-lo. É o que o país precisa."
No entanto, nem todos compartilham entusiamo com a presença marcante de Trump em Michigan. "Só posso imaginar que vão tentar reescrever a história e fingir que se preocupam com os trabalhadores", compartilhou, ontem, Debbie Stabenow, senadora democrata pelo estado.
O ex-presidente também elogiou Elon Musk, citando a doação milionária que o empresário prometeu à campanha republicana. "Juntos, nós vamos lutar, lutar e lutar. E vamos vencer, vencer e vencer. Nós vamos vencer, Michigan! E vamos fazer a América boa de novo!". "Juntos, faremos a América grande e poderosa novamente", concluiu.
"Donald Trump perdeu uma grande oportunidade em seu discurso na convenção. Nos primeiros 27 minutos, ele apresentou uma mensagem unificadora positiva, mas depois, na hora seguinte, voltou ao antigo Trump. Sua retórica era sombria, sinistra e divisiva e repleta de pelo menos 20 mentiras. Esta parte do seu discurso foi desconexa e às vezes incoerente. Isso impediria o apelo aos eleitores indecisos."
Allan Lichtman, professor de ciência política da American University, em Washington
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