Benjamin Netanyahu utilizou parte de seu discurso no Capitólio, em sessão conjunta da Câmara dos Representantes e do Senado dos Estados Unidos, para prestar uma homenagem ao ex-presidente Donald Trump, em Washington. "Agradeço ao presidente Trump por tudo o que fez por Israel, de reconhecer a soberania de Israel sobre as Colinas de Golã, até fazer frente à agressão do Irã, passando por reconhecer Jerusalém como nossa capital e transferir para lá a embaixada americana", disse o primeiro-ministro israelense, que se reunirá, amanhã, com o magnata republicano na mansão de Mar-a-Lago, na Flórida.
O premiê também agradeceu ao presidente Joe Biden por "seus esforços incansáveis em favor dos reféns" — uma menção às pessoas sequestradas pelo movimento extremista islâmico Hamas, durante 7 de outubro passado, e mantidas em cativeiros na Faixa de Gaza.
Enquanto Netanyahu discursava por 52 minutos do alto da tribuna do Congresso, milhares de manifestantes marchavam rumo ao Capitólio. Com bandeiras da Palestina e com faixas e cartazes em que pediam a prisão de Netanyahu, alguns deles entraram em choque com as forças de segurança, que usaram spray de pimenta para dispersar a multidão. Os manifestantes também exigiam um cessar-fogo na Faixa de Gaza, depois de nove meses de guerra. A Polícia do Capitólio prendeu cinco ativistas dentro das galerias do Congresso.
Netanyahu disse que "assim como os norte-americanos, os israelenses estavam aliviados" com o fato de Trump ter sobrevivido a uma tentativa de assassinato na cidade de Butler (Pensilvânia), em 13 de julho (leia nesta página). O chefe de governo de Israel também atacou os manifestantes pró-Palestina. "A clareza começa por saber a diferença entre o bem e o mal. No entanto, incrivelmente, muitos manifestantes anti-Israel optam por apoiar o mal", alfinetou. "Eles estão com o Hamas, com estupradores e assassinos. (...) Deveriam ter vergonha de si mesmos."
O premiê também os chamou de "idiotas". "Tenho uma mensagem para esses manifestantes: quando os tiranos de Teerã, que enforcam homossexuais em guindastes e assassinam mulheres por não cobrirem os cabelos, são aplaudidos, promovidos e financiados, vocês se tornam oficialmente os idiotas úteis do Irã", avisou Netanyahu. Ele tentou promover a ideia de que "os inimigos de Israel são os inimigos dos EUA" e pediu que o Congresso e a Casa Branca acelerem a ajuda militar a Israel.
A reportagem conversou com o palestino-americano Hani Almadhoun, que assistiu ao discurso de Netanyahu a partir da galeria do Capitólio e conseguiu arrecadar US$ 1 milhão para alimentar a família e outros moradores de Gaza. "Perdi 151 familiares na guerra, a maioria deles no último sábado. Eu estive lá, não muito distante da tribuna. Ouvi um discurso repleto de desinformação, de mentira e de propaganda", desabafou, por telefone.
No kibbutz de Nir Oz, sul de Israel, onde viviam 420 pessoas antes do atentado de 7 de outubro (40 foram mortas e 77, sequestradas), Irit Lahav, 57 anos, porta-voz da comunidade, elogiou o discurso de Netanyahu. "Foi muito bom. Ele enalteceu Biden, pessoa verdadeiramente boa e que está do lado de Israel. Também homenageou Trump pelos Acordos de Paz de Abraão, iniciados enquanto ele estava no Salão Oval. Foi uma iniciativa que resultou em mudança dramática no Oriente Médio", disse ao Correio. "Estou triste por ele ter dado pouquíssima atenção aos reféns. Preocupamo-nos que o nosso povo morra lá todos os dias. O Hamas está mantendo nossa gente sem comida, sem água e sem cuidados básicos."
Em entrevista ao Correio, por meio do WhatsApp, Basem Naim — chefe do Departamento Político do Hamas — desqualificou o pronunciamento de Netanyahu e atacou os congressistas dos EUA. "O discurso foi uma peça mal dirigida, repleta de mentiras. Infelizmente, os representantes, no Congresso, da maior democracia do mundo provam que são superficiais e dependentes de uma narrativa fabricada, cheia de mentiras", afirmou. "Netanyahu fracassou em reparar o dano causado a Israel depois do 7 de outubro. O velho consenso americano em relação a Israel ficou claramente dividido, e isso é irreversível. As novas gerações conscientes nas ruas são a evidência mais forte disso."
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