22 de Novembro de 2024

7 perguntas-chave sobre a febre oropouche


O Ministério da Saúde confirmou na quinta-feira (25/7) duas mortes por febre oropouche. As vítimas são mulheres jovens, com menos de 30 anos, que viviam no interior do Estado da Bahia.

Embora a doença seja conhecida há quase 70 anos, essa foi a primeira vez em que foram observados óbitos relacionados a ela.

Pesquisadores de várias partes do mundo já alertavam para o aumento de casos e o potencial de essa condição causar surtos e epidemias pelos próximos anos (entenda mais a seguir).

Mas quais são as causas da febre oropouche? E quais as formas de diagnóstico, prevenção e tratamento?

A BBC News Brasil preparou um guia com as principais respostas para essas e outras perguntas relacionadas ao oropouche.

O Ministério da Saúde informa que a febre oropouche "é uma doença causada por um arbovírus [vírus transmitidos por artrópodes] do gênero Orthobunyavirus, da família Peribunyaviridae".

O vírus em questão é conhecido entre cientistas como Orthobunyavirus oropoucheense, ou pela sigla OROV.

Um artigo publicado por cientistas da Universidade do Kansas, nos EUA, explica que a família Peribunyaviridae figura entre as mais extensas da virologia — já foram descritos pelo menos 30 agentes infecciosos que pertencem a esse grupo.

O estudo ainda aponta que pelo menos cinco vírus dessa família já foram detectados no Brasil. O OROV é um deles.

O vírus é transmitido pela picada de mosquitos, principalmente da espécie Culicoides paraensis, que é conhecida popularmente como maruim ou mosquito-pólvora.

Outro possível transmissor do agente infeccioso em ambientes urbanos é o Culex quinquefasciatus, chamado comumente de pernilongo ou muriçoca.

Um estudo do Setor de Medicina da Universidade do Texas, nos EUA, destaca que o Culicoides paraensis está espalhado pelas Américas.

Ele já foi identificado do norte dos Estados Unidos, quase na fronteira com o Canadá, até o sul de Argentina e Chile.

O Culicoides paraensis é geralmente encontrado em áreas úmidas de mata e nas proximidades de reservatórios de água.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que, nos ciclos de transmissão observados na natureza, o vírus causador da febre oropouche também foi detectado em primatas não humanos (como macacos-prego) e em bichos-preguiça.

Cientistas também suspeitam que ele possa afetar algumas aves.

Nos ciclos epidêmicos urbanos, que envolvem seres humanos, ainda não foram observados casos de transmissão direta, de uma pessoa para outra.

No entanto, um relatório publicado pelo Ministério da Saúde avalia a possibilidade e os riscos da transmissão vertical, de uma mulher gestante para o bebê em formação no útero.

O texto chama a atenção para uma análise feita em junho de 2024 pelo Instituto Evandro Chagas, em Belém do Pará, que detectou a presença de anticorpos contra o vírus do oropouche em quatro recém-nascidos com microcefalia.

"Essa é uma evidência de que ocorre a transmissão vertical do OROV, porém as limitações do estudo não permitem estabelecer relação causal entre a infecção durante a vida intrauterina e malformações neurológicas nos bebês", pondera o texto.

Uma outra investigação laboratorial realizada nas últimas semanas identificou material genético do vírus causador do oropouche num caso de óbito fetal, que ocorreu com 30 semanas de gestação.

Trechos do agente infeccioso foram encontrados "no sangue do cordão umbilical, na placenta e em diversos órgãos fetais, incluindo tecido cerebral, fígado, rins, pulmões, coração e baço".

Novos trabalhos científicos devem ser publicados nos próximos meses para entender melhor como esse vírus pode afetar o desenvolvimento do bebê durante a gestação.

As evidências publicadas apontam que a incubação — o tempo entre o vírus entrar no organismo e o surgimento dos primeiros sintomas — varia entre quatro e oito dias.

A partir daí, os sinais da doença são muito parecidos aos de outras arboviroses, como a dengue.

A OMS aponta que os principais sintomas da febre oropouche são:

Geralmente, esses incômodos se prolongam por um período de cinco a sete dias.

Curiosamente, após a recuperação, cerca de 60% dos acometidos pela febre oropouche sofrem uma recaída.

Ou seja, após cerca de duas semanas do episódio inicial, os sintomas voltam a dar as caras — algumas vezes, eles são ainda mais fortes, como observa o artigo da Universidade do Kansas.

Ainda não está 100% claro se essa recaída tem a ver com alguma questão imunológica do paciente ou se os acometidos sofreram uma reinfecção por circularem em áreas com alta concentração dos mosquitos transmissores do vírus.

Os trabalhos científicos publicados até agora sobre a febre oropouche citavam a possibilidade de algumas complicações mais graves.

As principais seriam encefalite e meningite, inflamações do cérebro ou das membranas que recobrem o sistema nervoso, respectivamente.

No entanto, as duas mortes anunciadas pelo Ministério da Saúde na quinta-feira (25/7) são absolutamente inéditas.

"Até o momento, não havia relato na literatura científica mundial sobre a ocorrência de óbito pela doença", confirma o ministério em nota.

Uma outra morte notificada no Estado de Santa Catarina está sob investigação para confirmar se tem algo a ver com a febre oropouche.

Até o momento, não existe nenhum remédio específico para lidar com a febre oropouche.

Um artigo publicado por especialistas de Índia, Nepal, Brasil e Peru no periódico acadêmico The Lancet Microbe classifica os surtos de febre oropouche como "uma preocupação crescente" e alerta para a falta de pesquisas sobre novos tratamentos contra a moléstia.

O Ministério da Saúde diz que "os pacientes devem permanecer em repouso, com tratamento sintomático e acompanhamento médico".

Isso significa que profissional de saúde pode indicar algumas medicações específicas para amenizar os sintomas, como a febre, as dores e a náusea.

Também é importante que os infectados usem repelentes, para evitar que sejam novamente picados pelos mosquitos transmissores, que podem passar o vírus adiante, para outros indivíduos.

Não existem vacinas disponíveis para evitar a infecção pelo OROV.

O mesmo estudo publicado no The Lancet Microbe aponta que, até o momento, houve apenas uma pesquisa com imunizantes contra a febre oropouche.

Esse trabalho, porém, está numa etapa bastante preliminar, em testes iniciais com cobaias de laboratório.

As autoridades de saúde sugerem algumas medidas básicas para diminuir o risco de contrair a infecção:

O Ministério da Saúde ainda orienta que, se forem confirmados casos na região onde você mora, é importante seguir "as orientações das autoridades locais para reduzir o risco de transmissão".

Do ponto de vista da saúde pública, os estudos e relatórios assinados por cientistas pedem por uma intensificação da vigilância — ou seja, uma maior disponibilidade de testes para fazer o diagnóstico rápido e conter surtos antes que eles se espalhem.

Segundo os especialistas, também há necessidade de mais investimentos em pesquisas sobre a transmissão vertical (a passagem do vírus da gestante ao bebê) e para o desenvolvimento de remédios e vacinas.

O vírus causador da febre oropouche foi identificado pela primeira vez em 1955 num paciente que morava na vila Vega de Oropouche, na ilha de Trinidade, que fica no Caribe.

Pouco depois, já nos anos 1960, o agente infeccioso também acabou flagrado no Brasil. Alguns estudos da época isolaram o patógeno numa preguiça-de-três-dedos (Bradypus tridactylus).

Nesse mesmo período, a construção da estrada Belém-Brasília foi apontada como o evento por trás de um grande surto de febre oropouche que afetou a capital paraense, com mais de 11 mil casos suspeitos.

Entre 1961 e 2000, mais de 30 surtos de oropouche foram registrados no Brasil, especialmente nos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Goiás, Maranhão, Pará, Rondônia e Tocantins, segundo a pesquisa da Universidade do Kansas.

Nas últimas seis décadas, pesquisadores estimam que mais de 500 mil casos da doença foram diagnosticados no Brasil — embora eles admitam que esse número deva estar subestimado.

Além de Brasil, o oropouche também é um problema de saúde pública em países como Peru, Colômbia, Equador, Argentina, Guiana Francesa, Panamá, Trinidade e Tobago, Bolívia e Cuba.

O avanço do desmatamento e as mudanças climáticas aumentam o risco de que essa doença se espalhe para outros lugares e crie novos ciclos de transmissão urbana desse vírus — assim como já acontece com dengue, zika e chikungunya.

O Ministério da Saúde calcula que, em 2024, foram registrados 7.236 casos de febre oropouche, espalhados por 20 Estados brasileiros.

A maior parte das infecções aconteceu em Amazonas e Rondônia.

"A detecção de casos de febre oropouche foi ampliada para todo o país em 2023, após o Ministério da Saúde disponibilizar de forma inédita testes diagnósticos para toda a rede nacional de Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen). Com isso, os casos, até então concentrados na região Norte, passaram a ser identificados também em outras regiões do país", conclui a nota do ministério.

Fonte: correiobraziliense

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