22 de Novembro de 2024

Como estratégia dos EUA deve mudar no mundo se Kamala Harris for eleita


Logo após abandonar a corrida presidencial dos Estados Unidos, o presidente Joe Biden endossou a vice-presidente Kamala Harris como sua substituta.

Harris ainda não foi formalmente escolhida a candidata do Partido Democrata, mas caso vença a disputa para o cargo mais alto do país, na Casa Branca, ela seria a primeira mulher presidente dos EUA e a primeira pessoa de ascendência indiana e jamaicana a ocupar o cargo.

Ela também se tornaria a primeira presidente filha de imigrantes desde Andrew Jackson, em 1829.

Abaixo uma análise detalhada da experiência da vice-presidente Kamala Harris com questões internacionais e como ela se posiciona nos principais temas de política externa.

Uma das principais questões de política externa em que Kamala Harris e o candidato republicano Donald Trump provavelmente divergiriam é a guerra da Rússia na Ucrânia.

A postura de Trump causa desconforto entre os países que apoiam a resistência ucraniana à invasão da Rússia.

Há temores entre os apoiadores europeus da Ucrânia de que uma presidência de Trump enfraqueceria o apoio ao país e encorajaria a Rússia a agir de forma desenfreada.

Publicamente, Harris deu ao presidente Biden seu total apoio ao envio de equipamentos militares para a Ucrânia para apoiar a resistência contra a invasão da Rússia em 2022.

"Precisamos aprovar financiamento para a Ucrânia, financiamento para Israel", disse ela. "O que precisamos fazer em relação a todas essas questões é extremamente importante."

Ela liderou a delegação dos EUA na Conferência de Segurança de Munique de 2022 realizada poucas semanas antes de os tanques russos entrarem na Ucrânia.

Em junho de 2024, Harris representou os EUA na Cúpula sobre a Paz para a Ucrânia na Suíça.

No entanto, em ambas as ocasiões, ela recebeu o apoio de autoridades mais experientes em política externa, como o Secretário de Estado Antony Blinken em Munique, Alemanha, e o conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan em Lucerna, Suíça.

Ao contrário de Biden e de muitos dignitários estrangeiros, Harris nunca viajou para a Ucrânia enquanto estava no cargo. Ela se encontrou com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, porém, seis vezes.

A escolha de JD Vance por Donald Trump como seu companheiro de chapa reacendeu preocupações na Europa de que a política de "América em primeiro lugar" de Trump pode pressionar a Ucrânia a admitir derrota ao presidente russo Vladimir Putin.

O medo entre os governos europeus é que uma futura administração Trump tentaria fazer a Ucrânia abrir mão de terrirtório em um acordo de paz.

Já Kamala Harris prometeu que os EUA seguirão cumprindo suas obrigações de apoiar a OTAN – a aliança de segurança entre as nações europeias e norte-americanas.

Ela tem sido crítica às ameaças de Trump de se retirar da aliança caso os países não contribuam com ao menos 2% de seu produto interno bruto (PIB, a atividade econômica em um país) para a OTAN.

Trump disse que encorajaria a Rússia a invadir os países da OTAN que não pagassem os 2% que deveriam pagar.

"A ideia de que o ex-presidente dos EUA diria que encoraja um ditador brutal a invadir nossos aliados, e que os EUA simplesmente ficariam parados assistindo - nenhum presidente anterior dos EUA, independentemente de partido, curvou-se a um ditador russo antes", disse Harris.

Harris ofereceu apoio vocal a Israel após os ataques de 7 de outubro de 2023, afirmando que o país tem o direito de se defender do Hamas.

"Não criaremos qualquer condição para o apoio que estamos dando para que Israel se defenda", disse ela em novembro de 2023.

Um mês depois, no entanto, ela assumiu uma postura muito mais crítica a Israel do que Biden e outros funcionários do governo, dizendo que "muitos palestinos inocentes foram mortos" durante a ação militar de Israel contra o Hamas em Gaza.

"Israel deve fazer mais para proteger civis inocentes", disse ela.

Em março deste ano, após grandes protestos nos EUA e ao redor do mundo, Harris disse que Israel "deve fazer mais para aumentar significativamente o fluxo de ajuda - sem desculpas".

Ela pediu a Israel que abrisse as passagens de fronteira e protegesse os trabalhadores humanitários.

Em 22 de julho, o ministério da saúde administrado pelo Hamas em Gaza disse que pelo menos 39.006 pessoas já foram mortas na guerra.

Trump demonstrou forte apoio a Israel durante sua presidência. E, em visita ao país, anunciou o apoio dos EUA para que Jerusalém se tornasse a capital de Israel.

Harris foi ao Oriente Médio duas vezes como vice-presidente, mas não a Israel enquanto estava no cargo.

Uma das responsabilidades de Harris como vice-presidente tem sido tratar da migração na fronteira com o México.

Trump e outros republicanos criticaram-na diretamente sobre o assunto, dizendo que ela falhou em conter a onda de pessoas chegando por ali.

Em uma viagem à Guatemala em junho de 2021, o âncora da NBC Lester Holt questionou Harris sobre o motivo de ela não ter visitado a fronteira EUA-México. E a resposta caiu no ridículo entre os críticos.

Ela disse que era responsável por lidar com as "causas básicas" da migração da América Central para os EUA e observou que também "não tinha visitado a Europa".

Ela então visitou a fronteira durante uma viagem ao Texas em junho de 2021.

Os republicanos apelidaram Harris de "czar da fronteira", enquanto criticavam o governo Biden por permitir que a imigração do sul aumentasse.

Trump, que em sua campanha de 2016 promessa de construir um muro na fronteira, tem como uma de suas principais metas conter a imigração pela fronteira com o México.

Durante o período de Harris como vice-presidente, as travessias ilegais de fronteira reportadas em 2021, 2022 e 2023 atingiram o nível mais alto de todos os tempos - embora tenham caído em 2024.

Elas atingiram o menor nível em três anos em junho, depois que o presidente Biden emitiu uma ordem executiva proibindo a maioria dos migrantes de buscar asilo.

Harris também enfrentou críticas por fazer apenas duas viagens à América Central como vice-presidente - três dias em 2021 e um dia em 2022.

Assim como Trump, Harris tem sido crítica à China. Ao contrário do ex-presidente, seu foco não tem sido nas tarifas comerciais, mas nas disputas geopolíticas.

Ela acusou a China de "intimidação", com relação a disputas territoriais no Mar da China Meridional.

Pequim, em troca, acusou Washington de agir como a "mão negra" por trás das tensões nas águas disputadas.

Durante suas quatro viagens à Ásia como vice-presidente, Harris visitou a Coreia do Sul.

Ela entrou na Zona Desmilitarizada, entre o Sul e o Norte, e destacou as tentativas de conter a influência da China na região.

Ao visitar a Zona Desmilitarizada em 2019, como presidente, Trump pisou no Norte e apertou a mão do líder norte-coreano Kim Jong-un.

Ele também conversou com Kim em Cingapura.

Enquanto Trump enfatiza seus encontros com Kim,]Harris segue uma postura muito mais convencional, fornecendo apoio verbal aos aliados tradicionais.

Durante as presidências de Trump e de Biden, os EUA impuseram tarifas à China.

O atual governo está elevando o custo de importação de veículos elétricos chineses a fim de reforçar sua própria indústria.

Enquanto isso, Trump está se comprometendo a reduzir ou encerrar o apoio às indústrias verdes.

Em 2023, Harris foi uma das várias autoridades dos EUA a visitar a África.

A mudança reflete uma intenção crescente do governo dos EUA de aprofundar o relacionamento com as nações africanas diante da crescente competição de outras potências globais, especialmente China e Rússia.

Em maio de 2024, ela anunciou planos para ajudar a África a dobrar o acesso à Internet para 80% da população.

Harris também assumiu um papel ativo na limitação das operações da Arábia Saudita, o que incluiu uma parceria com o governo do Iêmen para conter a insurgência no país por quase uma década.

Como senadora, Harris votou para restringir as vendas de armas à Arábia Saudita devido às ações do país no Iêmen e o papel do país no assassinato do jornalista do Washington Post Jamal Khashoggi no consulado saudita em Istambul.

Ela co-patrocinou projetos de lei em 2018 e 2019 para interromper a cooperação militar dos EUA com a Arábia Saudita devido às operações do país no Iêmen.

No entanto, ela tem sido cuidadosa:

“Os EUA e a Arábia Saudita ainda têm áreas de interesse mútuo, como o contraterrorismo, onde os sauditas têm sido parceiros importantes”, disse Harris ao think tank americano Council of Foreign Relations em 2020.

Além de agir para limitar a assistência à Arábia Saudita, Harris apoiou leis para defender os direitos humanos em outros lugares.

Ela apoiou a legislação para lembrar o genocídio armênio, uma fonte de tensão entre a Turquia, membro da OTAN, e a Armênia por mais de um século.

Harris apoiou o acordo do Plano de Ação Integral Conjunto de 2015 com o Irã para deter o programa nuclear de Teerã.

Ela também condenou um ataque militar de 2020 sob a presidência de Trump que matou o principal general iraniano Qassem Soleimani no Iraque.

Harris também copatrocinou uma legislação que não foi aprovada para bloquear novas ações militares contra líderes e alvos iranianos.

Fonte: correiobraziliense

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