Considerado um dos principais líderes do Hamas, Ismail Abdel Salam Haniya foi morto na madrugada de quarta-feira (31) numa residência em Teerã, no Irã. Ele havia viajado ao país para acompanhar a posse do novo presidente iraniano, Masoud Pezeshkian.
Segundo um comunicado do Hamas, o ataque foi conduzido por Israel. O Exército israelense ainda não se manifestou. O assassinato ocorre apenas algumas horas depois de um ataque israelense matar um importante comandante do Hezbollah, em Beirute, no Líbano, em retaliação pelo lançamento de um foguete que matou 12 pessoas nas Colinas de Golã, território ocupado por Israel.
A morte de Haniya pode ter consequências importantes e potencialmente alastrar o conflito pelo Oriente Médio, segundo especialistas.
O assassinato aproxima a região de uma guerra total, avalaia Nader Hashemi, professor de Estudos do Médio Oriente na Universidade de Georgetown.
"Penso que também tem impacto nos acontecimentos no Líbano porque apenas algumas horas antes Israel tentou assassinar um líder importante do Hezbollah no sul de Beirute. Acreditava-se que Irã e o Hezbollah não estavam interessados ??numa escalada."
Mas o assassinato de Haniyeh alterou esses cálculos, acrescenta. “Agora o Irã tem todos os incentivos para tentar escalar este conflito.”
Alguns meses atrás, em 11 de abril, Ismail Haniya já havia sofrido um duro golpe de Israel. Três dos seus filhos e dois netos foram mortos em ataque das Forças de Defesa de Israel em Gaza. O Exército israelense afirmou que os três irmãos eram “militares do Hamas” e confirmou que eles foram mortos, dizendo que foram “eliminados”.
Na época, Haniya, também conhecido como “Abu Al-Abd”, disse à rede de televisão Al Jazeera que recebeu a notícia enquanto visitava palestinos feridos que haviam sido transferidos para a capital do Catar para tratamento.
Ele disse que agradeceu a Deus pela “honra que me foi concedida pelo martírio dos meus filhos e netos” e garantiu que isso não afetaria o posicionamento do Hamas nas negociações do grupo com Israel sobre um cessar-fogo em Gaza.
“O inimigo tem ilusões se pensa que atacar os meus filhos, no auge das negociações e antes de enviarmos a resposta, levará o Hamas a mudar seu posicionamento”, disse ele à Al Jazeera
“O sangue dos meus filhos não é mais valioso do que o sangue do nosso povo”, acrescentou Haniya.
Aquela não era a primeira vez que a família do líder do Hamas é atingida por Israel. Sabe-se que outro de seus filhos morreu em fevereiro, enquanto seu irmão e sobrinho foram mortos em outubro, seguidos por um neto em novembro.
Mas quem foi Haniya e qual a relevância dele para a guerra em Gaza?
Haniya viveu exilado no Catar nos últimos anos, incluindo os meses que se seguiram ao ataque de Hamas a Israel que desencadeou um conflito em grande escala em Gaza.
O líder político do Hamas tinha 62 anos e nasceu em um dos campos de refugiados palestinos em 1962.
Ele se envolveu na causa palestina desde muito jovem. Em 1989 foi preso por Israel e, após três anos de prisão, exilou-se com vários líderes do Hamas em Marj al-Zuhur, uma “terra de ninguém” na fronteira entre o Líbano e o território palestino da Cisjordânia em 1992.
Depois desse ano no exílio, ele voltou à Gaza e em 1997 foi nomeado chefe de gabinete do xeque Ahmed Yassin, líder do Hamas, o que fortaleceu sua posição no movimento islâmico.
Em fevereiro de 2006, o Hamas o nomeou primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), a organização política que governa os territórios palestinos, em um acordo com o Fatah, um grupo político palestino rival do Hamas.
Um ano depois, Haniya foi removido do cargo pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, quando a votação que elegeu o Hamas para o controle de Gaza foi considerada inválida pelo Fatah. Então as Brigadas al-Qassam (o braço armado do Hamas) assumiram violentamente o controle de Gaza, expulsando o Fatah da região.
O Fatah passou a ter o controle político apenas da Cisjordânia, embora oficialmente estivesse no controle da ANP, que teria autoridade sobre todos os territórios palestinos.
No entanto, na prática, Haniya continuou sendo o líder em Gaza, cargo que deixaria em 2014.
Anos mais tarde, em 6 de maio de 2017, ele foi eleito chefe político do Hamas, considerada a posição mais alta na estrutura do grupo.
Pouco depois ele se exilou no Catar, onde o Hamas tem uma espécie de embaixada de onde foram realizadas algumas negociações com Israel em crises anteriores.
O Departamento de Estado dos EUA tinha Haniya na sua lista de terroristas procurados.
Embora Haniya tenha liderado a organização remotamente nos últimos anos, o controle em Gaza é relegado a Yahya Sinwar, enquanto Mohamed Deif lidera as Brigadas Al Qassam ao lado de Marwan Issa.
Apesar da retórica bélica, Haniya era considerado por especialistas como mais moderado que Sinwar e Deif.
Também são considerados líderes proeminentes os fundadores do Hamas Khaled Meshaal e Mahmoud Zahar.
Fonte: correiobraziliense
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