18 de Setembro de 2024

- Acordo entre Rússia e Ocidente resulta na liberação de 26 prisioneiros


Com a mediação da Turquia, a Rússia e o Ocidente concretizaram, ontem, um acordo diplomático histórico de troca de prisioneiros, um dos maiores desde a Guerra Fria. Realizada em um momento delicado das relações, em decorrência da invasão contra a Ucrânia, a negociação possibilitou a libertação de 26 presos de sete países — Estados Unidos, Alemanha, Polônia, Eslovênia, Noruega, Rússia e Bielorrússia.

No total, 10 russos, incluindo dois menores, foram trocados por 16 ocidentais e russos detidos na Rússia, informou o governo do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, em um comunicado.  Entre os libertados por Moscou estão o repórter do jornal norte-americano The Wall Street Journal Evan Gershkovich e o britânico Paul Whelan, ex-fuzileiro naval dos EUA. 

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, classificou o acordo como uma "conquista diplomática". "Algumas dessas mulheres e homens ficaram presos injustamente durante anos. Todos suportaram um sofrimento e uma incerteza inimagináveis. Hoje (ontem), a agonia terminou", disse Biden em um comunicado. 

O Kremlin, por sua vez, expressou seu "agradecimento aos líderes de todos os países que ajudaram a preparar o intercâmbio", sem mencionar nomes. Segundo Moscou, o presidente russo, Vladimir Putin, concedeu indulto aos prisioneiros liberados no âmbito do acordo, que levou semanas para ser alcançado, de acordo com os serviços de inteligência turcos.

Pouco depois do anúncio da soltura dos presos, Biden foi questionado por jornalistas se estaria disposto a falar diretamente com o presidente russo após a troca. "Não necessito conversar com Putin", respondeu o democrata, que agradeceu Erdogan por sua atuação. O presidente americano recebeu familiares dos prisioneiros libertados na Casa Branca. 

Entre os libertados que retornaram à Rússia está Vadim Karsikov, encarcerado na Alemanha pelo assassinato de um ex-líder separatista checheno. O governo de Olaf Scholz admitiu que aceitar liberar Karsikov não foi uma "decisão fácil".

Também desembarcou em Moscou, graças ao acordo, o repórter espanhol de origem russa Pablo González, que estava detido na Polônia há mais de dois anos por suspeita de espionagem. O jornalista, nascido na Rússia, trabalhava para o jornal on-line Público e para a emissora de televisão La Sexta. Ele estava preso desde 28 de fevereiro de 2022, quatro dias após o início da invasão russa.

De outro lado, o acordo beneficiou os opositores russos Ilia Yashin e Vladimir Kara-Murza, encarcerados por criticar a invasão à Ucrânia. Yashin seguiu para Berlim com outras 11 pessoas, entre elas, Rico Krieger, um alemão condenado à morte na Bielorrússia por acusações de espionagem. 

Alívio e indignação

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, expressou "alívio" com a troca de prisioneiros. Por sua vez, a ONG Anistia Internacional destacou que o pacto é um sinal de que Putin "está, claramente, instrumentalizando a lei para usar prisioneiros políticos como peões". 

As prisões de americanos na Rússia aumentaram nos últimos anos. Com essa tática, o Kremlin busca, na avaliação de Washington, obter a libertação de russos condenados no exterior.

 "A política contínua do governo russo de fazer reféns é revoltante", observou, em nota, a ONG Repórteres sem Fronteiras, ao comentar a libertação do jornalista Evan Gershkovich, do The Wall Street Journal. Gershkovich, 32 anos, foi detido no fim de março de 2023 enquanto trabalhava em Ecaterimburgo, nos Urais.

No mês passado, ele foi condenado a 16 anos de prisão por acusações de espionagem, em um rápido julgamento criticado pelos Estados Unidos. Tanto o repórter quanto seus familiares e o governo Biden afirmam que as acusações russas não tinham fundamento. "Os jornalistas não são espiões e nunca devem ser alvos de ataques com fins políticos", assinalou o Repórteres sem Fronteiras, no comunicado.

Washington também trabalhou nos bastidores para libertar o ex-fuzileiro naval Paul Whelan, 54 anos, de nacionalidades britânica, irlandesa e canadense. Como Gershkovich, ele foi preso por espionagem.

Segundo o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, também havia sido planejado uma negociação para tentar libertar o opositor russo Alexei Navalny, mas ele "infelizmente morreu" em fevereiro passado na prisão. 

As especulações sobre a iminência de um acordo ganharam força no fim do mês passado, depois que vários detentos na Rússia foram transferidos dos locais onde cumpriam prisão, um fato incomum.

Foi a primeira permuta de prisioneiros entre Moscou e o Ocidente desde a libertação, em dezembro de 2022, da jogadora de basquete americana Brittney Griner, detida na Rússia por um caso de drogas. Ela retornou aos Estados Unidos em troca do famoso traficante de armas russo Viktor Bout.

Em 2010, 14 espiões foram libertados, incluindo a russa Anna Chapman, condenada nos Estados Unidos, e Sergei Skripal, um agente duplo que estava preso na Rússia. Acordos de troca de prisioneiros de grande magnitude não ocorriam desde 1985 e 1986, último período da Guerra Fria.

 


PELA RÚSSIA

Evan Gershkovich

O repórter americano do Wall Street Journal, 32 anos, foi o primeiro jornalista ocidental preso na Rússia por espionagem desde a era soviética.

Paul Whelan

O ex-fuzileiro naval americano Paul Whelan, 54 anos, estava preso na Rússia desde dezembro de 2018. Foi condenado a 16 anos de prisão em 2020 por espionagem.

Alsu Kurmasheva

A jornalista russo-americana, 47 anos, foi condenada a seis anos e meio de prisão por publicar textos sobre a ofensiva russa na Ucrânia.

Vladimir Kara-Murza

Crítico do Kremlin, o jornalista russo-britânico, 42 anos, foi condenado em abril de 2023 a 25 anos de prisão, por acusar a Rússia de "crimes de guerra" na Ucrânia.

Oleg Orlov 

Figura destacada na defesa dos direitos humanos, 71 anos, foi condenado em fevereiro a dois anos e meio de prisão por denunciar a ofensiva russa na Ucrânia.

Lilia Chanysheva

Colaboradora de Alexei Navalny, Lilia, 42 anos, foi condenada a sete anos e meio de prisão, em junho de 2023, por ter criado uma "organização extremista".

Ksenia Fadeyeva

Eleita deputada de Tomsk, em 2020, Fadeyeva, 32 anos, também colaboradora de Nalvany, foi condenada em 2023 por "extremismo".

Ilia Yashin 

Aliado de Nalvani, o político opositor liberal, de 41 anos, foi sentenciado a oito anos e meio de prisão no fim de 2022 por denunciar a ofensiva de

Moscou na Ucrânia.

Alexandra Skochilenko

A artista, de 33 anos, foi detida em 2022 por substituir as etiquetas dos preços em um supermercado por mensagens que denunciavam a ofensiva

na Ucrânia. 

Andrei Pivovarov

O opositor russo, 42 anos, dirigiu a fundação Open Russia, financiada pelo antigo oligarca Mikhail Khodorkovsky. Foi preso em 2021 por fazer campanha contra Putin.

Rico Krieger

O alemão, de 30 anos, foi sentenciado à morte em Belarus e indultado há três dias pelo presidente Alexander Lukashenko. É suspeito de espionagem. 

Dieter Voronin

O cidadão russo-alemão recebeu pena de 13 anos de prisão por "traição", depois que Moscou alegou que recebeu informação militar classificada de outro jornalista. 

Kevin Lick

Também russo-alemão e preso aos 17 anos, tornou-se a pessoa mais jovem condenada por traição na Rússia por enviar fotos de uma instalação militar.

Patrick Schoebel

O alemão foi detido no

aeroporto de São Petersburgo, no início deste ano, depois que as autoridades encontraram

balas de cannabis em sua bagagem.

German Moyzhes

O advogado russo-alemão foi detido há três meses, em São Petersburgo, e acusado de "alta traição". Não veio a público quase nenhum detalhe do caso

contra ele.

Vadim Ostanin

O ex-dirigente de uma filial regional da ONG de Navalny foi condenado no ano passado

a nove anos de prisão por participar de uma organização "extremista".

PELO OCIDENTE

Vadim Krasikov

Recebeu pena de prisão perpétua na Alemanha pelo assassinato de um ex-comandante separatista checheno em 2019, atribuído ao serviço especial russo.  

Artem Dultsev

e Anna Dultseva

O casal de russos foi sentenciado a mais de um ano e meio de prisão, na Eslovênia, por "espionagem e falsificação de documentos". Eles se declararam culpados.

 

Mikhail Mikushin

Coronel da inteligência

militar russo, ele foi preso na Noruega em 2022 e acusado de se passar por um pesquisador brasileiro chamado José Assis Giammaria. 

Pavel Rubtsov/Pablo González

A inteligência polonesa alegou que o jornalista russo, também cidadão da Espanha, era

um agente do serviço de inteligência militar

russo GRU.

Roman Seleznev

Filho de um legislador russo, foi condenado por crimes cibernéticos nos EUA, incluída uma pena de 27 anos por roubar milhões de dados de cartões

de crédito.

Vladislav Klyushin

Foi sentenciado em 2023 a nove anos de prisão por embolsar quase US$ 100 milhões hackeando sistemas corporativos e negociando depois,

ilegalmente, ações.  

Vadim Konoshchenock

O Departamento de Justiça

dos EUA afirma se tratar de pessoa-chave em um esquema para fornecer munição e produtos eletrônicos

americanos à Rússia. 

Fonte: correiobraziliense

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