O trabalho de melhoramento genético realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que possibilitou o plantio de soja em meio ao clima do Cerrado brasileiro, foi vital para que o Brasil conseguisse o posto de maior produtor e exportador mundial do grão. Durante o CB.Agro — parceria entre Correio e TV Brasília — desta sexta-feira (2/8), o chefe geral da Embrapa Cerrados, Sebastião Pedro da Silva Neto, contou sobre um novo trabalho, em parceria com a Coreia do Sul, que busca a produção de variedades mais nobres da soja para a utilização em produtos culinários de origem asiática. O programa teve apresentação dos jornalistas Roberto Fonseca e Samanta Sallum.
“A soja da qual o Brasil é o maior produtor e exportador é uma soja voltada para óleo e farelo. Óleo para consumo humano e para biodiesel, e farelo que é um farelo proteico usado na formulação de rações para alimentação animal. As sojas especiais para consumo humano, essas que nós estamos iniciando um trabalho com a Coreia do Sul, são voltadas para a fabricação de alimentos muito utilizados no Oriente — Japão, Coreias e, também, na própria China”, contou.
Segundo o chefe-geral, a Embrapa Cerrados enviou cinco variedades nobres de soja para serem testadas na indústria de alimentos da Coreia do Sul. Voltadas para consumo humano, elas possuem “valor agregado” altamente superior à soja comum e são resultado de 20 anos de trabalho de seleção de soja da empresa.
“Nós temos 20 anos de trabalho selecionando soja para consumo humano e, agora, nós fomos procurados por uma empresa da Coreia do Sul, através da embaixada, dizendo que eles queriam testar esses produtos lá. Então, nós enviamos, para a Coreia do Sul, cinco variedades que vão ser testadas na indústria de alimentos local”, destacou.
Silva Neto reforçou, ainda, que resultados positivos nesses testes teriam impacto direto no Brasil — que é grande consumidor de produtos alimentícios de origem asiática — assim como no DF. “O Brasil também consome muitos produtos de origem asiática: Tofu, Natto, shoyu e outras especialidades. Nós estamos preparados para produzir uma soja com maior valor agregado e que vai ser usada com objetivo mais nobre, que é o consumo humano. Com certeza, o shoyu que a gente consome vai poder ter como insumo a soja do Cerrado, assim como vai melhorar a qualidade do tofu que nós encontramos nos restaurantes asiáticos, porque vai ser um produto fresco, produzido aqui no cerrado”, sinalizou.
Para o chefe geral da Embrapa Cerrados, a produção dessas variedades da soja voltadas ao consumo humano vem com alguns desafios, dentre os quais, destacou a dificuldade logística de realizar o que chamou de “produção segregada”. Silva Neto afirmou, ainda, que o resultado dos testes permitirá que seja feita a organização da cadeia de produção de acordo com a demanda, o que ajudará a manter a pureza do grão.
“Como é uma soja especial, ela vai ter que ser produzida em locais separados, transportada e embalada, e essa é a dificuldade logística, para não misturar com a soja padrão. Esse é o maior desafio. Para isso, uma vez que venham os resultados e nós possamos ter um volume e uma demanda, nós vamos ter que organizar a cadeia de produção para que seja produzido de forma separada e tendo um cuidado para que ela não perca valor ao longo do da cadeia produtiva. Tem que ser produzida, colhida, separada, depois transportada e beneficiada no Brasil. Depois, fazer a logística externa, provavelmente por navio, com contêineres, depois distribuída no destino, no mercado da Coreia do Sul”, destrinchou.
Silva Neto acredita que, devido à importância de realizar uma produção segregada, a Embrapa Cerrado deve precisar de uma “certificação de origem” que garanta a procedência do grão junto aos mercados asiáticos. Para ele, essa certificação seria uma boa oportunidade de ressaltar a qualidade e a sustentabilidade presentes no cultivo da soja brasileira, assim como de gerar diferenciações entre variedades.
“Isso é muito bom porque garante a quem compra conhecer a origem, que nós fazemos uma soja muito sustentável, tanto do ponto de vista econômico, quanto ambiental e social. Nós estamos em um alto nível de organização do setor produtivo então, com essa certificação, vamos poder garantir a origem, a qualidade e, inclusive, a parte da sustentabilidade, o que agrega muito valor”, argumentou.
“A certificação de origem vai ser um caminho porque, por exemplo, o tofu — o queijo de soja —, 60% da soja importada pela Ásia vai para a produção de tofu. É um produto que precisa de uma soja com balanço entre proteína e carboidratos muito específico, e o local de produção, ambiente, temperatura, altitude e solo alteram essas propriedades. Então, da mesma forma que o café — o do Cerrado é diferente dos de outras regiões —, que tem certificações de origem, a soja para consumo humano, provavelmente, vai encaixar nessa forma de produzir”, complementou.
*Estagiário sob supervisão de Ronayre Nunes
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