Uma intervenção dietética baseada principalmente em sopas, barras e shakes resultou na remissão de diabetes 2 em um terço dos participantes. A estratégia é promovida gratuitamente pelo Instituto Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) e inclui um regime alimentar com acompanhamento médico e psicológico. Dados preliminares da pesquisa, publicados na revista The Lancet, mostram que 32% dos 7.540 mil voluntários chegaram ao fim do programa de 12 meses sem mais necessidade de usar medicamentos.
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O programa do NHS consiste na substituição total das refeições por shakes, barras e sopas de baixa caloria elaborados por nutricionistas especificamente para essa dieta. Nas 12 primeiras semanas, o cardápio é restritivo e composto por 800 calorias a 900 calorias por dia. Depois desse período, outros alimentos são reinseridos. Durante todo o tempo, os participantes recebem assistência médica em sessões individuais, presenciais ou on-line.
No universo estudado, os participantes que concluíram o programa perderam, em média, 16kg. O sobrepeso e a obesidade são os principais fatores de risco de diabetes 2, doença crônica que afeta 422 milhões de pessoas globalmente, segundo a Organização Mundial da Saúde, sendo 20 milhões delas no Brasil. O Programa Caminho para a Remissão do Diabetes Tipo 2 do NHS inclui pessoas de 18 a 65 anos, com índice de massa corporal (IMC) acima de 27kg/m2 (brancos) ou 25kg/m2 (negros, asiáticos e outros grupos étnicos). Desde o início, em 2000, mais de 25 mil pessoas participaram.
Pesquisador do Departamento de Ciências da Saúde Primária da Universidade de Oxford, no Reino Unido, Dimitrios Koutoukidis ressalta que qualquer intervenção dietética, especialmente as restritivas, têm de ser acompanhadas por profissionais de saúde, e que ninguém deve tentar substituir refeições por shakes e sopas sem prescrição médica. "Existem duas diferenças principais entre o programa do NHS e outras formas de dieta restritiva", diz. "Primeiro, as pessoas não tentaram perder peso por conta própria, mas receberam suporte para ajudá-las a ter sucesso. Segundo, as sopas e shakes usados são regulamentados, para garantir que sejam seguros e nutritivos", destaca.
Em nota, a diretora clínica nacional de Diabetes e Obesidade do NHS, Clare Hambling, ressaltou a importância de um programa bem estruturado baseado em hábitos saudáveis para combater a epidemia de diabetes. "O programa pode ter um grande impacto na vida dos participantes. Essas descobertas mostram que um grande número daqueles que o concluíram viram benefícios transformadores, incluindo grande perda de peso e remissão do diabetes tipo 2." Segundo Hambling, a obesidade é um dos maiores e mais custosos desafios para os sistemas de saúde globalmente. "Então, ver resultados tão encorajadores do nosso programa mostra que a obesidade pode ser enfrentada."
A médica endocrinologista Deborah Beranger, do Rio de Janeiro, destaca a importância da alimentação saudável para proteger o paciente de diabetes 2, ressaltando que os pacientes devem evitar, especialmente, os ultraprocessados. "São itens prontos para consumo ou de fácil preparo, muitas vezes ricos em açúcar, sódio e gorduras, além de baixos níveis de fibras, proteínas, vitaminas e minerais", explica. "Adultos diabéticos que consomem esses alimentos tiveram um risco duas vezes e meia maior de morte por doenças do coração em comparação com aqueles que seguiam a dieta mediterrânea", diz Beranger, citando um estudo recente.
A recomendação de Deborah Beranger é o consumo de alimentos nutricionalmente balanceados que sejam fonte de fibras, proteínas magras e gorduras saudáveis. "Padrões alimentares como a dieta mediterrânea e a dieta DASH, que colocam grande ênfase em grupos de alimentos (por exemplo, grãos integrais, legumes, nozes, frutas e vegetais), independentemente do processamento dos alimentos, são bem-vindas", observa.
A endocrinologista Thaís Castanheira de Freitas Resende, do centro clínico Órion Complex, em Goiânia, também lembra que pessoas com diabetes devem evitar o consumo frequente de açúcar. A médica destaca a importância de reduzir os carboidratos. "Não se recomenda a eliminação dos carboidratos na dieta, mesmo em pacientes diabéticos. Recomenda-se uma dieta balanceada, obedecendo à proporção de carboidratos 55%, gorduras 35% e proteínas 20% das calorias consumidas no dia", ensina.
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