19 de Setembro de 2024

Tropas ucranianas avançam na Rússia e elevam tensão de moradores da região


A tensão entre Rússia e Ucrânia foi intensificada com uma série de eventos marcantes. O Kremlin reconheceu, ontem (11/8), uma profunda incursão de tropas ucranianas na região russa de Kursk, segundo analistas independentes, a maior operação em território russo desde o início da guerra, há dois anos e meio. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, confirmou no sábado que a investida é parte da estratégia de "deslocar a guerra" para o outro país.

Em resposta, a Rússia lançou uma "operação antiterrorista" em Kursk, no sábado, e já retirou mais de 76 mil pessoas da área. O operador ferroviário russo fretou trens para evacuar civis para Moscou, mas a situação tem gerado pânico, com relatos de civis buscando segurança na capital.

Novas tentativas de avanço ucraniano foram impedidas com bombardeios aéreos, drones e artilharia, além do envio de reforços da região de Kharkiv, leste da Ucrânia, de acordo com a Agence France-Presse. As cidades de Tolpino, Juravli e Obshchi Kolodez, localizadas a cerca de 30 km da fronteira, foram alvo desses ataques.

Paralelamente, em Energodar, sul da Ucrânia, eclodiu um incêndio na torre de refrigeração da usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa. No X (antigo Twitter), Zelensky publicou um vídeo do incêndio. "Atualmente, os níveis de radiação estão dentro do normal. No entanto, enquanto os terroristas russos mantiverem o controle sobre a usina nuclear, a situação não é e não pode ser normal", comentou o presidente ucraniano na rede social. "Desde o primeiro dia de sua tomada, a Rússia tem usado a usina apenas para chantagear a Ucrânia, toda a Europa e o mundo. Estamos esperando o mundo reagir (...). A Rússia deve ser responsabilizada por isso", acrescentou.

Em Novogrodivka, leste da Ucrânia, o bombardeio russo atingiu um imóvel histórico momentos antes de uma cerimônia religiosa, intensificando o sentimento de desespero entre os moradores. Muitos temem que não conseguirão deter o avanço russo, e as próximas semanas são vistas como cruciais para determinar o rumo da guerra.

Ainda ontem, um míssil lançado pelos russos matou duas pessoas em Kiev — um pai e seu filho de quatro anos e outros três moradores ficaram feridos. "Minhas condolências à família e aos entes queridos. Nossos especialistas identificaram claramente o tipo de míssil e sabem exatamente de qual área do território russo ele foi lançado", comentou Zelensky no X.

Analistas militares apontam que a incursão ucraniana poderia forçar a Rússia a redirecionar suas tropas e frear suas ofensivas no Donbass, leste da Ucrânia. A situação no campo de batalha continua volátil, com o país se preparando para receber mais armas ocidentais e reforçar suas defesas.

O analista geopolítico Gustavo Glodes Blum afirmou ao Correio que os últimos meses têm sido mais críticos para avanços da Ucrânia. "Isso se dá pela proximidade das eleições nos Estados Unidos e pelas estações do ano."

Para o especialista, independentemente de quem seja o novo presidente dos EUA, a Ucrânia perderá o aliado. "Nem Donald Trump, nem Kamala Harris serão fiadores tão ferrenhos do governo de Zelensky. Sobre as estações, com o outono trazendo chuvas e o inverno com neve e o solo congelado, grandes operações militares ficam mais difíceis de acontecer. Isso pode prejudicar iniciativas ucranianas."

Blum destaca que não é a primeira vez que a Ucrânia utiliza os chamados "drones suicidas" para atacar território russo. "As investidas anteriores, porém, geralmente ocorriam em cidades próximas da fronteira, Kursk está a mais de cem quilômetros da fronteira com a Ucrânia, o que demonstra uma habilidade dos ucranianos de atacarem o território interno russo maior do que se acreditava." Por outro lado, falar que houve ataques ucranianos em Kursk não significa que há uma ocupação ucraniana na Rússia.

"A natureza das intervenções é diferente: os russos buscam uma ocupação territorial; os ucranianos estão usando drones para causar danos à população de Kursk e dos arredores", esclarece o analista.

Mariana Kalil, professora de geopolítica da Escola Superior de Guerra
Mariana Kalil, professora de geopolítica da Escola Superior de Guerra: "Guerra opõe o Ocidente à Rússia a partir da Ucrânia" (foto: Arquivo pessoal)

“A guerra na Ucrânia é uma guerra híbrida que opõe o Ocidente à Rússia a partir da Ucrânia. A incursão ucraniana em território russo decorre diretamente da resiliência da Ucrânia que, por sua vez, resulta do apoio militar do Ocidente. No entanto, ganhos táticos em guerras híbridas são diferentes daqueles de guerras estritamente convencionais. Assim, embora a referida incursão demonstre alguma vulnerabilidade do território russo,a unidade territorial ucraniana continua extremamente comprometida e um acordo de paz dificilmente ofereceria à Ucrânia sua integridade territorial conforme as fronteiras anteriores ao início da guerra.”

Mariana Kalil, professora de geopolítica da Escola Superior de Guerra

Fonte: correiobraziliense

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