A inteligência artificial (IA) está se consolidando como uma força transformadora no mercado de trabalho global. Com avanços contínuos, a tecnologia está redefinindo as formas de trabalho, automatizando tarefas, criando novas oportunidades de emprego e exigindo uma requalificação constante da força de pessoal.
Pesquisa recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Banco Mundial, denominada A IA Generativa e os empregos na América Latina e no Caribe: a brecha digital é um amortecedor ou um gargalo?, revela dados alarmantes e promissores, na região, sobre o impacto da Inteligência Artificial Generativa (IAGen) no mercado de trabalho. Nesse processo, as relações entre empresas e empregados também devem mudar.
No Brasil, uma parcela significativa dos empregos potencialmente influenciada por essa tecnologia e, conforme estimativas da OIT, 37% do trabalho em território nacional podem ser afetados pela IA, o que equivale a cerca de 37 milhões de brasileiros. Esse é um dos percentuais mais elevados na região, mas abaixo da média global, de 43%.
Contudo, a maioria desses empregos não será totalmente automatizada, mas a tecnologia tende a aumentar e transformar as funções existentes, informou o levantamento. De 8% a 14% dos empregos no país poderiam registrar aumento na produtividade graças à IAGen, enquanto apenas entre 2% e 5% enfrentam o risco de automação completa.
A pesquisa da OIT ainda destaca que mulheres, trabalhadores urbanos, jovens e qualificados nos setores formais são os mais vulneráveis à automação pela IAGen. Isso pode agravar as desigualdades econômicas e a informalidade no Brasil, um país já marcado por profundas disparidades sociais.
A brecha digital é um fator crítico que pode impedir muitos trabalhadores de aproveitar plenamente os benefícios da IAGen. Cerca de metade dos empregos que poderiam ter maior produtividade com essa tecnologia são prejudicados pela falta de acesso digital adequado.
Em 2025, o Brasil terá um deficit de 530 mil profissionais da área de TI, aponta o levantamento da Google. Para Carlos Perobelli, CEO da Nexmuv e consultor de empresas, "essa demanda tem crescido e vai crescer mais, isso deve também aumentar significativamente os salários. Então teremos que trabalhar para que essas pessoas sejam treinadas, o caminho é buscar aquelas pessoas com maior capacidade técnica na área de tecnologia e desenvolver suas habilidades para que virem especialistas em IA", afirmou.
De acordo com o consultor, atualmente, observamos uma infinidade de empresas oferecendo treinamentos e imersões nas redes sociais, todas seguindo a mesma tendência, porque é algo muito recente, com menos de dois anos desde que esse boom ocorreu. "Portanto, é realmente difícil apontar uma única tendência na área de IA. No entanto, o desenvolvimento de modelos de linguagem avançados e o conhecimento profundo em IA Generativa e Deep Learning são essenciais. Acredito que o grande diferencial será o profissional que souber fazer as perguntas certas. O prompt é o grande desafio", ressaltou Perobellil.
Outro estudo, da consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC), mostra que um terço dos profissionais teme que a automação coloque seus empregos em risco. No entanto, a IA também está gerando novas profissões, como especialistas em automação, treinadores de IA e gerentes de ética de dados. Além disso, a demanda por profissionais especializados em desenvolvimento e manutenção de sistemas de IA, análise de dados e aprendizado de máquina está crescendo rapidamente.
Apesar dos riscos, o documento da OIT aponta para os possíveis benefícios que a IAGen oferece, que são distribuídos de forma mais equitativa entre trabalhadores de diferentes gêneros e idades. Trabalhadores assalariados e autônomos, como vendedores, arquitetos, educadores, profissionais de saúde e de serviços pessoais, têm maior probabilidade de se beneficiar dos efeitos positivos da IA. No entanto, a falta de infraestrutura digital adequada pode limitar esses benefícios, especialmente para os trabalhadores mais pobres. No Brasil, apenas 40% dos trabalhadores mais desfavorecidos que poderiam se beneficiar da IAGen têm acesso às tecnologias digitais necessárias.
Ana Virginia Moreira Gomes, diretora regional da OIT para a América Latina e o Caribe, enfatizou a importância de um diálogo social inclusivo para gerenciar os impactos da IAGen. "A gestão eficaz dos impactos da Inteligência Artificial Generativa requer um diálogo social sólido e inclusivo que reúna todas as partes interessadas", afirmou Gomes.
A pesquisa recomenda várias ações-chave para a região, incluindo o Brasil, para maximizar os benefícios da IA e mitigar seus riscos. Entre essas ações, estão o investimento em infraestrutura digital, a promoção de políticas públicas que protejam os empregos e aumentem a produtividade, e o fortalecimento dos sistemas de proteção social para garantir que ninguém fique para trás.
*Estagiário sob a supervisão de Rosana Hessel
Utilizamos cookies próprios e de terceiros para o correto funcionamento e visualização do site pelo utilizador, bem como para a recolha de estatísticas sobre a sua utilização.