22 de Novembro de 2024

Bebês prematuros podem ser agrupados em três perfis neurocognitivos; entenda


Uma nova pesquisa, publicada na revista Child Development lança luz sobre a complexidade do impacto da prematuridade, desafiando a visão tradicional que trata todas as crianças como um grupo homogêneo e classificando-as de forma diferente. O estudo, conduzido por pesquisadores da NYU Grossman School of Medicine, nos Estados Unidos, revelou que elas podem ser agrupadas em três perfis neurocognitivos distintos, com resultados significativamente variados em testes de cognição e comportamento. 

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Segundo a Organização Mundial da Saúde, 13 milhões de bebês nasceram antes de completar 37 semanas - cerca de 10% dos partos no mundo, em 2023.  Frequentemente essa condição está associada a desafios significativos no desenvolvimento cognitivo e comportamental.

Ao analisar dados de 1.891 nascidos prematuros, com idades entre 9 e 11 anos, os cientistas identificaram um primeiro perfil, composto por 19,7% dos participantes, que se destacou com desempenho acima da média até mesmo para crianças a termo, nascidas no "tempo certo" — de 37 a 41 semanas. Essa classe obteve resultados superiores em testes cognitivos padrão e mostrou menos déficits de atenção.

O segundo perfil, para o qual foram classificadas 41% das crianças, revelou um desempenho misto. Essas participantes apresentaram pontuações acima da média em alguns testes, como memória e vocabulário, mas pontuaram abaixo do esperado em outros, como reconhecimento de padrões e memória de trabalho. 

O terceiro grupo, que englobou 39,3% das crianças, mostrou um desempenho consistentemente abaixo da média em todos os testes avaliados. Esse grupo apresentou deficits cognitivos que corresponderam a problemas de atenção e notas acadêmicas menores.

Segundo a equipe, essas descobertas são significativas porque demonstram que nem todas as pessoas que nasceram prematuras enfrentam os mesmos desafios no desenvolvimento.

As análises revelaram ainda que as crianças do perfil 1 tiveram uma média 21% melhor em testes cognitivos do que aquelas no perfil 3. Além disso, apenas 2,5% dos participantes do grupo 1 exibiram deficits de atenção, em contraste com 9,9% no 3. 

Tatiana Mota, pediatra da Clínica Mantelli, em São Paulo, sublinha que crianças prematuras podem apresentar intercorrências durante o crescimento e desenvolvimento, capazes de gerar sequelas neurológicas.

"Os principais sinais a serem observados são os marcos de desenvolvimento neuropsicomotor, sempre considerando a idade gestacional corrigida. Deve-se classificar esses bebês por grupos porque sabemos que a probabilidade de sequelas e a necessidade de maiores intervenções são inversamente proporcionais à idade gestacional em que essas crianças nascem."

Para Eliane Cêspedes, pediatra em Brasília, o estudo dissipa a noção de que "toda criança prematura nasce com déficits cognitivos e comportamentais. A identificação precoce de cada perfil permite um atendimento individualizado, personalizado, a cada criança, melhorando seu prognóstico em todos os aspectos sociocognitivos."

No âmbito acadêmico, 66,47% das crianças no perfil 1 alcançaram notas médias entre 9 e 10, comparadas a 32,21% no grupo 3.

O estudo também abordou diferenças no volume cerebral. A neuroimagem revelou que participantes do perfil 3 tinham cérebros, em média, 3% menores em volume e área de superfície de matéria cinzenta em comparação com quem foi classificado para o grupo 1. Embora as crianças no perfil 3 tenham nascido, em média, 4,5 dias mais cedo, o volume cerebral menor não estava diretamente associado à prematuridade. 

O estudo sugere investigar mais a fundo como as diferenças no volume cerebral podem estar relacionadas aos resultados variáveis entre os perfis.

Outro ponto relevante é a desigualdade racial. As análises indicaram que crianças prematuras negras tinham quase quatro vezes mais chances de se enquadrar no perfil de baixo desempenho, o 3.

A principal autora do estudo, Iris Menu, e a coautora Moriah Thomason, destacaram a necessidade urgente de intervenções sociais e estruturais para garantir cuidados equitativos para todas as crianças prematuras. Menu observou que bebês em lares mais abastados, onde o acesso a terapias e cuidados é mais frequente, tendem a obter melhores resultados, enquanto a cobertura de seguro saúde e outros fatores socioeconômicos também desempenham um papel crucial.

O neuropediatra José Marcos Vieira, do Hospital Sírio Libanês, frisa que a desigualdade no tratamento de prematuros é muito comum no cenário brasileiro. "Temos crianças que têm acesso a terapias por muitas horas semanais, com diversos profissionais capacitados, até pessoas que mal têm acesso a um médico para indicar a terapia, quanto mais para conseguir a terapia em si. As condições socioeconômicas influenciam muito no desenvolvimento, tanto nas crianças que apresentam transtornos de neurodesenvolvimento quanto naquelas que não os têm." A próxima etapa da pesquisa pretende investigar fatores comuns entre as crianças que tiveram um desempenho ruim e questões que contribuíram para o sucesso de 20% das crianças prematuras no perfil 1.

 


"Uma criança prematura nasce com um desenvolvimento intrauterino incompleto e acaba se tornando mais vulnerável para uma série de questões, dentre elas o desenvolvimento neurológico. Se além da prematuridade ela tiver ainda algum outro insulto perinatal, isso pode comprometer o desenvolvimento cognitivo, comportamental, é muito importante que alguns cuidados, como nutrição adequada, estímulo correto, sejam implementados de forma precoce para a criança prematura. Ao notar qualquer atraso cognitivo e comportamental, tanto nas crianças prematuras quanto em nascidas a termo, é importante identificar se há alguma causa diferente da prematuridade, origem genética, exposição na vida intrauterina, infecção ou algum tipo de substância que possa ter prejudicado a parte neurológica, como substâncias psicoativas utilizadas na gestação. Para essas circunstâncias, de acordo com o impacto neurocognitivo, existem algumas terapias de resgate."

Cristiane Kopacek, endócrino pediatra da Sociedade Brasileira de Triagem Neonatal e Erros Inatos do Metabolismo (SBTEIM)

Fonte: correiobraziliense

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