23 de Novembro de 2024

Como a Ucrânia planejou ataque a território russo


Descrita como uma das operações mais ousadas desta guerra, a incursão da Ucrânia por Kursk, região ao sul da Rússia, surpreendeu observadores, que ainda buscam entender como foi realizada e qual o objetivo de Kiev com ela.

"Continue observando esta seção da fronteira", disse uma fonte do exército ucraniano à BBC pouco antes de 6 de agosto, referindo-se ao nordeste da Ucrânia, próximo da região russa de Kursk.

"Espere algo interessante."

Um dia após a pista ser compartilhada, imagens de soldados ucranianos derrubando bandeiras russas em vilas na região de Kursk começaram a surgir online.

A região de Kursk foi uma das principais plataformas de lançamento de ataques russos contra civis ucranianos desde o início da invasão em grande escala.

Estima-se que milhares de militares ucranianos tenham se envolvido na operação transfronteiriça, agora em sua segunda semana. Kiev não divulgou oficialmente o número de homens envolvidos.

Segundo a Rússia, o exército ucraniano controla pelo menos 28 vilarejos. Kiev dá um número muito maior, de cerca de 80.

A forma como essa incursão foi preparada mostrou que a Ucrânia aprendeu com o erro anterior, quando divulgou amplamente planos de realizar uma operação de contraofensiva que não se materializaram.

No início do verão de 2023, observadores na Ucrânia e no exterior aguardavam a tão esperada contraofensiva com o objetivo de restaurar o controle da Ucrânia sobre seus territórios do sul e o acesso ao Mar de Azov. Os debates e especulações online eram abundantes.

O então comandante-chefe do exército ucraniano, general Valery Zaluzhnyi, chegou a alertar contra transformá-lo em um esporte para espectadores.

“Isso não é um show”, disse em entrevista ao jornal Washington Post no verão de 2023.

“Não é um show que o mundo inteiro está assistindo e apostando, ou algo do tipo. Cada dia, cada metro se dá por sangue.”

Desta vez, a operação, em foi mantida em completo segredo, impedindo a Rússia de se preparar, deixando sua fronteira mal protegida.

Embora os arquitetos desta reviravolta surpreendente permaneçam em segredo, eles provavelmente estão nas forças armadas, na inteligência militar e na administração presidencial.

E o general Oleksandr Syrskyi, que substituiu Valery Zaluzhnyi como comandante-chefe da Ucrânia em fevereiro deste ano, está, provavelmente, entre os principais mentores.

À época, o presidente Zelensky foi amplamente criticado nas redes sociais por remover Zaluzhnyi, um general popular, e substituí-lo com um homem visto por muitos como um comandante mais conservador e menos flexível.

O chefe da inteligência militar ucraniana, Kyrylo Budanov, que tem 38 anos e é representante de uma nova geração de agentes, também está quase certamente envolvido diretamente.

Ele e suas equipes estiveram por trás de ataques anteriores de coleta de inteligência em menor escala nos territórios russos e nos ocupados pela Rússia.

Outro novo elemento desta operação relatado por fontes e especialistas foi uma melhor coordenação entre as unidades envolvidas.

No verão de 2023, uma das unidades de elite da Ucrânia, a 47ª Brigada Mecanizada, conseguiu um progresso considerável em sua seção da linha de frente, repelindo o exército russo. Mas, como outras unidades em seções vizinhas recuaram, o progresso perdeu o sentido.

A Ucrânia não divulgou quais unidades estão lutando na operação Kursk. Mas fontes dizem que o pessoal envolvido é um dos mais bem treinados, o que por si só deve ter sido uma decisão difícil para Kiev — tirar essas tropas das partes mais desafiadoras da linha de frente, onde as forças russas continuam avançando.

Na incursão de Kursk, houve sinais de preparação cuidadosa e ponderação de recursos. Em alguns casos, unidades ucranianas contornaram posições russas em vez de se envolverem diretamente com elas.

A Rússia não sofria intervenção estrangeira em seu território desde a Segunda Guerra Mundial, e a imprensa russa acusou Kiev de agir "como os alemães". Ao mesmo tempo, a Rússia não se refere à operação como uma "invasão" ou uma "incursão", mas como uma "situação na fronteira" ou "atos de terrorismo".

O presidente Zelensky disse em um de seus últimos discursos em vídeo que a Ucrânia estava "alcançando seu objetivo estratégico" na região de Kursk. Embora ele não tenha especificado qual seria esse objetivo, está claro que a Ucrânia conseguiu mudar a narrativa da guerra e restaurar a confiança em sua capacidade de recuperar seu território reconhecido internacionalmente.

Justin Crump, um ex-oficial do Exército Britânico que agora dirige uma consultoria de risco estratégico, disse à BBC que a operação foi uma aposta ousada, motivada "pela necessidade de mostrar que o país ainda está na luta, mesmo após um ano de reveses militares".

"O presidente Zelensky precisava dar uma vitória à sua população cansada da guerra e mostrar a seus apoiadores ocidentais que a Ucrânia ainda pode infligir dor à Rússia".

Enquanto isso, Vladimir Putin descartou qualquer negociação com a Ucrânia, acusando-a de "atingir a população pacífica e a infraestrutura civil".

A Rússia prometeu uma "resposta dura" à incursão de Kursk.

A invasão em larga escala da Rússia já está em seu terceiro ano.

Para a população da Ucrânia, a guerra é uma questão central na vida cotidiana, já que a maioria das famílias perdeu alguém na linha de frente, foi deslocada ou afetada de alguma outra forma.

Para os russos, a guerra também não passa despercebida. E a última reviravolta colocou-a firmemente no noticiário, com dezenas de milhares de pessoas tendo que ser evacuadas de diversas regiões de fronteira.

Para muitos fora da Ucrânia e da região, este tornou-se um conflito prolongado e sem fim à vista, e as perguntas mais pesquisadas sobre a guerra são "Quem está ganhando?" e ??"Quando isso vai acabar?"

A Ucrânia diz que quer realizar outra cúpula de paz até o final deste ano para injetar nova energia nas negociações sobre o fim da guerra. Até recentemente, era difícil imaginar a Rússia participando de tal cúpula. Mas a operação Kursk deu à Ucrânia um novo poder de barganha.

Ao mesmo tempo, como diz o especialista em segurança Justin Crump, "o tempo não está ao lado da Ucrânia", sugerindo que a força militar do país é limitada para entrar a fundo em território russo.

Por enquanto, no entanto, Kiev parece ter provado que é capaz de preparar e executar operações militares rápidas e surpreendentes e mudar o curso desta guerra, por enquanto, a seu favor.

Fonte: correiobraziliense

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