A cada eleição presidencial americana, as atenções dos candidatos se voltam para um punhado de Estados considerados decisivos.
Essa lista muda a cada ciclo eleitoral e é baseada em diversos fatores, como resultados dos pleitos anteriores, pesquisas de intenção de voto, novas tendências políticas, mudanças demográficas e características específicas dos candidatos, entre outros.
Neste ano, estrategistas políticos e analistas identificam sete Estados como aqueles que devem decidir a eleição: Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin.
Mais de 240 milhões de americanos estão aptos a votar em 5 de novembro. Mas, no sistema eleitoral do país, obter a maioria do voto popular nacionalmente não é garantia de vitória.
Para chegar à Casa Branca, um candidato precisa de pelo menos 270 dos 538 votos no chamado Colégio Eleitoral, formado por delegados enviados pelos Estados.
O número de delegados de cada Estado varia, e é proporcional ao tamanho da população.
Na maioria dos casos, o vencedor leva todos os votos do Colégio Eleitoral daquele Estado, mesmo que sua vitória tenha sido por uma margem pequena.
Assim, é possível que um candidato vença o voto popular nacionalmente e, mesmo assim, perca na contagem de votos do Colégio Eleitoral.
Isso aconteceu com a democrata Hillary Clinton em 2016, que foi derrotada por Donald Trump.
Na complicada matemática para chegar aos 270 votos, são cruciais os chamados swing states (Estados-pêndulo, em tradução livre), já que um ano podem pender para os democratas e, na eleição seguinte, para os republicanos.
Na maioria dos 50 Estados americanos, a disputa não costuma ser competitiva, e um dos dois partidos historicamente tem mais força, deixando pouca chance de vitória para o adversário.
Exemplos dessa dinâmica são a Califórnia, considerada um Estado democrata, ou o Texas, que tem um histórico de votação em republicanos.
Mas, nos sete Estados identificados como decisivos neste ano, tanto a vice-presidente Kamala Harris, que deve ser aclamanda candidata democrata, quanto o ex-presidente Donald Trump, que deverá concorrer pelo Partido Republicano, podem vencer a disputa.
Outra característica para que um Estado seja considerado decisivo é ter pesquisas de intenção de voto com pequena diferença entre os dois candidatos.
"Consistentemente dentro da margem de erro", diz à BBC News Brasil o cientista político Todd Belt, professor da Universidade George Washington, em Washington.
De acordo com o agregador de dados de pesquisas do site RealClearPolitics (RCP), em 19 de agosto, Trump tinha 47,5% das intenções de voto nesses sete Estados, quase empatado com os 47,4% de Harris.
O RCP mostra leve vantagem de Trump no Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Nevada e Pensilvânia, enquanto Harris lidera em Michigan e Wisconsin.
O Silver Bulletin, publicado pelo estatístico Nate Silver, dá pequena margem a favor de Harris no Arizona, Carolina do Norte, Michigan, Pensilvânia e Wisconsin, enquanto mostra Trump com vantagem na Geórgia e em Nevada.
Outro agregador, o FiveThirtyEight, indica vantagem para Trump na Carolina do Norte, Geórgia e em Nevada, com Harris levemente à frente nos demais quatro Estados.
A entrada de Harris na disputa, em julho, após o presidente Joe Biden anunciar sua desistência de concorrer à reeleição, teve impacto em vários Estados decisivos.
Em alguns, Trump estava à frente de Biden, mas foi ultrapassado por Harris. Em outros, a diferença entre os dois foi bastante reduzida.
"Há certamente uma tendência em todos [esses Estados] nessa direção", salienta Belt.
Trump também vinha ganhando terreno em parcelas do eleitorado que tradicionalmente votam nos democratas, como negros, latinos e jovens.
A maioria desses eleitores ainda dizia preferir Biden, mas o percentual que apoiava Trump vinha aumentando. A chegada de Harris parece ter energizado esses eleitores.
"Vimos o apoio desses grupos a Harris dobrar em relação a Biden", observa Belt.
"Biden estava perdendo [apoio nesses grupos], e sem eles não conseguiria vencer [a eleição]."
Outra mudança se refere aos eleitores abertos a um terceiro candidato. Robert F. Kennedy Jr., que concorre como independente, poderia roubar votos da democrata ou do republicano, favorecendo o adversário.
Mas a fatia de eleitores dispostos a votar em um terceiro candidato vem diminuindo desde que Harris entrou na disputa.
"Isso indica que não estavam satisfeitos nem com Biden, nem com Trump", afirma Belt.
"Mas, agora que Harris é a candidata, estão voltando para o partido democrata."
As últimas semanas trouxeram também o anúncio do governador de Minnesota, Tim Walz, como vice de Harris e do senador J. D. Vance, de Ohio, como companheiro de chapa de Trump. Mas seu impacto ainda não está claro.
Outros fatores a levar em conta são disputas para o Senado ou consultas populares sobre temas importantes nos Estados decisivos, que geralmente motivam mais eleitores a comparecer às urnas em um país onde o voto não é obrigatório.
Belt adverte que é preciso ver se a empolgação com Harris vai se manter até a convenção do partido, neste mês, o debate em setembro e a votação de novembro.
"Temos mais de dois meses e meio (até a eleição). Muito pode mudar", afirma.
O Arizona costumava ser reduto republicano, mas, em 2020, o democrata Joe Biden venceu no Estado. Antes disso, a última vitória de um candidato presidencial democrata no Estado havia sido em 1996.
Neste ano, a disputa é acirrada, em um Estado altamente polarizado. O Silver Bulletin indica 45,8% das intenções de voto para Harris, e 43,7% para Trump, enquanto o RCP mostra Trump com 47,3% e Harris com 47,1%.
A imigração é um dos principais temas que devem mobilizar os eleitores do Arizona, Estado que tem quase 600 quilômetros de fronteira com o México.
Trump promete "realizar a maior operação de deportação da história americana" e ataca os democratas pelo grande fluxo de imigrantes ilegais, que chegou a números recordes, antes de cair nos últimos meses.
O acesso ao aborto deve ser outro tema importante no Estado, onde o procedimento é proibido após 15 semanas de gestação.
A eleição em novembro incluirá uma consulta popular sobre a proposta de garantir o direito ao aborto na Constituição estadual, impedindo o Estado de restringir o procedimento antes do ponto de viabilidade fetal (em torno de 24 semanas de gestação).
Segundo estrategistas, a consulta sobre o aborto pode mobilizar mais eleitores preocupados com o tema a sair de casa para votar, o que poderia beneficiar Harris.
A Carolina do Norte tem um histórico de votação em candidatos presidenciais republicanos.
Barack Obama foi o último candidato presidencial democrata a vencer no Estado, em 2008.
Antes de Obama, a Carolina do Norte havia votado em republicanos nas eleições presidenciais desde 1980.
Neste ano, segundo o RCP, pesquisas dão 47,6% das intenções de voto para Trump e 46,4% para Harris no Estado.
Pelo cálculo do Silver Bulletin, porém, depois de semanas em que a margem entre os dois foi diminuindo, agora a democrata já ultrapassou Trump.
Os democratas têm investido bastante na campanha no Estado, e apostam na parcela do eleitorado que diz não ser fiel a nenhum partido.
Poucas semanas atrás, algumas pesquisas na Geórgia indicavam até 10 pontos de vantagem para Trump. Mas essa margem vem diminuindo desde a entrada oficial de Harris na disputa.
Segundo as médias do RCP e do Silver Bulletin, Harris e Trump estão agora praticamente empatados no Estado, com leve vantagem para o republicano.
Em 2020, Joe Biden foi o primeiro candidato presidencial democrata a vencer na Geórgia em quase 30 anos. O último havia sido Bill Clinton, em 1992.
Após perder para Biden na Geórgia por pequena margem em 2020, Trump foi acusado de interferir na eleição do Estado, com supostos esforços para anular o resultado.
Essas acusações, negadas por Trump, estão em um dos processos criminais enfrentados pelo republicano.
Mais de 30% da população da Geórgia é negra, e essa parcela do eleitorado teve papel importante na vitória de Biden em 2020.
Neste ano, a campanha de Harris espera mobilizar eleitores negros e mulheres para vencer no Estado.
Até 2016, Michigan era considerado fiel aos democratas nas eleições presidenciais.
Naquele ano, porém, Trump foi o primeiro candidato presidencial republicano a vencer no Estado desde a vitória de George H. W. Bush em 1988.
Na eleição seguinte, em 2020, Biden conseguiu virar o Estado para os democratas novamente.
Neste ano, a média de nove pesquisas agregadas pelo RCP indica que Harris tem 48,6% das intenções de voto no Estado, e Trump tem 46,6%. O Silver Bulletin também mostra vantagem para a democrata.
Michigan tem a maior proporção de americanos de origem árabe no país. Há expectativa sobre se o apoio do governo americano a Israel na guerra em Gaza poderá prejudicar o desempenho dos democratas no Estado.
A última vez que um candidato presidencial republicano venceu em Nevada foi em 2004, mas muitas pesquisas indicam vantagem de Trump neste ano. No entanto, essa vantagem vem diminuindo nas últimas semanas.
Segundo a média do RCP, o republicano tem 47,3%, à frente dos 46% de Harris. O Silver Bulletin também mostra Trump levemente à frente, mas o agregador de pesquisas Fivethirtyeight dá pequena margem para Harris.
O agregador de pesquisas Fivethirtyeight mostra os dois candidatos empatados, com 44,4% cada.
Nevada se caracteriza por uma grande parcela de eleitores de origem latina e forte presença de sindicatos.
A economia é um dos temas importantes para os eleitores do Estado, que tem uma das maiores taxas de desemprego do país.
Durante mais de 20 anos, desde 1992, candidatos presidenciais do Partido Democrata venceram na Pensilvânia.
Isso mudou em 2016, com a vitória de Trump no Estado. Em 2020, Biden conquistou o Estado de volta para os democratas.
Calcula-se que neste ano as campanhas presidenciais dos dois partidos vão investir mais de US$ 100 milhões (cerca de R$ 547 milhões) cada em propagandas na Pensilvânia até novembro, bem acima do montante gasto em outros Estados.
A média do RCP indica vantagem de apenas 0,1 ponto percentual para Trump. O Silver Bulletin e o FiveThirtyEight colocam Harris à frente.
Economia e inflação estão entre as principais preocupações dos eleitores do Estado.
Em 2016, Trump foi o primeiro candidato republicano desde Ronald Reagan a vencer em Wisconsin.
O Estado faz parte da chamada "Muralha Azul", que é referência à cor atribuída aos democratas e inclui também Michigan e Pensilvânia. São Estados industriais que historicamente votam no candidato democrata.
Após a derrota do partido em 2016, Biden conseguiu vencer nesses Estados em 2020. Neste ano, eles são novamente cruciais para a conquista da Casa Branca.
Em julho, os republicanos realizaram sua convenção nacional em Milwaukee, a maior cidade de Wisconsin, que também foi palco do primeiro comício de Harris após entrar na disputa.
Segundo o RCP, Haris tem 48,6% das intenções de voto no Estado, um pouco à frente dos 47,6% de Trump. O Silver Bulletin e o FiveThirtyEight também dão vantagem a Harris.
Assim como ocorre a cada eleição, a lista de Estados decisivos deste ano traz mudanças em relação a pleitos anteriores.
Dois exemplos são Flórida e Ohio, que durante décadas foram considerados importantes Estados-pêndulo.
Em ambos, o candidato presidencial democrata venceu em 1996. Nas duas eleições seguintes, o republicano foi vitorioso. Em 2008 e 2012, novamente o democrata. E em 2016 e 2020, outra vez o republicano.
Mas mudanças demográficas fizeram com que a Flórida, com 30 votos no Colégio Eleitoral, e Ohio, com 17, deixassem a lista dos Estados mais competitivos.
Pesquisas neste ano indicam vantagem confortável para Trump em ambos.
Fonte: correiobraziliense
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