22 de Novembro de 2024

Como moda de tiktokers acelerarem músicas está mudando a indústria fonográfica


Existem fãs de música que, agora, conhecem trechos de canções acelerados de 15 segundos melhor do que a versão original.

Isso se deve a uma tendência emergente nas redes sociais, particularmente no TikTok. Criadores alteram o andamento de canções populares em 25% a 30%, para acompanhar vídeos virais curtos de danças ou outros temas. Estas versões estão até ajudando alguns artistas a subir de posto nas paradas oficiais.

Em novembro de 2022, fãs prepararam versões aceleradas do single Escapism, da cantora britânica RAYE. Essas versões ajudaram a artista a chegar, pela primeira vez, ao topo da parada oficial britânica, cerca de três meses depois do lançamento original.

Uma tendência inicial se desenvolveu com base na letra da música, que diz: "O homem que eu amava me fez sentar na noite passada e me disse que estava tudo acabado, decisão estúpida". E os usuários rapidamente postaram sua própria "decisão estúpida" em versões aceleradas da canção.

O fenômeno traz um desafio moderno: como os cantores podem criar a próxima gravação de sucesso se, na verdade, as pessoas ouvem uma versão que pode soar de forma tão diferente?

O hábito de ouvir canções aceleradas começou no início dos anos 2000, quando surgiram as edições nightcore. Elas foram lançadas por uma dupla de DJs noruegueses do mesmo nome, que aumentavam o tom e a velocidade das canções.

Agora, estas edições são comuns nos nossos aplicativos de redes sociais, que podem aumentar a velocidade dos podcasts, anotações de voz, filmes e tudo o mais, para podermos consumi-los em menos tempo.

O Spotify é um exemplo. Em 2023, mais de um terço dos ouvintes dos Estados Unidos acelerava os podcasts e cerca de dois terços ouviam as canções em andamento mais rápido.

O serviço de streaming confirmou à BBC que está testando atualmente uma nova função, mais geral, que potencialmente poderá nos permitir remixar o andamento das canções e compartilhá-las.

A escritora Mary Beth Ray, especializada em cultura musical digital, afirma que as plataformas de vídeos curtos como o TikTok "restringem nossas formas de ouvir" em trechos de músicas — mas estas restrições também permitem "vivenciar as canções de forma diferente".

Para ela, "os clipes curtos oferecem um caminho menor para aquela injeção de dopamina que as redes sociais querem nos fazer sentir. Por isso, existe um elemento viciante para o qual somos conduzidos."

A DJ Maia Beth, da BBC Rádio 1, acredita que, hoje em dia, é difícil para as gravadoras e para os músicos estabelecidos ignorar esta tendência. "Às vezes, pode parecer que, se eles não lançarem a versão [acelerada], outra pessoa irá fazê-lo", afirma ela.

Beth reconhece que não consegue se imaginar ouvindo a versão acelerada de uma canção completa. Ela acredita que esta tendência não deverá necessariamente ser uma grande preocupação para os músicos.

"As versões aceleradas das faixas podem ajudar os artistas a fazer sucesso ou viralizar, mas este sucesso inicial pode não durar muito", segundo Beth, que apresenta o programa Anthems (em inglês), na BBC Radio 1.

As canções aceleradas ou desaceleradas não oficiais são diferentes do remix profissional. Elas são muito mais curtas e podem ser elaboradas facilmente por qualquer pessoa, incluindo no TikTok, Instagram Reels e em outros aplicativos. Mas algumas das nossas maiores estrelas da música pop estão adotando esta tendência.

A cantora canadense Nelly Furtado foi 'chamada de volta' a cantar e compor quando seus sucessos viraram tendência no TikTok.

Em 2022, a cantora americana Summer Walker lançou seu primeiro álbum totalmente acelerado — uma versão remixada do seu álbum de 2018, Last Day of Summer, que surgiu depois de uma tendência dançante no TikTok.

Billie Eilish também lançou versões oficiais das suas canções, mais lentas e mais rápidas. E as canções de Sabrina Carpenter Please Please Please e Espresso, recordistas na primeira posição das paradas britânicas, receberam tratamento similar.

O TikTok declarou ter observado aumento da quantidade de versões aceleradas e desaceleradas de músicas de catálogo, que foram retiradas da plataforma e lançadas oficialmente.

Estes lançamentos oficiais com andamento alterado agora são somados à canção original na Parada Oficial Britânica de Singles, ao lado dos remixes, versões acústicas e ao vivo. Tudo isso ajuda os artistas a subir de posição.

Mas nem todos estão satisfeitos com esta tendência. A popularidade das versões com velocidade alterada pode fazer com que seja mais difícil diferenciar o original do remix, distorcendo a velocidade, o tom e o clima desejado pelo artista.

Em março, falando para o podcast A Safe Place, o cantor e rapper americano Lil Yachty declarou ter ficado constrangido quando pediu para retirar versões alternativas da sua canção A Cold Sunday.

Em outubro de 2022, em um dos shows da turnê Give You The World, do cantor americano Steve Lacy, o público parecia não cantar muito seu sucesso Bad Habit. Algumas pessoas compartilharam vídeos online, indicando que parte da plateia reconhecia melhor a versão popular de um trecho acelerado da canção, do que sua versão original.

Alguns artistas talvez gostem mais das novas versões do que outros. Mas parece que elas vieram para ficar.

Para a artista e produtora londrina tonka._.b, de 23 anos, o ajuste da velocidade e do andamento faz parte do seu processo criativo.

"Gosto de ouvir minhas canções três vezes: aceleradas, lentas e em velocidade normal", ela conta. "Cada uma delas oferece uma sensação totalmente diferente, cada uma delas abre as portas para novos públicos."

Fonte: correiobraziliense

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