22 de Novembro de 2024

Quem é o 'Bill Gates' britânico que morreu em naufrágio de iate de luxo


O corpo de Mike Lynch, um empresário britânico da área de tecnologia, foi encontrado alguns dias depois do naufrágio de seu iate de luxo na costa da Sicília, na Itália.

Lynch tinha 59 anos e estava de férias com a família, com seu círculo mais próximos de parceiros de negócios e assessores jurídicos no super iate Bayesian quando a embarcação afundou após ser atingida por uma tempestade, na segunda-feira (19/8).

As equipes de resgate conseguiram retirar do mar 15 pessoas que estavam a bordo, mas seis corpos foram encontrados e uma pessoa continua desaparecida — as autoridades acreditam que seja Hannah, de 18 anos, filha de Lynch.

Duas pessoas foram identificadas entre os corpos: Lynch e o chef Recaldo Thomas.

A esposa de Lynch, Angela Bacares, está entre as pessoas resgatadas.

Depois de ter sido cofundador da companhia de tecnologia britânica Autonomy, em 1996, e de ter apoiado várias empresas de tecnologia de sucesso, Lynch foi considerado por alguns como a resposta do Reino Unido ao fundador da Microsoft, Bill Gates.

O magnata britânico da tecnologia fez sua fortuna ao vender a Autonomy à gigante americana da computação Hewlett-Packard (HP), em 2011, por US$ 11 bilhões (cerca de R$ 59 bilhões).

Mas uma intensa batalha jurídica relacionada à aquisição pairou sobre Lynch durante mais de uma década.

Em junho, ele foi absolvido na Justiça dos EUA de uma série de acusações de fraude, pelas quais poderia pegar duas décadas de prisão.

Em entrevista à Radio 4 da BBC, em agosto, Lynch disse acreditar que só conseguiu provar sua inocência perante o tribunal americano devido ao acesso à defesa jurídica que teve por causa de sua fortuna.

O naufrágio do iate ocorreu no mesmo dia em que foi confirmada a morte do corréu de Lynch no caso de fraude, Stephen Chamberlain.

O advogado dele afirmou que seu cliente morreu após ser atropelado por um carro no condado de Cambridgeshire, na Inglaterra, no sábado (17/8).

Nascido em 16 de junho de 1965, Lynch é filho de uma enfermeira e de um bombeiro — ele foi criado perto de Chelmsford, em Essex, na Inglaterra.

Ele estudou Ciências Naturais na Universidade de Cambridge, onde fez doutorado em computação matemática, e mais tarde ganhou uma bolsa de pesquisa.

Em 1991, Lynch ajudou a fundar a Cambridge Neurodynamics, empresa especializada na utilização de detecção e reconhecimento de impressões digitais por computador.

A empresa de tecnologia Autonomy foi criada cinco anos depois, usando um método estatístico conhecido como "inferência bayesiana" no núcleo de seu software.

O rápido crescimento e sucesso da companhia ao longo do final da década de 1990 e início dos anos 2000 fizeram com que Lynch ganhasse vários prêmios e distinções.

Em 2006, ele foi condecorado com a Ordem do Império Britânico (OBE, na sigla em inglês), em reconhecimento aos serviços prestados às empresas do Reino Unido.

Ele atuou no conselho da BBC como diretor não executivo e, em 2011, foi nomeado para o conselho governamental de ciência e tecnologia — aconselhando o então primeiro-ministro, David Cameron, sobre os riscos e oportunidades do desenvolvimento da inteligência artificial.

Após a venda da Autonomy para a HP em 2011 — com a qual acredita-se que Lynch tenha lucrado 500 milhões de libras esterlinas (cerca de R$ 3,5 bilhões) —, ele fundou a empresa de investimentos em tecnologia Invoke Capital.

O fundo de capital de risco investiu na criação da empresa britânica de segurança cibernética Darktrace, em 2013.

Acionista da empresa, Lynch ocupou uma cadeira no conselho da companhia até o início deste ano.

Lynch e a esposa, Angela Bacares, tinham duas filhas, e moravam na propriedade Loudham Hall, em Suffolk, na Inglaterra.

Hannah, de 18 anos, também estava no iate que afundou.

A equipe da BBC Verify consultou registros empresariais e descobriu que a propriedade do iate Bayesian está vinculada à família.

Fontes próximas ao incidente confirmaram à BBC que Angela Bacares foi resgatada.

A Autonomy se tornou bem-sucedida pela capacidade do seu software de extrair informações úteis de dados como telefonemas, e-mails e vídeos.

Em seguida, usaria esses dados para fazer coisas como sugerir respostas a uma operadora de call center ou monitorar canais de televisão em busca de palavras ou temas.

Antes de ser comprada pela HP em 2011, a Autonomy tinha sedes em São Francisco (EUA) e Cambridge (Inglaterra).

Mas o preço de venda foi alvo de escrutínio após a transação, e o valor da Autonomy foi reduzido em bilhões apenas um ano depois.

Em 2018, promotores dos EUA abriram um processo contra Lynch — acusando-o de inflacionar o valor da empresa.

Eles disseram que ele havia ocultado o prejuízo da empresa na revenda de hardware, e também o acusaram de intimidar ou subornar pessoas que manifestaram preocupações.

Lynch disse à Radio 4 da BBC, no início de agosto, que, embora estivesse convencido de sua inocência durante o longo julgamento, ele sentiu que só seria capaz de provar isso perante o tribunal dos EUA devido à sua fortuna.

"Você não deveria precisar de recursos para se proteger como cidadão britânico", ele afirmou.

"A razão pela qual estou sentado aqui, sejamos honestos, não é só porque eu era inocente... mas porque tinha dinheiro suficiente para não ser destruído por um processo criado para te destruir."

Ele acrescentou que após a saga jurídica, pretendia "voltar ao que adoro fazer, que é inovar".

Fonte: correiobraziliense

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