22 de Novembro de 2024

O polêmico contrato do novo CEO da Starbucks que prevê viagem de jatinho de casa ao escritório


Brian Niccol ainda nem começou no trabalho como novo diretor-executivo (CEO, na sigla em inglês) da rede de cafeterias Starbucks, mas já está no meio de uma polêmica.

Nesta semana, foi revelado que o recém-designado CEO fará um trajeto de quase 1,6 mil quilômetros para se deslocar de sua casa em Newport, Califórnia, no sudoeste dos Estados Unidos, até seu escritório, que estará na sede da empresa, localizada em Seattle, no Estado de Washington, no noroeste do país.

Um deslocamento que poderá ser realizado em um jatinho particular da empresa.

As críticas a esse uso do transporte, em sua maioria feitas nas redes sociais, estão relacionadas às discrepâncias entre as políticas de sustentabilidade e meio ambiente da companhia e o estilo de vida de seus executivos.

Niccol foi escolhido recentemente como o novo diretor-executivo da Starbucks e é esperado que assuma o cargo em 9 de setembro.

A empresa não respondeu aos pedidos de entrevista da BBC sobre este assunto.

Na oferta de contrato, consta que Niccol "não terá que se mudar para a cidade onde está localizada a sede central da empresa [Seattle], mas concorda que terá que se deslocar de sua residência até a sede central para cumprir suas responsabilidades".

O documento indica que ele poderá utilizar as aeronaves privadas da empresa para "realizar viagens de negócios" e para "viajar de sua cidade de residência até a sede central da companhia".

A Starbucks informou que um pequeno escritório remoto será instalado na cidade de Newport para ser usada por Niccol quando ele estiver na Califórnia.

Uma viagem de avião particular entre as duas cidades dura entre 2,5 e 3 horas. De carro, levaria cerca de 18 horas.

A rede de cafeterias tem uma política de trabalho híbrido que exige que seus funcionários compareçam ao escritório pelo menos três dias por semana.

No entanto, a empresa não confirmou se essa política também se aplicava aos altos executivos como Niccol ou se o trabalho remoto a partir da Califórnia seria suficiente para atender a esses requisitos.

Dan Coatsworth, analista de investimentos da corretora AJ Bell, disse à BBC que a Niccol "no papel, foram dadas as mesmas condições de trabalho híbridas que outros funcionários de escritório, como era de se esperar".

"No entanto, o que deixa um gosto amargo é a ideia de que ele possa usar um avião particular para percorrer os 1,6 mil quilômetros entre a Califórnia e Seattle", acrescentou.

Coatsworth ressalta que, além de o uso de um avião particular ser prejudicial ao meio ambiente e enviar uma mensagem negativa aos clientes e empregados, também "em última análise, não é uma forma prática de administrar um negócio de US$ 105 bilhões (R$ 584 bilhões) com aproximadamente 400 mil funcionários".

"Um líder precisa estar no coração de uma empresa, não sentado na praia aproveitando as vantagens do trabalho", afirma.

Para o especialista, o fato de Niccol ter sido recrutado para dar uma nova vida à Starbucks implica que ele tem um grande desafio pela frente.

"Não se trata de assumir o comando de um negócio que já está funcionando a todo vapor; é um trabalho de reparação que exige atenção constante ao motor", concluiu.

Estima-se que cada hora que um avião particular passa no ar pode emitir até duas toneladas de dióxido de carbono.

Um relatório publicado pelas Nações Unidas em 2021 mostrou que o 1% das pessoas mais ricas do mundo produzia o dobro das emissões de carbono do que os 50% mais pobres.

"Tudo bem. Muito conveniente para o melhor talento da empresa! Mas esperamos não ver mais anúncios sobre 'sustentabilidade' e 'meio ambiente' da Starbucks", escreveu um usuário na rede social X (antigo Twitter).

"O novo chefe da Starbucks vai viajar cerca de 1,6 mil quilômetros até Seattle em um avião particular só para ir ao escritório. Então, não sejam tão duros quando a garçonete lhes der um canudo de plástico que vocês não queriam", escreveu outro.

A questão sobre onde as pessoas devem trabalhar tem sido um debate acalorado nos últimos anos, com empresas discutindo a favor ou contra a continuidade do trabalho remoto que se expandiu durante a pandemia de covid-19.

Alguns setores, como o bancário, indicaram que esperavam que seus funcionários retornassem completamente ao escritório, enquanto outros, como as empresas de tecnologia, permitem o trabalho remoto de forma indefinida.

Muitas empresas optaram pelo trabalho híbrido, uma combinação de ambas as opções.

O debate sobre a Starbucks também tem girado em torno da remuneração que Niccol receberá em seu novo cargo.

"Por que nunca falamos sobre o salário dos diretores-executivos quando falamos sobre preços que estão subindo?" escreveu o ex-secretário do Trabalho dos Estados Unidos, Robert Reich, em sua conta no X.

De acordo com os termos da oferta de trabalho, o salário base anual de Niccol será de US$ 1,6 milhão (R$ 8,9 milhões).

Além disso, ele poderá receber um bônus relacionado a desempenho de até US$ 7,2 milhões e até US$ 23 milhões por ano em ações da Starbucks.

A Starbucks anunciou em agosto que Niccol substituiria Laxman Narasimhan como seu diretor-executivo. O anúncio ocorreu enquanto a rede de cafeterias busca impulsionar as vendas, que têm diminuído nos últimos anos.

Niccol liderou a rede de fast food de comida mexicana Chipotle desde 2018, ajudando a empresa a se recuperar de uma grave crise após um escândalo de intoxicação alimentar. Durante sua gestão, as vendas da empresa dobraram, e suas ações passaram de menos de US$ 7 para mais de US$ 50 cada.

Além disso, a Chipotle abriu quase 1 mil novas lojas e introduziu novas tecnologias para automatizar a preparação de alimentos.

Esse crescimento foi visto como um ponto positivo no setor de redes de restaurantes, onde muitas empresas relataram quedas nas vendas devido aos clientes estarem cortando gastos.

Fonte: correiobraziliense

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