23 de Novembro de 2024

Estudo mostra como diferentes tipos de amor afetam o cérebro


A palavra amor é usada em uma variedade surpreendente de contextos, desde o sentimento romântico até o carinho pelos animais e pela natureza. Mas o que acontece no cérebro quando sentimos diferentes formas de amor? Um novo estudo conduzido pela Universidade Aalto, na Finlândia, publicado na revista Cerebral Cortex, revelou seis tipos de amores e uma visão mais profunda sobre como o cérebro reage a esses sentimentos variados.

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Para investigar essas questões, os pesquisadores utilizaram ressonância magnética funcional (fMRI) para analisar a atividade cerebral de 55 pessoas que tinham filhos e estavam em um relacionamento amoroso. Os voluntários foram convidados a refletir sobre cenários diversos representando seis tipos diferentes de amor, incluindo amor parental, romântico, por amigos, estranhos, animais de estimação e pela natureza. Veja imagens:

Manifestação cerebral diante de cada tipo de amor
Atividades cerebrais se manifestam de forma diferente a cada sentimento (foto: Universidade Aalto)

Segundo Pärttyli Rinne, filósofo da Universidade Aalto e principal coordenador do estudo, os resultados revelaram um panorama abrangente da atividade cerebral associada a diferentes formas de amor. "O padrão de ativação do amor é gerado em áreas específicas do cérebro, como os gânglios da base, a linha média da testa, o pré-cúneo e a junção temporoparietal." O estudo identificou que o sentimento pelos filhos provocou a atividade cerebral mais intensa, seguido imediatamente pelo amor romântico.

No caso do amor parental, os pesquisadores observaram uma ativação significativa no sistema de recompensa do cérebro, especialmente na região conhecida como estriado. "Essa ativação profunda no sistema de recompensa foi observada apenas no amor parental e não foi replicada em outros tipos de amor", afirmou Rinne. Por outro lado, o amor por parceiros românticos, amigos, estranhos, animais de estimação e natureza também foram analisados, com os resultados reforçando diferenças importantes na resposta cerebral.

O artigo destacou que a atividade cerebral não é influenciada apenas pela proximidade do objeto de amor, mas também pela espécie envolvida. O amor compassivo por estranhos, por exemplo, gerou uma ativação cerebral menos intensa comparado ao amor em relacionamentos próximos. Já o amor pela natureza ativou o sistema de recompensa e áreas visuais do cérebro, mas não as áreas associadas à interação social.

Uma descoberta interessante foi a identificação das áreas do cérebro associadas ao amor por animais de estimação. As respostas dos participantes revelaram se eles eram donos de animais com base na ativação de áreas associadas à sociabilidade. "Quando analisamos o amor por animais de estimação, as áreas cerebrais associadas à sociabilidade mostraram uma ativação estatisticamente maior em donos de animais do que em não donos", observou Rinne.

Fabiano de Abreu Agrela, pós-doutor em neurociência e membro das sociedades para neurociências e de filosofia dos Estados Unidos, frisa que identificar como o amor romântico, fraternal e parental influencia áreas específicas do cérebro ajuda a compreender os mecanismos subjacentes a transtornos emocionais, "permitindo o desenvolvimento de terapias mais personalizadas e eficazes. Por exemplo, terapias que estimulam ativações cerebrais relacionadas a sentimentos positivos de amor podem melhorar o bem-estar emocional."

O estudo controlou as ativações de amor utilizando histórias neutras, como olhar pela janela do ônibus ou escovar os dentes distraidamente. Após ouvir as interpretações das narrativas de amor por um ator profissional, os participantes foram instruídos a imaginar cada emoção por 10 segundos.

Elaine Keiko Fujisao, neurologista, neurofisiologista e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia e da Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica, frisou que as descobertas sobre as diferenças na ativação cerebral associadas às várias formas de amor têm implicações significativas para a prática clínica neurológica. "Esses achados podem ajudar os profissionais de saúde a compreender melhor os processos emocionais e de tomada de decisão de seus pacientes, especialmente em relação aos relacionamentos."

"Entender que o amor é processado em uma área específica do cérebro pode nos ajudar a explorar melhor como padrões de pensamento e comportamento afetam a maneira como experimentamos e respondemos ao sentimento. Para pacientes que lutam com dependência emocional, por exemplo, esse conhecimento pode ser essencial para desenvolver intervenções mais direcionadas. Ademais, esse é um bom reforçador da importância de abordar o amor não apenas como um sentimento, mas como um processo neurológico que pode ser influenciado e modificado pela terapia cognitiva. Isso abre novas possibilidades para tratar questões de autoestima, apego e relacionamentos tóxicos."

Ana Paula Torres, neuropsicóloga especializada em terapias cognitivas e relacionamentos

Fonte: correiobraziliense

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