22 de Novembro de 2024

Alimentação com falta de nutrientes afeta saúde mundial


Cinco bilhões de pessoas — mais da metade da população mundial — ingerem uma quantidade insuficiente de micronutrientes cuja deficiência é associada a cegueira, maior suscetibilidade a doenças infecciosas e eventos adversos na gestação, entre outros. Publicado na revista The Lancet Global Health, esse é o primeiro estudo global sobre o consumo alimentar de substâncias essenciais à saúde humana e, segundo os pesquisadores, mostra um quadro preocupante. 

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Coordenados pela Escola de Saúde Pública T. H. Chain da Universidade de Harvard, em Boston, nos Estados Unidos, os pesquisadores usaram dados do Global Dietary Database e do Banco Mundial, além de registros nacionais, para verificar se a ingestão de 15 micronutrientes essenciais (veja quadro nesta página) corresponde às necessidades das populações de 185 países, incluindo o Brasil. Foi feita uma divisão por sexo e faixas etárias, de recém-nascidos a pessoas com mais de 80 anos.  

Com base em estimativas da ingestão de nutrientes provenientes dos alimentos — suplementos e fortificações ficaram de fora da análise —, o estudo mostra que 68% da população mundial não consome o suficiente de iodo; 67% ingere menos vitamina E do que o necessário, e 66% está aquém do recomendado para cálcio. Além disso, para mais de 4 bilhões, a alimentação é deficiente de ferro (65%), riboflavina (55%), folato (54%) e vitamina C (53%). 

Globalmente, as ingestões inadequadas de iodo, vitamina B12, ferro e selênio foram mais observadas em mulheres. Já a insuficiência de magnésio, vitamina B6, zinco, vitamina C, vitamina A, tiamina e niacina é maior entre os homens. Os pesquisadores também observaram que pessoas de ambos os sexos entre 10 anos e 30 anos são as que menos consomem alimentos com cálcio, especialmente no sul e leste da Ásia, na África subsaariana, na América do Norte, na Europa e na Ásia Central. 

No Brasil, a ingestão de vitamina B12, folato, zinco, niacina, tiamina, ferro e riboflavina está acima de 50% entre homens e mulheres; as principais inadequações são relativas a selênio, vitamina B6, iodo e vitamina E. A deficiência dessa última, que previne o dano da oxidação celular, pode prejudicar os reflexos e a coordenação, causar dificuldade para andar e enfraquecimento dos músculos, e é insuficiente para mais de 75% da população acima de 10 anos. 

"Esses resultados são alarmantes", comenta Ty Beal, especialista técnico senior da Aliança Global para Melhora Nutricional (Gain, sigla em inglês) e um dos autores do estudo. "A maioria das pessoas — ainda mais do que se pensava anteriormente, em todas as regiões e países de todas as rendas — não está consumindo o suficiente de vários micronutrientes essenciais. Essas lacunas comprometem os resultados de saúde e limitam o potencial humano em escala global."

Embora os autores não tenham investigado as causas da insuficiência dos micronutrientes, especialistas lembram que o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados — produtos industrializados, como pratos prontos, embutidos, salgadinhos, biscoitos e refrigerantes — reduz a ingestão de vitaminas e minerais. "O excesso de produtos ultraprocessados na alimentação pode contribuir para a deficiência de micronutrientes, porque são ricos em calorias, açúcares, gorduras e sódio, mas pobres em vitaminas e minerais essenciais", afirma Michely Tomazini, nutricionista da WB Nutri. 

No Brasil, o consumo de ultraprocessados aumentou 5,5% em uma década, de acordo com uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP). "Mesmo pessoas com uma boa condição financeira podem optar pelo sabor e praticidade dos ultraprocessados, mas excesso desses alimentos são comprovadamente maléficos à saúde", destaca a nutricionista Jana Caiado, de Brasília, especialista em saúde intestinal. "O uso contínuo desses pode desencadear diversos malefícios para a saúde a longo prazo. As alterações em exames de sangue são verificadas frequentemente nesse público", atesta. 

Para os autores do estudo publicado na revista The Lancet Global Health, o levantamento poderá ser um guia para tomadas de decisões de políticas alimentares. "O desafio de saúde pública que enfrentamos é imenso, mas os profissionais e formuladores de políticas têm a oportunidade de identificar as intervenções alimentares mais eficazes e direcioná-las às populações mais necessitadas", disse, em nota, Christopher Golden, autor senior do estudo e professor na Harvard Chan School. Segundo Golden, a pesquisa abre caminho para cada país investigar, mais aprofundadamente, as causas e a gravidade das deficiências. 

Do ponto de vista individual, a nutricionista esportiva Rayane Marques recomenda incluir uma variedade de produtos ricos em nutrientes. "É a chave para garantir que estamos ingerindo todos esses micronutrientes de forma adequada." A suplementação, que só deve ser feita com orientação profissional, não traz nenhum benefício, caso a alimentação seja deficiente, destaca Jana Caiado: "Os suplementos, como o próprio nome diz, precisam complementar uma alimentação balanceada para o correto efeito". 

A nutricionista esportiva Rayanne Marques ensina onde encontrar os micronutrientes avaliados na pesquisa da The Lancet:

Cálcio é fundamental para os ossos e dentes, e você pode encontrá-lo principalmente em laticínios como leite, queijo e iogurte. Também está presente em vegetais de folhas verdes, como couve e brócolis, além de sardinhas e amêndoas. Para aumentar a ingestão, tente incluir laticínios ou produtos fortificados no seu café da manhã e adicionar folhas verdes às suas refeições.

O iodo é essencial para a função da tireoide e pode ser encontrado em peixes marinhos, frutos do mar, algas e no sal iodado. Para garantir que você está consumindo o suficiente, use sal iodado no preparo dos alimentos e inclua frutos do mar na sua dieta regularmente.

Quando falamos em ferro, ele é crucial para o transporte de oxigênio no sangue. Carnes vermelhas, frango, peixes e leguminosas como feijão e lentilha são ótimas fontes. Para melhorar a absorção, consuma esses alimentos com fontes de vitamina C, como frutas cítricas.

A riboflavina, ou vitamina B2, é encontrada em carnes, ovos, laticínios, amêndoas e vegetais de folhas verdes. Uma boa maneira de aumentar a ingestão é incluir ovos no café da manhã e adicionar amêndoas como lanche ao longo do dia.

Já o folato é importantíssimo para a formação do DNA e está presente em vegetais de folhas verdes, leguminosas e frutas cítricas. Para garantir uma boa ingestão, adicione mais vegetais e leguminosas ao seu prato e escolha cereais fortificados.

O zinco ajuda o sistema imunológico a funcionar bem e pode ser encontrado em carnes, frutos do mar, feijão, nozes e sementes. Tente variar o consumo de nozes e sementes, e adicionar mais carnes magras e frutos do mar às suas refeições.

Magnésio é vital para muitas funções corporais e está presente em sementes de abóbora, espinafre, amêndoas, feijão preto e abacate. Uma boa dica é incluir mais nozes, sementes e vegetais verdes escuros na sua alimentação.

Para o selênio, uma excelente fonte é a castanha-do-pará, além de frutos do mar, carne de frango e ovos. Comer uma única castanha-do-pará por dia já atende a necessidade diária desse mineral.

A tiamina, ou vitamina B1, é encontrada em carnes magras, cereais integrais, nozes, sementes e leguminosas. Para aumentar a ingestão, inclua mais cereais integrais e nozes nas suas refeições.

Já a niacina (vitamina B3) está em carnes, aves, peixes, amendoim e cereais fortificados. Incluir mais carnes magras e peixes nas suas refeições, bem como consumir amendoim como lanche, é uma ótima forma de garantir essa vitamina.

Para a vitamina A, pense em alimentos como fígado, cenoura, batata-doce, espinafre e produtos lácteos. Adicionar mais vegetais laranja e verdes escuros ao seu prato e consumir fígado ocasionalmente pode ser muito benéfico.

A vitamina B6 pode ser encontrada em carnes, aves, bananas, batatas e espinafre. Para garantir uma boa ingestão, varie bastante nas frutas e inclua bananas no seu dia a dia, além de carnes magras e espinafre nas refeições.

Vitamina B12 é essencial e está presente em carnes, peixes, ovos e laticínios. Aumente a ingestão incluindo mais fontes de proteína animal e ovos na sua alimentação.

A vitamina C é famosa por seu papel no sistema imunológico e está em frutas cítricas, morangos, pimentões, brócolis e kiwi. Consumir uma porção de frutas cítricas ou pimentões diariamente pode ajudar a manter bons níveis dessa vitamina.
E, finalmente, a vitamina E é importante para a pele e está em nozes, sementes, óleos vegetais e vegetais de folhas verdes. Para melhorar a ingestão, use óleos vegetais como azeite de oliva e consuma nozes como lanches saudáveis.

Fonte: correiobraziliense

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