Nos últimos anos, o mercado de jogos de apostas on-line e esportivas tem experimentado um crescimento exponencial, especialmente no Brasil. Com isso, os patrocínios de apostas têm se tornado uma parte importante do cenário financeiro dos clubes de futebol brasileiros. Esses acordos não apenas fornecem uma injeção significativa de dinheiro, mas atraem atenção e visibilidade para as marcas envolvidas, evidenciando o crescimento deste mercado no país. Dos 20 times da série A, 15 tem como patrocinador master alguma casa de aposta esportiva.
Os patrocínios de apostas no futebol são acordos comerciais em que casas de apostas pagam aos clubes para exibir suas marcas em locais de destaque, como as camisas dos jogadores. Esses contratos são frequentemente multimilionários e ajudam os clubes a financiar operações, incluindo a contratação de atletas e investimentos em infraestrutura.
O investimento que as empresas de apostas fazem em eventos esportivos é alto. Em 2024, o Flamengo anunciou a Pixbet como sua nova patrocinadora master. O acordo de dois anos garantirá ao clube R$ 170 milhões, ou R$ 85 milhões por temporada. Esse é um dos maiores contratos de patrocínio do futebol brasileiro, refletindo a importância crescente das apostas no financiamento dos clubes.
Outro exemplo é o São Paulo, que terá a Superbet como patrocinadora principal em 2024, com um contrato de três anos que renderá R$ 52 milhões por temporada. No ano passado, o Botafogo firmou um contrato de dois anos com a Parimatch, que pagará R$ 27,5 milhões por temporada. Já o Cruzeiro assinou um contrato de dois anos com a Betfair no início de 2023, garantindo R$ 25 milhões anuais. A renovação do contrato do Fluminense com a Betano, em julho de 2022, é estimada em R$ 20 milhões por ano até 2025.
Frequentemente usados de forma intercambiável, os termos "apostas esportivas" e "apostas on-line" se referem a categorias diferentes de jogos de azar. O primeiro envolve prever o resultado de eventos específicos. Casas de apostas, como Pixbet, Superbet e Betfair, oferecem odds e mercados para uma variedade de esportes, desde futebol e basquete até àqueles menos populares. Como o foco está em antever o placar, esses patrocinadores estão frequentemente associados a clubes de futebol e outros esportes.
O termo aposta on-line, por sua vez, é mais amplo e inclui qualquer forma de jogo realizado na internet, não se limitando a eventos esportivos. Isso pode abranger cassinos virtuais, roletas e outros jogos de azar. As casas de apostas on-line podem, portanto, oferecer uma gama diversificada de produtos, não se restringindo apenas às apostas esportivas.
Embora apostas esportivas e apostas on-line sejam distintas, elas estão interligadas no sentido de que muitas casas de apostas operam em ambas as categorias. Por exemplo, uma empresa como a Betfair pode oferecer apostas esportivas e também ter uma plataforma de cassino virtual. Os patrocínios frequentemente se concentram nas apostas esportivas, especialmente quando associadas a eventos de alta visibilidade como o futebol.
Segundo a diretora de expansão internacional da CAF (startup de biometria facial e identificação brasileira), Emma Lindley, o Gambling Act de 2005 ampliou a legislação sobre jogos de azar da década de 1960, introduzindo a UK Gambling Commission (UKGC) como uma nova autoridade reguladora e implementando um sistema de licenciamento atualizado. "A lei se concentrou em três objetivos principais: prevenir a atividade criminosa no jogo, garantir que o jogo seja conduzido de forma justa e transparente e proteger crianças e indivíduos vulneráveis de possíveis danos potenciais nas apostas", explicou em entrevista ao Correio.
"À época, pouquíssimos mercados haviam regulamentado as apostas esportivas e o Reino Unido não tinha muitos exemplos em todo o mundo para estruturar a nova regulamentação. O principal desafio foi equilibrar o crescimento do setor de gambling, garantindo que as regulamentações fossem rigorosas o suficiente para evitar danos relacionados a esse tipo de jogo e que a receita tributária adequada fosse definida sem afastar as operadoras", disse a britânica.
Quando questionada sobre quais lições aprendidas no Reino Unido poderiam ser aplicadas ao contexto brasileiro, Lindley destacou que é provável que a regulamentação precise ser adaptada e não estará certa na primeira vez. "É importante ficar atento à evolução do setor e ao funcionamento das regulamentações, e estar preparado para fazer os ajustes necessários. A autoexclusão, o match fixing (manipulação de resultados), a avaliação da acessibilidade econômica e a publicidade foram tópicos importantes no Reino Unido e tiveram um foco adicional desde a introdução do regulamento original em 2005", pontuou.
"Atualmente, os cassinos e as empresas de apostas patrocinam camisas de futebol e outros aspectos em eventos esportivos. A publicidade é uma das áreas que foram revisadas desde a introdução da regulamentação de jogos de azar no Reino Unido e, em 2023, o governo concluiu uma consulta com o setor para revisar a extensão da publicidade em todo o setor", observou a diretora.
Os patrocínios de apostas têm se mostrado uma fonte vital de receita para muitos clubes de futebol, ajudando a cobrir despesas e financiar operações. No entanto, eles também levantam questões sobre a ética e o impacto social das apostas. A influência das casas de apostas no futebol pode levar a debates sobre o equilíbrio entre benefícios financeiros e as responsabilidades sociais associadas ao jogo.
À medida que os clubes continuam a negociar acordos significativos com casas de apostas, é crucial observar como esses patrocínios afetam o esporte e a sociedade. A transparência e a responsabilidade na promoção e operação de apostas serão essenciais para garantir que os benefícios financeiros não venham à custa de práticas prejudiciais.
Para a executiva de marketing e negócios Fátima Bana, fundadora e líder na Rent, o mercado de apostas esportivas no Brasil está em crescente ascensão, e a regulamentação desse setor é fundamental para garantir um desenvolvimento sustentável e responsável. "Recentemente, diversas portarias foram publicadas para orientar a exploração das apostas de quota fixa (incluindo apostas esportivas e jogos on-line). Por isso, vamos discutir como essas regulamentações impactam o setor e como o marketing pode ser usado de forma positiva para promover o jogo recreativo de maneira saudável, evitando excessos e vícios", afirmou Bana.
"Uma dessas portarias interministeriais estabelece que a Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda é responsável por autorizar a exploração comercial das apostas de quota fixa", emendou.
Segundo a especialista, há outra portaria que detalha as regras e condições para que agentes econômicos privados possam obter autorização para explorar comercialmente as apostas de quota fixa em todo o Brasil. "Essas medidas são essenciais para criar um ambiente seguro e controlado para as apostas esportivas, protegendo operadores e apostadores", disse. "Com essas regulamentações em vigor, é possível criar campanhas que incentivem o jogo responsável e recreativo, minimizando os riscos de vício", frisou.
*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro
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