A nave espacial Starliner, da Boeing, completou sua jornada de volta à Terra neste sábado (7/9), mas os astronautas que ela deveria estar transportando permaneceram na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês).
A cápsula vazia chegou ao Estado americano do Novo México, após viajar em modo autônomo desde o laboratório espacial que orbita nosso planeta.
A situação da Starliner, que sofreu problemas técnicos após ser lançada com os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams, da Agência Espacial Americana (Nasa), foi considerada muito arriscada para trazê-los de volta.
A dupla retornará à Terra na nave Crew Dragon, da empresa do bilionário Elon Musk SpaceX, mas não antes de fevereiro.
Isso fará com que a estadia dos astronautas passe dos oito dias previstos para oito meses.
Após o retorno da Starliner, um porta-voz da Nasa disse que estava satisfeito com o pouso bem-sucedido, mas gostaria que tudo tivesse ocorrido como planejado originalmente.
O voo de retorno durou seis horas.
Após reentrar na atmosfera da Terra, paraquedas foram usados para desacelerar a descida ao aeroporto espacial White Sands, no Novo México, às 2h deste sábado, no horário de Brasília.
A Nasa informou anteriormente que Butch e Suni estavam de bom humor e em contato frequente com suas famílias.
Steve Stich, gerente do programa de tripulação comercial da Nasa, disse que os dois astronautas são apaixonados por seus trabalhos. "Eles entendem a importância agora de seguir em frente e... de trazer o veículo de volta em segurança."
Este foi o primeiro voo de teste da espaçonave Starliner, da Boeing, com astronautas a bordo.
No entanto, foi marcado por problemas logo após seu lançamento no Cabo Canaveral, na Flórida, em 5 de junho.
A cápsula apresentou vazamentos de hélio, que impulsiona o combustível para o sistema de propulsão, e vários de seus propulsores não funcionaram adequadamente.
Engenheiros da Boeing e da Nasa passaram meses tentando entender esses problemas técnicos, mas, no final de agosto, a agência espacial dos EUA decidiu que a Starliner não era segura o suficiente para trazer os astronautas de volta.
Em uma coletiva de imprensa após o pouso, Steve Stich, da Nasa, disse: "De uma perspectiva humana, todos nós estamos felizes com o pouso bem-sucedido, mas há uma parte de nós - todos nós - que gostaria que tivesse sido como planejado."
"Tínhamos planejado que a missão aterrissasse com Butch e Suni a bordo."
Stich acrescentou que "claramente há trabalho a ser feito" e que levaria "um tempo" para determinar o que acontecerá a seguir.
A coletiva de imprensa teve a participação apenas de funcionários da Nasa. Dois representantes da Boeing, que deveriam estar presentes, não compareceram.
Quando questionado sobre a ausência, o oficial da Nasa Joel Montalbano disse que a Boeing decidiu "conceder à Nasa" a representação da missão.
A Boeing divulgou um comunicado "reconhecendo o trabalho das equipes da Starliner para garantir um desacoplamento, reentrada e pouso bem-sucedidos e seguros".
A empresa afirmou ainda que "revisará os dados e determinará os próximos passos" para o programa.
Stich admitiu anteriormente que houve "tensão na sala" entre a Boeing e a Nasa enquanto a decisão de não trazer os astronautas de volta na Starliner estava sendo tomada, com a Boeing argumentando que sua espaçonave poderia retornar com segurança com a dupla a bordo.
"A equipe da Nasa, devido à incerteza, não conseguiu se sentir confortável com isso", disse ele.
O plano de usar uma nave da empresa rival SpaceX trouxe um atraso significativo no retorno dos astronautas.
O tempo extra é para permitir que a SpaceX lance seu próximo veículo, previsto para o final de setembro.
Ele deveria ter quatro astronautas a bordo, mas, em vez disso, viajará com dois. Isso deixa espaço para Butch e Suni se juntarem a eles no veículo para retornar à Terra em fevereiro.
Dana Weigel, gerente da Estação Espacial Internacional, disse que os astronautas estão se adaptando bem à missão prolongada. Ambos já completaram anteriormente duas estadias de longa duração no espaço.
Ela mencionou que a dupla está realizando os programas de exercícios necessários para manter a saúde no ambiente sem gravidade.
Além disso, acrescentou que os astronautas têm todo o equipamento necessário para a estadia não planejada de oito meses.
"Quando os enviamos pela primeira vez, eles estavam usando muitas das roupas genéricas que temos a bordo, mas agora substituímos algumas dessas coisas", disse ela.
Weigel explicou que uma missão de reabastecimento em julho entregou "itens específicos" que a dupla havia solicitado.
"Então, eles agora têm todo o equipamento padrão de expedição que qualquer outro membro da tripulação poderia selecionar. E temos outro veículo de carga chegando, então enviaremos qualquer outra coisa que eles precisem para a segunda metade da missão nesse voo."
Os problemas com a Starliner foram, sem dúvida, um golpe para a Boeing, que já enfrenta perdas financeiras e luta para recuperar sua reputação após incidentes recentes em voos comerciais e dois acidentes fatais há cinco anos.
Depois de tantos problemas, um pouso sem complicações, mesmo que sem os astronautas, é um resultado bem-vindo para a empresa - e para a Nasa.
"Passaremos por alguns meses de análise pós-voo", disse Steve Stich. "Há equipes começando a avaliar o que precisamos fazer para certificar completamente o veículo no futuro."
A agência espacial dos EUA enfatizou seu compromisso com a espaçonave da Boeing - ter duas empresas americanas capazes de levar astronautas ao espaço é uma meta importante para a Nasa há algum tempo.
Quando a frota de veículos espaciais foi aposentada em 2011, os EUA passaram uma década dependentes apenas da espaçonave Soyuz, da Rússia, para transportar sua tripulação e carga - uma situação que a Nasa admitiu estar longe do ideal.
Assim, em 2014, a Boeing e a SpaceX foram contratadas para fornecer voos espaciais comerciais para astronautas da Nasa - o contrato da Boeing foi de US$ 4,2 bilhões (R$ 23,4 bi), enquanto a SpaceX recebeu US$ 2,6 bilhões (R$ 14,5 bi).
Até agora, a SpaceX enviou nove voos tripulados ao espaço para a Nasa, além de algumas missões comerciais, mas esta foi a primeira tentativa da Boeing em uma missão tripulada.
A viagem da Starliner já havia sido adiada por vários anos devido a contratempos no desenvolvimento da espaçonave. Dois voos não tripulados anteriores, em 2019 e 2022, também sofreram problemas técnicos.
No entanto, o administrador da Nasa, Bill Nelson, disse estar 100% certo de que a espaçonave voaria com uma tripulação a bordo novamente.
Fonte: correiobraziliense
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