19 de Setembro de 2024

Com asilo na Espanha, Edmundo González deixa Venezuela


Opositor de Nicolás Maduro, Edmundo González Urrutia pediu asilo político à Espanha e deixou a Venezuela neste fim de semana. Segundo a vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, o ex-candidato estava asilado na embaixada espanhola em Caracas, e o governo aceitou a saída dele em prol da "tranquilidade e da paz política no país". O ministro das Relações Exteriores espanhol, José Manuel Albares, confirmou o aceite do pedido de asilo e afirmou que "o governo da Espanha está comprometido com os direitos políticos e a integridade física de todos os venezuelanos".

González e sua esposa embarcaram na noite de sábado (7/9) em um avião da Força Aérea espanhola, pousando ontem (8) na base Torrejón de Ardoz, perto de Madrid, pouco depois das 11h (horário de Brasília). "Confio que em breve continuaremos a luta para alcançar a liberdade e a recuperação da democracia na Venezuela", disse o ex-diplomata, em áudio divulgado por sua equipe após chegar ao país europeu.

A fuga ocorre dias após um mandado de prisão contra o ex-diplomata por crimes eleitorais, solicitado pelo Ministério Público (MP) e aceito pela Justiça venezuelana na última segunda-feira (2). Ele é acusado de publicar cópias de mais de 80% das atas de votação em um site, defendendo sua vitória com mais de 60% dos votos na eleição de 28 de julho. No entanto, o governo afirma que o material é repleto de inconsistências.

Segundo o MP, aliado ao presidente Nicolás Maduro, o pedido de prisão foi apresentado após González ignorar três intimações para prestar depoimento. O ex-diplomata, por sua vez, denunciou que o órgão estava atuando como um "acusador político" e argumentou que, caso comparecesse, seria submetido a um processo "sem garantias de independência".

A líder da oposição, María Corina Machado, declarou que a saída do presidente eleito da Venezuela foi necessária para "preservar sua liberdade e sua vida" em meio a uma "brutal onda de repressão". "Sua vida corria perigo, e as crescentes ameaças, citações, mandados de prisão e, inclusive, tentativas de chantagem e coação de que foi objeto demonstram que o regime não tem escrúpulos nem limites em sua obsessão em silenciá-lo e tentar subjugá-lo", publicou no X (antigo Twitter).

Horas depois, Corina anunciou que, "no dia 10 de janeiro de 2025, o presidente eleito Edmundo González Urrutia será empossado como presidente constitucional da Venezuela e comandante das Forças Armadas nacionais. Que isso fique bem claro: Edmundo lutará de fora junto à nossa diáspora, e eu continuarei fazendo isso aqui, ao lado de vocês".

Ainda no domingo (8), o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, disse que a fuga de Urrutia representa o fim de "uma comédia". "Eu diria que termina a breve temporada de uma peça humorística, de um gênero que eu poderia dizer de comédia, de teatro bufão", ironizou Saab.

Desde a proclamação da vitória de Maduro, com 52% dos votos, ocorreram protestos em todo o país. Estados Unidos, União Europeia e nações da América Latina rejeitaram o resultado anunciado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e pediram uma verificação dos votos, mas o CNE adia a entrega das atas, alegando que foi alvo de um ataque cibernético. O conselho afirma, porém, que a invasão hacker não pôde alterar os votos, que são protegidos por sistema analógico próprio.

No sábado, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, chamou González de "herói que a Espanha não vai abandonar", durante reunião do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) em Madrid. Além dele, pronunciou-se o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, afirmando que "é um dia triste para a democracia na Venezuela" e ressaltando que, "na democracia, nenhum líder político deveria ser forçado a buscar asilo em outro país". "A UE insiste que as autoridades venezuelanas acabem com a repressão, as detenções arbitrárias e o assédio contra membros da oposição e da sociedade civil, assim como libertem todos os presos políticos", diz Borrell em comunicado.

O venezuelano Rufo Chacon, 21 anos, vive atualmente na Espanha, em razão da opressão que sofria em seu país natal. Chacon afirma que Edmundo González conta com o apoio da população, "pois estava sendo perseguido por esse governo corrupto". "Se o tivessem capturado, ele teria sido torturado e desaparecido como muitos venezuelanos", diz ao Correio.

O jovem teve de fugir da Venezuela com a mãe e a irmã, de 7 anos. "Queriam sumir comigo. Sou o sobrevivente que pode falar e mostrar ao mundo como o governo nos tortura. Me deixaram cego, ainda tenho 47 fragmentos de balas no rosto. Eles me perseguiram e tentaram matar minha mãe, pois ela denunciava cada ato de perseguição."

Rufo Chacon
Rufo Chacon, 21, teve de fugir com a família após ameaças e tortura (foto: Arquivo pessoal)

Para Rufo, a esperança tem nome: María Corina Machado. "Uma mulher forte e honesta que tem estado à frente, lutando por nossa liberdade." Enquanto ele e sua família não podem voltar à Venezuela, tentam viver com o mínimo no país europeu. "Foi muito difícil sair do meu país e vir à Espanha pedir asilo. Já faz um ano e um mês, e não posso estudar ou trabalhar. Minha mãe tenta trabalhar para nos sustentar. Espero que, em algum momento, haja uma resolução e que nos apoiem."

Jose Vicente Carrasquero Aumaitre, professor de ciência política da Universidad Central de Venezuela (UCV), afirmou que a fuga de figuras como Edmundo Gonzalez revela que o regime de Maduro não consegue sustentar uma fachada democrática. "Apesar das tentativas de controlar o sistema eleitoral e manipular os resultados, roubar as eleições não terá sucesso a longo prazo. A comunidade internacional e a maioria do povo venezuelano já não o veem como um líder legítimo e a narrativa da fraude está cada vez mais consolidada."

Uma venezuelana que não quis se identificar afirma ao Correio: "O clima é de proteção contra a arquitetura do terror. Todos em seus nichos. Ativando redes com chaves, que surgem até com civilidade. Ele ainda não falou e acho que não falará", referindo-se ao posicionamento de Maduro diante da fuga de González.

Carolina Silva Pedroso, profa do Departamento de Relações Internacionais da Unifesp, especialista em Venezuela
Carolina Silva Pedroso, professora do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) (foto: Arquivo pessoal)

“É a primeira vez que um candidato presidencial sai do país tão pouco tempo após a realização das eleições, porém outros políticos opositores (inclusive que estavam em prisão domiciliar) conseguiram sair do país ao longo dos últimos anos. Provavelmente a oposição seguirá pressionando enquanto o governo tende a cercar os espaços de atuação desse grupo. O governo de Maduro tem usado todos os mecanismos institucionais para garantir sua permanência no poder e o Judiciário tem sido um de seus aliados mais importantes.”

20/3- Venezuela emite ordem de prisão contra seis opositores

28/7- Venezuelanos vão às urnas eleger o presidente

29/7- Reeleição de Maduro é declarada. Ele expulsa o corpo diplomático da Argentina e mais seis países. Argentina pede ajuda ao Brasil

31/7- Ministério das Relações Exteriores do Brasil atende ao pedido, e afirma que irá assumir a custódia da embaixada da Argentina na Venezuela

1/8- Brasil assume diplomacia da Argentina em Caracas

6/9- Forças da Venezuela cercam Embaixada da Argentina e a luz do local é cortada

7/9- Venezuela revoga custódia do Brasil sobre a embaixada da Argentina

8/9- Edmundo González foge para a Espanha sob asilo, cinco dias após mandado de prisão pelo regime de Maduro

Fonte: correiobraziliense

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