A cidade de São Paulo amanheceu nesta segunda-feira (9/9) com a pior qualidade de ar do mundo, de acordo com o ranking suíço IQAir, que opera uma plataforma com cerca de 120 grandes cidades com dados meteorológicos gerados por governos, instituições de pesquisas e organizações sem fins lucrativos.
No domingo, a capital paulista já aparecia, junto com Porto Velho (RR) e Rio Branco (AC), no topo da lista, todas com índices "muito insalubres", de acordo com o monitoramento suíço.
O "corredor de fumaça" das queimadas que e espalhou pelo Brasil nas últimas semanas, somado à baixa umidade do ar em grande parte do país, deixaram o ar carregado de partículas em várias regiões do Brasil.
A baixa umidade fez com que o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) lançasse, nesta segunda, um alerta laranja de perigo para 12 estados e o Distrito Federal.
Além do DF, os estados deGoiás, Bahia, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Rondônia, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraná, São Paulo e Maranhão podem ficar com a umidade abaixo de 20%.
Diante deste cenário, as recomendações para se proteger incluem atenção redobrada com a hidratação, utilizar purificadores de ar ou toalhas molhadas e bacias d'água espalhadas pela casa, e fechar as janelas durante os horários com maior concentração de partículas de fumaça.
Essas recomendações fazem parte de um comunicado do Ministério da Saúde realizado no fim de agosto.
A pasta também pede que a população evite “atividades físicas em horários de elevadas concentrações de poluentes do ar, e entre 12 e 16 horas, quando as concentrações de ozônio [um tipo de poluente] são mais elevadas”.
Cobrir o nariz e a boca com máscaras cirúrgicas, panos, lenços ou bandanas, podem ajudar a reduzir a exposição às partículas grossas, especialmente para aqueles que moram em regiões onde há focos de queimadas.
O uso de máscaras como aquelas que foram usadas durante a pandemia, - a N95, a PFF2 e a P100 - também é recomendado para filtrar as partículas mais finas.
O ar de 99% da população mundial não é saudável e excede os limites de poluentes determinados pela Organização Mundial da Saúde.
Em algumas partes do mundo, a qualidade do ar melhorou rapidamente com políticas destinadas a limitar a poluição. Mas outros lugares correm o risco de perder a melhoria alcançada da qualidade do ar.
Nos Estados Unidos, mais de 25% da população está exposta a ar considerado "não saudável" pela Agência de Proteção Ambiental do país (EPA, na sigla em inglês), segundo um relatório da organização climática First Street Foundation.
Estima-se que o número de pessoas expostas a dias "não saudáveis" aumente em mais da metade até 2050. E os piores dias de poluição do ar (os dias "perigosos" ou marrons, segundo a classificação da EPA) devem aumentar em 27%.
Para contextualizar melhor esta situação, existe um tipo de poluição do ar chamado PM2.5. Ele é composto de "material particulado" que mede 2,5 micrômetros ou menos – cerca de 30 vezes menor que a espessura de um fio de cabelo humano.
Essas partículas minúsculas podem ser formadas por uma mistura de substâncias líquidas e sólidas. Sua composição química é variável e inclui carbono, metais e compostos orgânicos.
Esses grupos de poeira, fuligem e outras substâncias suspensas no ar podem causar inflamações. E essas inflamações podem gerar lesões das conexões neurais do cérebro.
Um estudo concluiu que 25% da poluição causada por PM2.5 nos Estados Unidos vem da fumaça de incêndios florestais. Este índice chegou à metade no oeste do país.
Em 2023, grandes partes dos Estados Unidos sofreram queda significativa da visibilidade e da qualidade do ar, quando a fumaça dos incêndios florestais ao norte da fronteira com o Canadá se espalhou pelo continente.
As pessoas portadoras de condições respiratórias pré-existentes e os recém-nascidos com os pulmões em desenvolvimento são os mais prejudicados pela fumaça dos incêndios florestais.
Como as mudanças climáticas devem aumentar o risco de incêndios florestais em todo o mundo, a qualidade do ar provavelmente irá piorar ainda mais. E, enquanto os incêndios florestais se intensificam, a poluição do ar afeta nossos corpos de maneiras profundas e inesperadas.
Os incêndios florestais não são apenas um problema local para as pessoas que moram perto das florestas, turfeiras e pastagens. O fogo pode enviar nuvens de fumaça até 23 km de altitude na estratosfera, de onde elas se espalham por todo o planeta.
Em 2023, a fumaça dos incêndios florestais da Sibéria, alimentados por temperaturas acima do normal, atravessou o Oceano Pacífico, atingindo o Alasca e a cidade de Seattle, nos Estados Unidos.
Os riscos à saúde causados pela poluição do ar gerada pelos incêndios florestais dependem do tipo de material que estiver pegando fogo.
Em 2020, na Sibéria, havia turfa e resina da floresta boreal. O incêndio liberou um volume recorde de poluição, incluindo altas quantidades de mercúrio.
O material particulado PM2.5 normalmente liberado pelos incêndios florestais também foi relacionado a condições respiratórias.
Já se descobriu que a fumaça dos incêndios florestais é prejudicial para certas células imunológicas dos pulmões. Sua toxicidade é quatro vezes maior que a dos particulados de outras fontes de poluição.
E, à medida que a fumaça envelhece, a situação piora. Um estudo demonstrou que a toxicidade da fumaça dobra nas horas que se seguem à sua emissão, atingindo um pico de quatro vezes a sua toxicidade inicial.
"Mesmo alguém que esteja longe de uma fonte de incêndio ainda pode ter sua saúde prejudicada pela inalação de fumaça oxidada e altamente diluída", afirmou à BBC o químico atmosférico Athanasios Nenes, do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça.
Existem cada vez mais evidências de que a poluição do ar não afeta apenas a nossa saúde física, mas também a saúde mental.
A poluição do ar foi relacionada a dificuldades de julgamento, desempenho mais fraco na escola e até níveis mais altos de criminalidade. Os pesquisadores destacam a exposição prolongada a poluentes como PM2.5.
Mas a análise do quadro não é uma tarefa fácil. A exposição à poluição do ar é muito desigual. Apesar do que pode parecer, nem todos respiram ar da mesma qualidade.
Muitas vezes, as regiões mais poluídas de uma cidade são os bairros mais pobres. Estas são áreas que também sofrem com outros problemas que afetam a saúde, o desempenho educacional e os níveis de criminalidade.
Outros fatores, como o investimento em educação, a alimentação, o fumo, o uso de drogas e o consumo de álcool, também podem causar efeitos prejudiciais.
Ainda assim, os pesquisadores estão cada vez mais preocupados com os possíveis efeitos da poluição do ar sobre a nossa saúde mental.
O mecanismo exato ainda é objeto de debates, mas os cientistas acreditam que as inflamações causadas pela poluição do ar também podem afetar o metabolismo do corpo.
Pesquisas relacionaram a poluição suspensa no ar, como PM 2.5, à obesidade. Crianças que moram nas áreas mais poluídas, por exemplo, têm o dobro da probabilidade de serem consideradas obesas.
Existem cada vez mais evidências de que a poluição do ar pode estar relacionada ao desenvolvimento de condições como o diabetes tipo 2.
Uma análise profunda estimou que 20% do ônus global causado pelo diabetes tipo 2 podem ser atribuídos à exposição a PM2.5. E outros estudos indicaram que mais um tipo de poluição que mereceu poucos estudos até agora – os microplásticos suspensos no ar – também pode prejudicar os hormônios que regulam o nosso metabolismo.
A exposição ao ar tóxico também pode estar prejudicando o nosso olfato.
Um estudo de 2021 concluiu que pessoas que sofriam de perda do olfato (anosmia) em Baltimore, no Estado americano de Maryland, moravam em regiões com níveis "significativamente altos" de PM2.5.
E um estudo italiano concluiu que o nariz dos adolescentes e jovens adultos fica menos sensível aos odores após a exposição a dióxido de nitrogênio, que é um dos componentes da fumaça do tráfego de veículos.
Cientistas afirmam que as partículas de poluição causam inflamações e eliminam lentamente os nervos dos bulbos olfativos, que incluem as informações de cheiro do nariz para o cérebro.
A anosmia afeta desproporcionalmente as pessoas mais idosas. Um estudo realizado na Suécia identificou forte associação entre altos níveis de poluição e redução do olfato em pessoas com 60 anos de idade ou mais.
Quase todas as pessoas do mundo respiram ar poluído de alguma forma. Mas os mais atingidos pela poluição do ar também são aqueles que têm menos condições de se proteger dela.
Estima-se que os 716 milhões de pessoas com a renda mais baixa do mundo morem em áreas com níveis inseguros de poluição do ar.
Mesmo nos países desenvolvidos e relativamente ricos da Europa e da América do Norte, a conta da poluição do ar recai principalmente sobre os menos favorecidos ou sobre as minorias que enfrentam desigualdades sistêmicas.
Uma das principais fontes desses particulados finos é a queima de combustíveis fósseis, particularmente a gasolina e o diesel dos veículos. Eles podem penetrar profundamente nos pulmões e chegar ao fluxo sanguíneo, onde se acredita que aumentem os níveis de inflamação.
Os particulados do ar foram relacionados a uma série de problemas de saúde crônicos, incluindo doenças cardíacas, problemas pulmonares e câncer.
Nos Estados Unidos, a poluição causada por PM2.5 é a maior ameaça ambiental à saúde. Pessoas negras e minorias enfrentam maior exposição aos poluentes no país do que pessoas brancas não hispânicas.
As regiões mais pobres da Europa também tendem a enfrentar níveis de concentração de PM2.5 um terço mais altas que as dos países mais ricos.
Para mapear as longas viagens da poluição do ar pelas correntes atmosféricas, cientistas contam com estações de monitoramento que retiram amostras constantes da qualidade do ar.
Uma dessas estações é o Observatório Zeppelin, na minúscula cidade de Ny-Ålesund em Svalbard, na Noruega – um vilarejo com população de apenas 45 pessoas no inverno.
Localizada a 1.230 km do Polo Norte, a cidade cresceu com a mineração de carvão, na primeira metade do século 20. Hoje, ela é um dos lugares com o ar mais limpo do planeta.
Mas isso também está mudando. Os níveis de metano vêm crescendo no ar em volta da cidade, bem como a concentração de sulfato, metais e particulados.
Outro candidato ao título de ar mais puro do mundo fica no extremo noroeste da Tasmânia, na Austrália: o Cabo Grim, ou Kennaook, onde os ventos chegam do Oceano Glacial Antártico sem encontrar barreiras.
O ar antártico não atravessa massas de terras nem regiões povoadas pelo caminho, de forma que não fica poluído por fontes locais como a fumaça de escapamentos.
Outros locais remotos com ar limpo incluem a estação de Mauna Loa, no Havaí; a ilha Macquarie, a meio caminho entre a Antártida e a Austrália; e a estação Casey, na Antártida.
Mas, para os 99% de nós que moramos longe desse ar puro, algumas das mudanças mais impactantes para ajudar a reduzir a poluição do ar incluem reduzir as emissões de poluentes do transporte nas cidades, adotar formas mais limpas de cozimento, reduzir rapidamente o uso de combustíveis fósseis e uma série de formas de evitar incêndios florestais.
Às vezes, você pode não saber se existem altos níveis de fumaça provenientes de incêndios florestais na sua região.
Se houver um incêndio florestal nas suas proximidades, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos aconselham as seguintes medidas para limitar sua exposição, quando possível:
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.
Fonte: correiobraziliense
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