O primeiro mapa genético do gavião-real, uma das maiores aves de rapina da América do Sul, foi divulgado hoje, na revista "Scientific Reports". O estudo revela que a espécie, também conhecida como harpia, atualmente classificada como vulnerável, está ameaçada por atividades humanas como caça e desmatamento. A harpia enfrenta riscos significativos em seus habitats naturais, que incluem a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal, regiões sujeitas a queimadas e exploração ilegal.
A pesquisa, conduzida por uma equipe de cientistas do Instituto Tecnológico Vale (ITV) e da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), no Brasil, em colaboração com instituições dos Estados Unidos e do Qatar, destaca um declínio populacional acelerado do gavião-real nos últimos 20 mil anos. Esse decréscimo pode estar associado à chegada dos humanos na América do Sul. O trabalho é o primeiro a mapear completamente o genoma da espécie, oferecendo novas perspectivas sobre sua evolução e adaptação.
Os dados genéticos foram obtidos a partir da amostra de sangue de uma fêmea resgatada pelo Ibama, após ter sido baleada por caçadores ilegais na floresta amazônica. Alexandre Aleixo, pesquisador titular do ITV e líder do estudo, acredita que o mapeamento genético pode servir como base para a elaboração de um Plano de Ação Nacional para a recuperação do gavião-real. Segundo ele, a abordagem representa um avanço em relação aos métodos anteriores, que se baseavam apenas na estimativa da abundância populacional.
Na foto, gavião-real que, após ter sido resgatado em condições de maus-tratos, recebe cuidados no BioParque Vale Amazônia, em Carajás (PA), um dos principais centros de pesquisa, conservação e educação sobre a biodiversidade da Amazônia na região norte do Brasil
Foto Ricardo Teles
Na foto, gavião-real que, após ter sido resgatado em condições de maus-tratos, recebe cuidados no BioParque Vale Amazônia, em Carajás (PA), um dos principais centros de pesquisa, conservação e educação sobre a biodiversidade da Amazônia na região norte do Brasil
Foto Ricardo Teles
O estudo também evidencia que o gavião-real é uma das poucas aves de rapina ameaçadas pela caça ilegal. De acordo com estimativas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), existem entre 100 e 250 mil indivíduos maduros da espécie, que está em declínio. O novo mapa genético não apenas melhora a compreensão da espécie, mas também viabiliza a formulação de estratégias de conservação mais eficazes.
Conforme os pesquisadores, o trabalho gerou novas informações sobre a evolução do gavião-real e de espécies relacionadas. A análise mostrou ainda que, ao contrário do que se pensava, as aves de rapina não seguem a mesma tendência de uniformidade cromossômica observada em outras aves, desafiando as generalizações sobre a genética dessas espécies.
Os cientistas pretendem expandir o trabalho em duas frentes. A primeira envolve o sequenciamento do genoma de mais gaviões-reais para identificar populações geneticamente diversas e as mais ameaçadas. A segunda se concentra na ampliação do mapeamento para incluir outros 80 genomas de referência, como parte da iniciativa Genômica da Biodiversidade Brasileira.
Segundo Aleixo, a equipe já tem 54 outras harpias cujo material genético foi sequenciado por completo. "Não no mesmo nível de detalhe e resolução que esse que saiu, mas a partir desse outro conjunto de dados a gente vai poder saber qual a população está mais ameaçada, qual a população pode fornecer indivíduos para serem introduzidos em outros locais que estão precisando de diversidade genética", disse ele. "A partir desses estudos que a gente vai ter uma ideia diferente sobre como manejar a diversidade genética da harpia, algo essencial para a manutenção da espécie a longo prazo."
O pesquisador do ITV também frisou que o grupo tem genomas de referência para outras 80 espécies da biodiversidade brasileira. "É um número ainda muito pequeno para a fauna. Os répteis, por exemplo, a gente só tem genomas completos para quatro ou cinco espécies."
"Esse mapeamento já entra como um dos produtos do plano de ação nacional. Ele vai ser o principal insumo para que a gente consiga mapear diversidade genética na espécie toda, seja a partir de indivíduos na natureza, seja a partir de indivíduos da natureza, ou de cativeiro." Alexandre Aleixo, pesquisador titular do ITV e líder do estudo
No Brasil são reconhecidas 50.313 espécies de plantas e 125.251 de animais A flora ameaçada corresponde a cerca 42,7%
A fauna ameaçada chega a 9%
A Mata Atlântica tem o maior número de espécies avaliadas: 11.811, e a maior quantidade ameaçada: 2.845
O Cerrado vem em seguida, com 1.199 espécies em risco
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