19 de Setembro de 2024

Logística reversa é caminho para aumento da reciclagem do PET


As embalagens produzidas a partir do material PET (Polietileno Tereftalato) — constituído por uma resina termoplástica — podem ser reutilizadas em diversas aplicações na indústria. Da confecção de camisas, fitas adesivas e tintas, à matéria-prima para a produção de asfalto nas rodovias, elas servem para inúmeras possibilidades.

No entanto, o setor enfrenta um período mais desafiador, com pontos de coleta e reciclagem subutilizados e produção estagnada. “Estamos passando por momentos difíceis. Tem recicladoras paradas porque não tem material para abastecer. Não tem coleta”, afirma o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), Auri Marçon. “Não tendo coleta seletiva, não tem material reciclado para se abastecer. Hoje, 90% do PET reciclado vêm de catadores, sucateiros e cooperativas”, completa o líder da entidade.

Grande parte das garrafas ainda são despejadas em locais inadequados e não recebem o tratamento correto de descarte. Mais de 340 mil toneladas de PET não foram reutilizadas em 2021 — dado mais recente —, o que pode gerar problemas de saúde para a população das grandes cidades, além de contaminar o solo e os rios.

Um dos principais desafios relacionados ao descarte do plástico é evitar a destinação incorreta, que pode gerar a proliferação de microplásticos nos oceanos, causando malefícios à biodiversidade marinha. Para evitar esse risco cada vez maior, a indústria do PET busca maneiras de intensificar a logística reversa, que é o processo de fabricação de produtos voltado para o retorno da embalagem original ao primeiro estágio de produção. Outra demanda do setor é o incentivo à coleta seletiva. Cerca de um terço dos municípios brasileiros não possui esse tipo de serviço para a limpeza urbana, de acordo com o último Anuário da Reciclagem, realizado pelo Instituto Pragma. Além disso, apenas 4% de todo o PET reciclado que retorna às indústrias foram obtidos por meio da coleta seletiva, em todo o país.

“O reaproveitamento de materiais por meio da reciclagem apresenta um potencial interessante para o país por favorecer o reencontro da matéria-prima com a cadeia de produção e por contribuir para a redução da exploração agressiva de matérias -primas virgens, algo que desgasta cada vez mais o meio ambiente”, avalia o consultor de Sustentabilidade da BMJ Consultores Associados, Felipe Ramaldes. Para o especialista em saneamento básico, Leandro Frota, as desigualdades regionais do país são um dos principais problemas no que se refere à coleta de embalagens PET e de outros resíduos sólidos.

De acordo com a pesquisa Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2023, da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), enquanto na região Sul, 31,9% da população urbana é atendida pela coleta de porta em porta, apenas 1,9% é atendida no Nordeste. “Esse distanciamento dos centros urbanos acaba sendo muito ruim, primeiro, porque os municípios, que são o eixo que cuida da questão do saneamento, tanto os resíduos quanto o saneamento básico, a maioria é das cidades. Elas não têm estrutura de pessoal e estrutura orçamentária”, aponta o especialista. O serviço também é considerado caro. Em 2022, mais de R$ 29 bilhões foram destinados à limpeza urbana pelas prefeituras.

Além da coleta seletiva, o presidente da Abipet, Auri Marçon, elenca outros dois desafios para o avanço da reciclagem das garrafas PET no país: a construção de grandes centros de triagem para separar os materiais recicláveis e o aumento do número de cooperativas de catadores. “O PET tem um índice de reciclagem altíssimo. E a capacidade instalada no Brasil é tão grande que não tem coleta suficiente”, argumenta.

O mercado de reciclagem de produtos PET gera uma receita equivalente a R$ 3,6 bilhões no Brasil, sendo que cerca de 40% são destinados aos que estão na linha de frente, como sucateiros, catadores e cooperativas. Os dados são do 12º Censo da Reciclagem do PET no Brasil, divulgado em 2022, que ainda mostra que 359 mil toneladas, ou 56,4% das embalagens descartadas pelos consumidores no país chegaram a locais onde serão reciclados e devolvidos ao mercado na forma de outros produtos em 2021.

A principal destinação da resina obtida com a PET reciclada retorna para os fabricantes de preformas e garrafas, que representam 29% desse total. Nesse contexto, incluem-se as indústrias de água, refrigerantes, energéticos e outras bebidas não alcoólicas, além de produtos de limpeza e cuidados pessoais. Este processo é conhecido como “bottle to bottle” (garrafa para garrafa, em tradução literal), que é utilizado somente por embalagens em grau alimentício, por determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Um estudo inédito realizado pela Abrapet mostra que, se comparadas às latas de alumínio e às embalagens de vidro, as garrafas de água PET de 500 ml de volume utilizam menos água no processo de fabricação. No caso do vidro, essa diferença chega a 86%. Além disso, essas embalagens também têm potencial 94% inferior na geração de material particulado que causa doenças respiratórias, na comparação com o vidro. No caso das garrafas de refrigerante de 2 litros, essa diferença apresenta uma leve queda, com a utilização de menos 64% de água durante a produção, em relação à embalagem de alumínio e 88% inferior à embalagem de vidro.

O estudo também considera o potencial de mudança climática com a produção dessas garrafas, que chega a ser 44% inferior em relação ao alumínio e 93% na comparação com o vidro. Os dados são da pesquisa Análise do ciclo de vida da embalagens PET para alimentos líquidos. Se comparado aos outros resíduos sólidos gerados no Brasil, a garrafa PET possui uma taxa de reciclagem muito elevada. O último Índice Nacional de Recuperação de Resíduos (IRR), de 2021, aponta que apenas 1,67% de todos os resíduos sólidos foi reutilizado, reciclado ou aproveitado energeticamente. Além disso, as projeções mais otimistas indicam que essa variável pode chegar a até 4%.

Fonte: correiobraziliense

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