Um homem armado se escondeu por quase 12 horas em arbustos antes do ex-presidente americano Donald Trump jogar uma partida de golfe não programada em seu clube à beira-mar na Flórida — deixando os moradores locais chocados com o que as autoridades dizem ser a segunda tentativa de assassinato contra o candidato republicano à presidência em poucos meses.
Era uma tarde de domingo (15/9) quente e nublada quando Trump e um amigo, o empreendedor imobiliário Steve Witkoff, chegaram ao Trump International Golf Club, em West Palm Beach.
O ex-presidente estava no quinto buraco às 13h31 (horário local), uma área adjacente a estradas movimentadas perto do Aeroporto Internacional de Palm Beach, quando um membro de sua equipe de segurança avistou o cano de um rifle saindo dos arbustos no sexto buraco.
Trump — que foi retirado do local ileso — contou na noite de segunda-feira (16/9) que ouviu "provavelmente quatro ou cinco" tiros a uma curta distância.
Um agente do Serviço Secreto agiu rápido, abrindo fogo na direção do suspeito, que estava a cerca de 300 a 500 metros de distância — e não tinha um campo de visão livre para mirar em Trump, informaram investigadores federais.
"O Serviço Secreto percebeu imediatamente que eram tiros, e eles me agarraram", afirmou Trump durante um evento transmitido ao vivo no X (antigo Twitter), de seu resort em Mar-a-Lago.
"Entramos nos carrinhos de golfe, e saímos de lá bem rápido. Eu estava com um agente, e o agente fez um trabalho fantástico."
O homem armado — que os investigadores dizem não ter disparado nenhum tiro — estava escondido em meio aos arbustos impecáveis e palmeiras altas que margeiam o perímetro do campo que tem um total de 27 buracos.
Ele estava escondido lá, do lado público de uma cerca, desde 1h59 (horário local) da manhã de domingo, de acordo com registros de telefone celular, citados por autoridades federais.
O suspeito estava equipado com duas câmeras digitais, um saco plástico preto com comida, um rifle semiautomático estilo SKS — uma arma com alcance de quase 400 metros — e uma mira telescópica.
O último evento de campanha publicamente agendado do candidato republicano à presidência havia sido na noite de sábado (14/9), do outro lado do país, no Estado de Utah.
Os moradores locais dizem que Trump passa quase todos os domingos no clube de golfe de West Palm Beach quando não está fazendo campanha.
Mas o diretor do Serviço Secreto, Ronald Rowe, afirmou na segunda-feira (16/9) que "nem era para o ex-presidente estar lá", de modo que os agentes tiveram que preparar um plano de segurança no último minuto.
O atentado frustrado suscitou algumas perguntas entre os vizinhos de Trump, em Palm Beach.
Será que o suspeito sabia que o ex-presidente ia jogar golfe ou foi só um palpite?
Como ele conseguiu passar despercebido por tanto tempo, se escondendo nos arbustos com um rifle?
O suspeito escapou do local em um Nissan preto, deixando para trás a arma e sua mochila com equipamentos.
Uma mulher conseguiu tirar uma foto da placa do carro dele, e entregar aos investigadores, contou Trump na noite de segunda-feira.
A fuga durou cerca de 40 minutos, até ele ser parado por policiais na rodovia Interestadual 95, e ordenado a sair do carro.
Imagens de câmera corporal mostram que ele parecia calmo, enquanto os policiais gritavam para ele se afastar antes de algemá-lo sem incidentes.
Na segunda-feira, o suspeito Ryan Routh, de 58 anos, compareceu ao tribunal de Palm Beach, vestindo um macacão azul de presidiário e sorrindo enquanto conversava com seu advogado. Um grande número de pessoas compareceu ao tribunal para acompanhar a audiência.
Ele foi acusado por posse de arma de fogo sendo criminoso condenado e por posse arma de fogo com número de série adulterado. Outras acusações ainda podem ser feitas.
Routh, um morador do Havaí com antecedentes criminais, havia entrado no radar do FBI, a polícia federal americana, em 2019 por ser um criminoso condenado em posse de uma arma de fogo. O FBI avisou a polícia em Honolulu na época.
Embora o motivo para supostamente planejar atacar Trump não ter sido revelado, o suspeito havia dito no passado nas redes sociais que votou no republicano em 2016 antes de se desiludir com ele.
No perímetro do campo de golfe de Trump na segunda-feira, cones de cor laranja, barricadas, carros de polícia e agentes policiais protegiam todos os cantos do clube.
O incidente chocou West Palm Beach e cidades vizinhas.
"Não importa quanta segurança você tenha e tudo mais, se alguém estiver disposto a dar sua vida para tirar a de outra pessoa, isso pode acontecer", afirmou à BBC Shelby Stevens, de 52 anos, um apoiador de Trump de West Palm Beach.
Cosme Blanco, de 61 anos, morou a maior parte da sua vida a apenas alguns quarteirões do campo de golfe, que Trump frequenta, segundo ele, até duas vezes por semana quando não está em campanha.
O apoiador de Trump disse que a presença de segurança ao redor do clube de golfe não costuma ser ostensiva. Mas tudo mudou no domingo, quando Blanco correu para fora de casa cinco minutos após os disparos, e viu helicópteros sobrevoando o bairro.
"Fiquei preocupado. Vou fazer 62 anos, e nunca vi os EUA mudarem tanto", afirmou o imigrante cubano.
Blanco disse que não seria difícil para um suspeito mirar em Trump em seu campo de golfe.
O ex-presidente foi até lá em uma comitiva que levaria cerca de 12 minutos a partir de Mar-a-Lago, a residência dele, atravessando uma ponte com vista para a lagoa de Lake Worth.
"Se eles virem a comitiva chegando, tenho certeza de que, naquele momento, sabem que ele vai jogar golfe — é senso lógico", acrescentou Blanco.
Mas Anka Palitz, moradora de Palm Beach que diz conhecer Trump pessoalmente há anos, observou que o momento escolhido por Routh era suspeito.
"Ele não joga golfe todo domingo", ela disse. "Acho que há uma conspiração."
"Como ele [o atirador] não foi visto?", acrescentou.
Palitz, que contou que costumava esquiar com a ex-mulher de Trump, Ivana, afirmou acreditar que alguém deve ter alertado o suspeito de que o ex-presidente estava indo para o campo de golfe naquele dia.
Patricia Pelham, uma britânica que mora na Flórida há 30 anos, se perguntou como o suspeito conseguiu estacionar seu carro perto o suficiente para fugir tão rápido.
"Como é que não havia segurança em volta, do lado de fora?", questionou Pelham, acrescentando que não apoiava Trump.
Pelham disse que as medidas de segurança aumentaram em torno de Mar-a-Lago, na ilha de Palm Beach, desde que Trump foi ferido durante uma tentativa de assassinato em um comício na Pensilvânia, em julho, quando um homem de 20 anos abriu fogo a partir de um prédio.
Na segunda-feira, havia carros da polícia nas estradas da ilha a praticamente cada 800 metros, e o resort de 7 hectacres ficou fechado para visitantes.
As autoridades disseram que todo o campo de golfe teria sido cercado se no gramado estivesse um presidente dos Estados Unidos em exercício.
Depois de culpar a retórica da Casa Branca pela última suposta tentativa de matá-lo, Trump disse na noite de segunda-feira que havia tido uma "conversa muito agradável" por telefone com o presidente americano, Joe Biden, sobre aumentar a proteção do Serviço Secreto.
Biden, um democrata, pediu ao Congresso na segunda-feira que aprovasse mais verba para a agência nas próximas semanas, argumentando que o Serviço Secreto "precisa de mais ajuda".
Michael Matranga, um ex-agente do Serviço Secreto que trabalhou para o ex-presidente Barack Obama, observou que Trump tem uma segurança melhor do que muitos outros ex-presidentes, que normalmente recebem menos proteção do que os titulares da Casa Branca.
Ele destacou, por exemplo, que ex-presidentes não costumam ter equipes de combate a atiradores de elite como Trump.
O Serviço Secreto tem enfrentado forte escrutínio desde a primeira tentativa de assassinato de Trump — a líder da agência, Kimberly Cheatle, renunciou menos de duas semanas após o incidente.
As autoridades da agência disseram que o Serviço Secreto conta atualmente com poucos recursos.
Mas mesmo com recursos extras, Matranga lembra que os agentes são forçados a encontrar um equilíbrio delicado entre proteger Trump e, ao mesmo tempo, permitir que ele se envolva com os eleitores na campanha eleitoral — e "aproveite uma partida de golfe".
Eles não podem simplesmente "mantê-lo em uma caixa à prova de balas", explica Matranga.
Nem Trump parece querer ser colocado em uma.
Em um e-mail de arrecadação de fundos enviado na tarde de segunda-feira, ele disse a seus apoiadores: "Minha determinação só ficou mais forte depois de outro atentado contra minha vida!"
É o tipo de atitude "forte" que Stevens espera que Trump mantenha enquanto continua a cortejar os eleitores nas semanas que antecedem a eleição presidencial de novembro.
"Do meu ponto de vista, ele não vai querer que o povo americano saiba que ele tem medo de sair", disse Stevens.
"Acho que ele ainda vai marcar presença, não apenas aqui, mas em todos os lugares. Não acho que ele vai se esquivar disso."
Fonte: correiobraziliense
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