22 de Novembro de 2024

Desastre do submersível Titan: 5 questões-chave não respondidas até hoje


Era o submersível que prometia uma viagem inesquecível: a chance de descer 3.800 m (12.500 pés) até as profundezas do Atlântico para avistar os destroços do Titanic.

Mas um mergulho do submarino Titan, da Oceangate, no ano passado, deu terrivelmente errado.

A embarcação sofreu uma falha catastrófica ao se aproximar do fundo do mar, e todas as cinco pessoas a bordo morreram.

A Guarda Costeira dos EUA deu início a uma audiência pública no dia 16 de setembro para investigar as causas do desastre — do design não convencional do submarino até os avisos de segurança ignorados e a falta de regulamentação nas profundezas.

O submarino Titan começou sua descida na manhã de 18 de junho de 2023.

A bordo estavam o CEO da Oceangate, Stockton Rush, o explorador britânico Hamish Harding, o mergulhador veterano francês Paul Henri Nargeolet, o empresário britânico-paquistanês Shahzada Dawood e o filho dele, Suleman, de 19 anos.

A Guarda Costeira dos EUA foi notificada mais tarde naquele dia, após a embarcação não ressurgir, dando início a uma vasta operação de busca e resgate.

O mundo assistiu e esperou por notícias do submarino desaparecido. Mas em 22 de junho os destroços foram descobertos a cerca de 500 m (1.600 pés) da proa do Titanic. O Titan implodiu apenas uma hora e 45 minutos após o mergulho.

Estas são cinco perguntas-chave que ainda precisam ser respondidas.

Quem estava dentro do Titan podiam manter contato com o navio de apoio, o Polar Prince, com mensagens de texto enviadas pelo sistema de comunicação de bordo.

O registro dessas trocas pode revelar se havia alguma indicação de que o submarino estava com problemas.

A embarcação também tinha um dispositivo de monitoramento acústico — microfones fixados no submarino que captariam sinais de que ele estivesse entortando ou quebrando.

"Stockton Rush estava convencido de que se houvesse uma falha iminente do submersível eles receberiam um aviso sonoro por esse sistema", explica Victor Vescovo, um importante explorador de águas profundas.

Mas ele disse ser altamente cético de que haveria tempo suficiente para o submarino retornar à superfície. "A questão é quão rápido esse aviso aconteceria?"

Se não houve problemas aparentes durante a descida e os alarmes não tiverem soado, as pessoas a bordo podem não ter estado cientes de seu destino iminente.

A implosão foi instantânea. Não teria havido tempo para os passageiros sequer notarem o que estava acontecendo.

Especialistas forenses buscam a origem da falha nos destroços do Titan.

Foram levantadas várias questões relacionadas ao design.

A janela de visualização foi classificada para uma profundidade de apenas 1.300 m (4.300 pés) pelo fabricante, mas o Titan estava mergulhando quase três vezes mais fundo.

O casco do Titan também tinha um formato incomum — cilíndrico, em vez de esférico. A maioria dos submarinos de águas profundas tem um casco esférico, que distribui igualmente o efeito da forte pressão das profundezas do oceano.

Além disso, o casco do submarino era feito de fibra de carbono, um material não convencional para embarcações de águas profundas.

Metais como titânio são os mais comumente usados, pois são confiáveis ??sob pressões tão intensas.

"A fibra de carbono é considerada um material imprevisível (nas profundezas do oceano)", explica Patrick Lahey, CEO da Triton Submarines, uma fabricante relevante nesse mercado.

A cada vez que o submarino Titan ia em direção ao Titanic — e ele havia feito vários mergulhos — a fibra de carbono era comprimida e danificada.

"Estava ficando progressivamente mais fraco porque as fibras estavam quebrando", disse ele.

As junções entre diferentes materiais também foram motivo de preocupação. A fibra de carbono estava presa a dois anéis de titânio, criando pontos fracos.

Patrick Lahey disse que a indústria de submarinos comerciais tinha um histórico de segurança antigo e respeitado.

"A engenhoca Oceangate foi uma aberração", disse ele à BBC News.

Navios, aeronaves e veículos operados remotamente (ROVs) foram enviados ao Atlântico para tentar encontrar o Titan.

Alguns dias após o início da busca, houve relatos de ruídos subaquáticos captados pelo sonar de um avião de busca, levantando a possibilidade de que estivessem vindo do submarino.

ROVs foram enviados para localizar a fonte, mas não encontraram nada.

Ainda não está claro quais eram os sons - o oceano é barulhento e ainda mais durante uma operação como essa.

Um som submarino mais pertinente foi detectado pelo sistema de sonar da Marinha dos EUA no momento em que o submarino desapareceu - um sinal acústico consistente com uma implosão. A informação só foi tornada pública no dia em que os restos do Titan foram encontrados.

Não se sabe quando a Guarda Costeira dos EUA foi informada do barulho - ou se as famílias e amigos que esperavam no navio de apoio do submarino foram informados.

Eventualmente, os robôs de águas profundas retornaram para onde o Titan havia desaparecido e os destroços foram encontrados.

Rory Golden, que estava na expedição Oceangate quando o contato foi perdido, disse recentemente à BBC que aqueles a bordo do navio de superfície passaram por quatro dias de medo e "falsa esperança".

Havia muita preocupação em torno do submarino da Oceangate.

Victor Vescovo diz que estava tão preocupado que pediu a vários passageiros que não mergulhassem no Titan - incluindo seu amigo Hamish Harding, um dos cinco que morreram.

"Eu disse a ele, de forma inequívoca, que ele não deveria entrar no submarino", disse ele.

Preocupações relacionadas à segurança também foram levadas diretamente à Oceangate - inclusive pelo ex-diretor de operações marítimas da empresa, David Lochridge, que avaliou o submarino enquanto ele estava sendo desenvolvido.

Documentos judiciais dos EUA de 2018 revelam que Lochridge identificou inúmeras e "sérias preocupações de segurança" e a falta de testes poderia "sujeitar os passageiros a um potencial perigo extremo em um submarino experimental".

Engenheiros da Marine Technology Society também disseram que a abordagem experimental da Oceangate poderia resultar em "resultados negativos (de menores a catastróficos)" em uma carta compartilhada com Stockton Rush.

Em uma troca de e-mails mostrada à BBC News no ano passado, o especialista em águas profundas Rob McCallum disse a Rush que o submarino não deveria ser usado para operações comerciais de mergulho profundo e que colocava os passageiros em uma "dinâmica perigosa".

Em resposta, Rush disse que "estava cansado de membros da indústria que tentam usar um argumento de segurança para impedir a inovação" e rejeitou os avisos de que mataria alguém como "infundados".

Com a morte do CEO da Oceangate, nunca seremos capazes de perguntar por que ele escolheu não ouvir essas preocupações. Mas as audiências públicas podem revelar quem mais na empresa sabia sobre elas - e por que nenhuma ação foi tomada.

Os submersíveis de águas profundas podem passar por uma extensa avaliação de segurança realizada por organizações marítimas independentes e especializadas, como o American Bureau of Shipping (ABS) ou a DNV (uma organização global de acreditação sediada na Noruega).

A Oceangate optou por não submeter o Titan a esse processo.

A avaliação teria confirmado se a embarcação - desde seu projeto até a construção, testes e operações - cumpria determinados padrões.

A maioria dos operadores opta por ter seus submarinos de águas profundas certificados - mas isso não é obrigatório.

Rush descreveu seu submarino como "experimental" e, em uma post em um blog em 2019, ele argumentou que a certificação "desacelerava a inovação".

Em uma troca de e-mail com Rob McCallum, ele disse que não precisava de um pedaço de papel para mostrar que o Titan era seguro e que seus próprios protocolos e o "consentimento informado" dos passageiros eram suficientes.

Os passageiros do Titan pagaram até US$ 250.000 (£ 191.135) por um lugar no submarino. Todos eles tiveram que assinar um termo de responsabilidade.

O empresário irlandês Oisin Fanning fez dois mergulhos no Titan em 2022 — e estava no último realizado antes do desastre fatal do submarino.

Ele disse que a equipe da Oceangate levava a segurança a sério, com briefings extensos antes de cada descida. Mas não ficou claro para ele que o Titan não era certificado.

"Eu estaria mentindo se dissesse que não achava que algo assim já não tinha sido feito — que estava em conformidade com certas normas", disse ele.

"Todos nós sabíamos que o Titan era experimental. Estávamos muito confiantes, porque obviamente houve alguns mergulhos antes, e parecia estar funcionando bem."

As audiências públicas durarão duas semanas. A esperança é que as respostas que surgirem possam evitar que um desastre semelhante aconteça novamente.

Fonte: correiobraziliense

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