19 de Setembro de 2024

Líbano: Explosões de walkie-talkies do Hezbollah matam 20


A milícia xiita libanesa Hezbollah ainda assimilava o ataque sem precedentes da véspera, quando centenas de pagers explodiram, matando 12 pessoas e ferindo 2.750. Na tarde desta quarta-feira (18/9), uma nova onda de explosões, desta vez de walkie-talkies e dispositivos de biometria utilizados pelos integrantes do grupo, deixou 20 mortos e causou lesões em 450. Um dos aparelhos foi detonado durante o funeral de vítimas dos atentados de terça-feira. Todos os incidentes foram registrados em um subúrbio do sul de Beirute, considerado bastião do Hezbollah. Em dois dias, o Líbano contabilizou 32 mortos e 3,2 mil feridos.

Uma fonte da segurança libanesa disse à agência France-Presse que os pagers, usados para envio de mensagens, "estavam programados para explodir e continham materiais explosivos inseridos junto à bateria". O jornal The New York Times divulgou que eles foram fabricados em Taiwan e receberam a carga explosiva antes de chegarem ao Hezbollah. A empresa taiwanesa Gold Apollo, suposta fabricante, esclareceu que os equipamentos foram montados na Hungria pela companhia BAC.

Israel não comentou os incidentes. No entanto, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, reconheceu o "início de uma nova fase da guerra". "O centro de gravidade (da guerra) está se deslocando para o norte. Recursos estão sendo alocados (para essa frente), declarou. Hoje, o líder máximo do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah, deve fazer um raro discurso e falar sobre a retaliação.

"As explosões de pagers e de walkie-talkies representam os mais graves ataques sofridos pelo Hezbollah em seus 42 anos. Elas equivalem a um atentado de 11 de setembro para o grupo e revelam o enorme e intransponível fosso tecnológico e de inteligência existente entre o Hezbollah e seus inimigos israelenses", afirmou ao Correio Habib Malik, professor aposentado de história da Universidade Libanesa Americana (em Beirute).

De acordo com ele, a milícia xiita ficou exposta, ao ser penetrada em todos os níveis pela inteligência de Israel. "O Hezbollah mostrou-se indefeso ante tais ataques tecnológicos sofisticados. A operação foi muito precisa na escolha de alvos. A um custo muito baixo, milhares de combatentes foram eliminados ou ficaram gravemente feridos, inviabilizados para a guerra", acrescentou Malik.

Resposta

O professor da Universidade Libanesa Americana aposta que as tensões aumentarão na região. Ele não descarta que o Hezbollah mantenha ataques de baixo nível em áreas do norte de Israel, perto à fronteira. "Mas isso será interpretado como resultado de fraqueza e de indecisão. Eventuialmente, e no momento que Israel desejar, uma guerra massiva com o Hezbollah parece inevitável, pois não será possível o retorno de 80 mil israelenses para suas casas e vilas, no norte do país, sem a neutralização da ameaça do Hezbollah", explicou Malik.

Imagens de pagers pertencentes ao Hezbollah destruídos pela explosão de terça-feira, em local não divulgado
Imagens de pagers pertencentes ao Hezbollah destruídos pela explosão de terça-feira, em local não divulgado (foto: AFP)

Ele reforçou que um grande confronto com o Hezbollah parece quase certo. "O norte de Israel está pronto para choques contínuos em várias frentes, que podem fluir e refluir de forma descontrolada até as eleições americanas, em 5 de novembro. Depois disso, o cálculo poderá ser modificado por Israel."

Para Emily Harding — diretora do Programa de Inteligência, Segurança Nacional e Tecnologia do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, em Washington) —, as operações no Líbano foram "extraordinariamente sofisticadas e efetivas". "Ataques à cadeia de suprimentos exigem extensiva coleta de dados de inteligência, o recrutamento da pessoa certa no lugar certo, e a habilidade técnica para construir um item que pareça normal e acima de qualquer suspeita", disse ao Correio.

Professor de relações internacionais da Universidade de Nova York, o iraquiano-americano Alon Ben-Meir avaliou que a mensagem enviada por Israel ao Hezbollah é de que o Estado judeu detém tecnologia para infligir um número importante de baixas no grupo. "Outro aviso é o de que Israel está na posição de precipitar o caos no Líbano e criar pânico", afirmou à reportagem. O estudioso vê uma mensagem ao regime do Irã. "Os ataques no Líbano alertam o governo iraniano que Israel tem as ferramentas eletrônicas mais avançadas para alvejar instalações civis ou militares."

Habib Malik, professor aposentador de história da Universidade Libanesa Americana (em Beirute)
Habib Malik, professor aposentado de história da Universidade Libanesa Americana (em Beirute) (foto: Arquivo pessoal)

"Os recentes ataques representam um duríssimo golpe para o Hezbollah, para suas habilidades e sua reputação. Com certeza, esta é, de longe, a mais grave violação de segurança da história do grupo. As fileiras do grupo estão em desordem. O seu líder, xeque Hassan Nasralla, enfrenta um dilema nada invejável: será condenado se retalia e se não reagir. Qualquer resposta provocará um contra-ataque israelense rápido e devastador. Qualquer falta de ação do Hezbollah será vista como fraqueza, covardia ou mesmo capitulação — uma situação em que nenhuma força de combate gostaria de estar."

Habib Malik, professor aposentador de história da Universidade Libanesa Americana (em Beirute)

Emily Harding, diretora do Programa de Inteligência, Segurança Nacional e Tecnologia do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, em Washington)
Emily Harding, diretora do Programa de Inteligência, Segurança Nacional e Tecnologia do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, em Washington) (foto: Arquivo pessoal )

"A escala do ataque é enorme. Pelo menos centenas de combatentes do Hezbollah ficaram gravemente feridos, e muitos desses ferimentos os impedirão de retornar à luta. Isso é uma vitória para Israel, que tem antecipado um ataque massivo do Hezbollah por meses. Além disso, o Hezbollah agora está questionando todos os seus dispositivos de comunicação, o que impedirá muito o funcionamento do grupo."

Emily Harding, diretora do Programa de Inteligência, Segurança Nacional e Tecnologia do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, em Washington) 

Fonte: correiobraziliense

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