Estive na Alta Galileia e nas Colinas do Golã, fronteiras com o Líbano e com a Síria, em março de 2023. Na ocasião, também visitei o sul de Israel, na fronteira com a Faixa de Gaza. Sete meses depois, o movimento fundamentalista islâmico Hamas explodiria a cerca de aço fortificado que divide o território ocupado palestino de Israel. Ao mesmo tempo, a milícia xiita libanesa Hezbollah começou a atacar o norte do território israelense, levando o governo do premiê Benjamin Netanyahu a retirar às pressas cerca de 100 mil judeus de suas casas, deslocando-os mais para o sul.
Perto do moshav de Zar'it, um muro divide Israel do Líbano. Naquela região, o Hezbollah escavou o túnel Shtula. Com 70m de profundidade, a galeria subterrânea começou a ser aberta a partir do assoalho de uma casa, no vilarejo de Ramiya, a cerca de 1km, no lado libanês da fronteira. Eu e mais 10 colegas jornalistas brasileiros avançamos até os 45km de profundidade, equivalentes a um prédio de 14 andares. Pelo caminho, vimos um sistema de canalização de oxigênio e cabos de eletricidade. A visita terminou em uma espécie de base de comunicação do Hezbollah: na parede, protegido por uma redoma de vidro, um interfone usado para contatos com a superfície.
Assim que saímos do túnel, usei a minha câmera Canon Sx50HS e ativei o zoom de 50 vezes na lente em direção a arbustos à minha frente, do outro lado do muro. Flagrei um homem de suéter verde, boné e calça bege, misturando-se à vegetação e quase que imperceptível. Ele segurava uma câmera e disparava cliques em direção ao nosso grupo. Tudo na região exala tensão. Em 1967, a Guerra dos Seis Dias levou à captura do Golã por Israel, envolveu uma coalizão de países árabes (Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Arábia Saudita) contra o Estado judeu e terminou com mais de 20 mil mortos.
A partir do mirante sobre a Montanha Har Addir, na Alta Galileia, pudemos ter uma ampla visão dos vilarejos no sul do Líbano e no norte de Israel. As casas escondem um arsenal de 200 mil mísseis e foguetes Katyusha prontos para serem usados pelo Hezbollah contra Israel. Alon Friedman, general de brigada da reserva das Forças de Defesa de Israel, nos explicou que praticamente cada casa dos vilarejos funciona como um posto de observação, um centro de comando, um paiol de armas do Hezbollah ou um ponto de preparação para a próxima guerra. Depois dos ataques sem precedentes com a explosão de pagers e de walkie-talkies, em 17 e 18 de setembro, uma guerra parece cada vez mais provável.
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