Devido ao agravamento da estiagem no país, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) recomendou, ontem, a volta da adoção do horário de verão. No entanto, o governo federal ainda pretende avaliar o cenário nos próximos 10 dias, de acordo com o ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira.
Se a medida for adotada, ela poderá valer ainda neste ano e não necessariamente em todo o verão. As declarações do ministro foram dadas, ontem, após a reunião do ONS, em que foi aprovado um indicativo de que é prudente adotar o horário de verão. A entidade enviou um documento ao Ministério de Minas e Energia (MME) no qual recomendou a volta do adiantamento em uma hora do horário normal a partir do ano de 2025, a fim de desestressar o sistema elétrico nos horários de pico.
De acordo com o cálculo feito pela entidade sem fins lucrativos, o Brasil pode ter uma economia em torno de R$ 400 milhões, caso o horário de verão retorne a partir do próximo ano. Esse valor considera a redução no acionamento das usinas termelétricas e a maior participação do abastecimento solar nas residências e estabelecimentos comerciais, além de indústrias, iluminação pública e outros exemplos.
Apesar da recomendação, Silveira deixou claro que o governo não deve correr contra o tempo para definir, ou não, a volta do horário de verão, extinto durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). "Caso seja decretado, teremos um tempo de planejamento para que os setores se adequem. É uma decisão que mexe com a vida de todos os brasileiros", afirmou o ministro. "Temos, hoje, uma política de planejamento do setor elétrico muito alicerçada na ciência e na busca do equilíbrio entre segurança energética e melhor tarifa para a população. E com base nisso, vamos analisar a situação", afirmou.
O encontro ocorreu no Rio de Janeiro, na sede do ONS, que é responsável por coordenar e controlar as operações de geração e transmissão de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN). Estiveram presentes técnicos do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. "Foram apresentados dados objetivos da crise hídrica que estamos atravessando no Brasil. O Cemaden vem medindo os índices pluviométricos nacionais nos últimos 74 anos, desde 1950. E temos hoje o menor índice de todo esse período", relatou o ministro.
Alexandre Silveira afirmou que, apesar da indicação da ONS, não há risco energético em 2024 graças ao planejamento adotado. Por isso, a adoção do horário de verão ainda será melhor avaliada. No entanto, o ministro destacou que é preciso pensar a longo prazo, com o olhar em 2025 e 2026. Ele afirmou que é necessário serenidade para avaliar alternativas e conversar com os setores interessados, antes de avançar na discussão do assunto.
Silveira ainda disse ter ouvido técnicos e especialistas, que destacaram os motivos para o retorno do horário de verão. Apesar disso, ele alegou não ter se convencido da utilidade da medida para o país no momento e destacou que não há risco de uma nova crise energética no país, mesmo no "pior cenário" da seca que atinge diversas regiões do Brasil.
"Demonstrou-se que (a volta do horário de verão) tem uma grande economicidade, um aumento da nossa confiabilidade no momento da necessidade de energia de ponta, mas considerando a tranquilidade de que não faltará energia no Brasil, eu não estou convencido. Quero buscar outros instrumentos, antes de decretar", destacou o titular do MME.
Apesar de não representar uma economia significativa para os cofres públicos, um decreto que estabelece a volta dessa medida poderia representar um avanço na utilização de energias mais renováveis, como a solar, visto que, nesse caso, haveria mais uma hora de incidência da luz do sol, de acordo com o professor de engenharia elétrica da Universidade de Brasília (UnB) Ivan Camargo. Ele acredita que o retorno do horário de verão seria uma "importante sinalização para a necessidade de se usar energia de forma racional".
"Reduzir o consumo no final da tarde é importante. Finalmente, eu diria que tem que ser feita uma escolha razoável entre os estados que devem entrar no horário de verão^, uma vez que aqueles que ficam próximos do Equador não tem mudança significativa no números de horas com luz solar durante o verão", avaliou o professor.
Ainda não há confirmação sobre os próximos passos desta pauta. O tema deve ser levado para análise do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos próximos dias. Apesar disso, Silveira reforçou que o anúncio da recomendação do ONS serve como um alerta para os agentes da economia se organizarem e planejarem um possível retorno do horário de verão.
"Eles têm que considerar essa possibilidade. Agora, como eu volto a dizer, em nenhum momento, o comitê apontou para risco energético nesse período. É prudente que a gente se debruce com mais cuidado com essa medida que vai mexer com a vida de todos os brasileiros e brasileiras", completou o ministro. (Com informações da Agência Brasil)
Fonte: correiobraziliense
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