Meio bilhão de fãs, uma fortuna pessoal multimilionária e um império empresarial global.
Seria necessário algo de grandes proporções para destronar o maior influenciador do YouTube, Jimmy Donaldson, também conhecido como MrBeast.
Mas um processo judicial de 54 páginas pode ser seu maior desafio até agora.
Cinco participantes do programa Beast Games, previsto para ser exibido no Prime Video, plataforma de streaming da Amazon, entraram com um processo contra a produtora de MrBeast, a MrB2024, e a Amazon em Los Angeles.
Anunciado como o maior reality show de competição de todos os tempos, o Beast Games vai contar com 1.000 participantes, que vão disputar um prêmio de US$ 5 milhões quando o programa for ao ar — ou se for ao ar. Com o processo judicial, o programa entrou em uma crise.
Entre muitas páginas editadas para ocultar ou remover informações confidenciais, o documento judicial inclui alegações de que as participantes "sofreram particular e coletivamente" num ambiente que "fomentou sistematicamente uma cultura de misoginia e sexismo".
Isso atinge em cheio a imagem de MrBeast como um dos caras mais bacanas da internet.
Dei uma olhada no documento, que inclui sugestões de que os participantes estavam "mal alimentados e exaustos". As refeições eram fornecidas "esporadicamente e de forma esparsa", o que "colocava em risco a saúde e o bem-estar" dos participantes, segundo a alegação.
Um trecho do documento, em que quase todas as alegações são ocultadas da vista do público, afirma que os réus "criaram, permitiram a existência e promoveram uma cultura, um padrão e uma prática de assédio sexual, inclusive na forma de um ambiente de trabalho hostil".
Em agosto, o jornal americano The New York Times conversou com mais de uma dúzia de participantes do programa (que ainda não foi lançado), e noticiou que houve "várias hospitalizações" no set de filmagem, com uma pessoa dizendo ao jornal que havia passado mais de 20 horas sem se alimentar.
Competidores também alegaram que não haviam recebido sua medicação na hora certa.
A BBC entrou em contato com MrBeast e a Amazon — ele ainda não comentou publicamente o caso.
Mas será que estas acusações vão prejudicar a popularidade do rei do YouTube?
MrBeast não esteve alheio a polêmicas neste ano — e conseguiu escapar ileso todas as vezes.
Em julho, o americano de 26 anos disse que havia contratado investigadores depois que sua ex-coapresentadora Ava Kris Tyson foi acusada de aliciamento de um adolescente.
Ava negou as acusações, mas pediu desculpas pelo "comportamento passado" admitindo que "não era aceitável".
MrBeast disse que estava "enojado" com as "graves alegações".
Mais tarde, vieram à tona novas denúncias sobre práticas comerciais em um canal anônimo do YouTube, alegando ser de um ex-funcionário. A BBC não conseguiu verificar de forma independente as alegações, nem a identidade desta pessoa.
Algumas de suas iniciativas filantrópicas — como a construção de poços na África e o pagamento de cirurgias para pessoas com visão e audição reduzidas — foram alvo de críticas em relação à exploração.
"Pessoas surdas como eu merecem coisa melhor do que a última peça de inspiração pornográfica de MrBeast", disse uma pessoa ao jornal britânico Independent no ano passado.
Mas seu império continua a crescer. Um dia antes de o processo vir à tona na quarta-feira (18/9), ele revelou uma parceria com os influenciadores KSI e Logan Paul — uma nova linha de alimentos desenvolvida para concorrer com a marca americana Lunchables.
E, como escrevi em um artigo sobre sua ascensão meteórica no ano passado, ele ganhou seus milhões com trabalho duro.
Seus vídeos são experiências de orçamento elevado. A mais popular — visualizada 652 milhões de vezes — recria o sucesso Round 6, da Netflix, na vida real, com um prêmio de US$ 456 mil.
A maior parte de sua atividade filantrópica é menos controversa — incluindo a doação de casas, dinheiro e carros —, o que contribuiu para criar a imagem de "mocinho" da internet.
Segundo seu site, ele entregou mais de 25 milhões de refeições a pessoas em necessidade em todo o mundo.
As pessoas continuam acessando seus canais nas redes sociais. Em junho, ele ganhou assinantes suficientes para tornar seu canal no YouTube o maior do mundo.
De acordo com a plataforma de monitoramento de estatísticas Socialblade, MrBeast conquistou mais cinco milhões de assinantes apenas nos últimos 30 dias.
Esta é apenas uma métrica — não podemos dizer quantas pessoas cancelaram a inscrição no canal dele, por exemplo.
O fato é que o número de pessoas que decidiram ativamente parar de assistir a seus vídeos foi ofuscado por aqueles que decidiram se inscrever no canal.
Ele não é o único YouTuber cuja popularidade se mantém apesar de polêmicas — outros se viram diante de tempestades muito mais turbulentas do que MrBeast, e poucos enfrentaram muitas consequências além de um pedido público de desculpas.
Logan Paul enfrentou uma reação negativa de grandes proporções, em 2018, depois de publicar um vídeo para seus 15 milhões de assinantes que mostrava o corpo de uma pessoa que aparentemente havia tirado a própria vida.
Depois de remover o vídeo original, ele compartilhou um pedido de desculpas de menos de dois minutos intitulado simplesmente: "Sinto muito".
Hoje, ele tem 23 milhões de assinantes, é dono de uma marca de bebida esportiva incrivelmente popular e, até agosto, era campeão de WWE (evento de luta) nos Estados Unidos. Ele também participou de algumas lutas de boxe em pay-per-view.
Outros youtubers de destaque, incluindo Pewdiepie, James Charles e Jeffree Star, também geraram polêmica — e seguiram com suas carreiras depois de publicar vídeos com pedidos de desculpas.
Um exemplo mais recente é Herschel "Guy" Beahm, conhecido como Dr Disrespect, que admitiu ter enviado mensagens para "um menor" em 2017.
Ele ressaltou que "nada de ilegal aconteceu, nenhuma foto foi compartilhada, nenhum crime foi cometido", e ficou offline por dois meses após publicar o comunicado.
Sua transmissão ao vivo de retorno, no início deste mês, atraiu mais de três milhões de visualizações, apesar das críticas de outros influenciadores de destaque.
Dr Disrespect continua sendo o segundo streamer mais assistido nos EUA neste ano, de acordo com a plataforma Streams Charts.
A questão é: os youtubers tendem a ser perdoados rapidamente.
Embora a base de fãs de MrBeast continue crescendo, a polêmica está ganhando força — e seu próximo passo pode determinar seu sucesso a longo prazo.
James Lunn, diretor de estratégia da agência Savvy Marketing, diz que o astro está "numa posição incrivelmente única", com uma marca "multifacetada" que abrange vários setores.
"Estamos, de fato, em águas desconhecidas", ele observa.
"Uma abordagem proativa, abordando as questões de forma transparente e assumindo responsabilidade, poderia proteger sua marca."
A especialista em marcas Catherine Shuttleworth diz que a "magnitude" da fama de MrBeast pode funcionar como um amortecedor contra repercussões negativas, mas o recente processo judicial pode ser desafiador.
"Quando se trata de seus empreendimentos comerciais, especialmente aqueles voltados para famílias e crianças — como as barras de chocolate Feastables ou Lunchly — a história é diferente", diz ela.
"Os pais, que muitas vezes detêm o poder de compra, tendem a ser menos tolerantes com controvérsias que envolvem segurança, justiça e ética."
Em agosto de 2023, ao escrever sobre MrBeast, previ que ele logo seria o "rei" do YouTube, apesar de ter metade do número de assinantes na época.
Agora, ele está enfrentando desafios adicionais à medida que sua fama aumenta, e grande parte da internet está aguardando ansiosamente sua resposta ao que é, até agora, um dos lados de uma história complexa.
Fonte: correiobraziliense
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