O Ministério da Saúde do Líbano diz que 356 pessoas já foram mortas como resultado de ataques israelenses em cidades e vilas no sul do Líbano, desde a manhã desta segunda-feira (23/9).
A pasta afirma que 24 crianças e 42 mulheres estão entre os mortos, enquanto 1.246 outras pessoas ficaram feridas.
Enquanto isso, o Exército de Israel se prepara para o próximo estágio de sua operação no Líbano, disse o chefe das Forças de Defesa de Israel (IDF na sigla em inglês).
"Essencialmente, estamos mirando na infraestrutura de combate que o Hezbollah vem construindo nos últimos 20 anos. Isso é muito significativo. Estamos atacando alvos e nos preparando para as próximas fases", disse Herzi Halevi em uma declaração.
O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, disse que os ataques aéreos de Israel destruíram dezenas de milhares de foguetes do Hezbollah hoje no sul do Líbano e no Vale do Bekaa, no leste.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, alertou que "dias complicados" estão por vir para o país.
Seus comentários foram feitos após uma reunião no quartel-general militar de Kirya em Tel Aviv, onde ele enfatizou que Israel não espera por ameaças, mas, "as antecipa" — referindo-se aos ataques de país no sul do Líbano.
"Prometi que mudaríamos o equilíbrio de segurança, o equilíbrio de poder ao norte [de Israel] — é exatamente isso que estamos fazendo", disse Netanyahu.
O primeiro-ministro do Líbano, Najib Mikati, chamou os ataques de Israel em seu país de um "plano destrutivo que visa arrasar vilas e cidades libanesas".
Mikati disse que as ações de Israel marcam "uma guerra de extermínio em todos os sentidos da palavra".
O líder libanês cancelou sua viagem à Assembleia Geral anual da ONU em Nova York, mas pediu à organização que tome medidas para "dissuadir a agressão".
O assessor especial da Presidência do Brasil, Celso Amorim, afirmou em Nova York, nesta segunda-feira, que o Itamaraty já trabalha para evacuar brasileiros do Líbano, dado o contexto de ataques aéreos de Israel ao país.
"Acho coisa tremendamente revoltante e perigosa porque ali o risco de uma guerra total em um lugar em que tem muitos brasileiros", disse Amorim.
"Aquelas coisas colocadas [pagers e walkie-talkies]... de repente pode explodir na mão de uma criança brasileira que esteja lá. Muito perigoso", complementou o ex-chanceler, em referência aos dispositivos de comunicação do Hezbollah que teriam sido explodidos remotamente em uma ação de Israel.
Celso Amorim afirmou ainda que o histórico para retirada de brasileiros da área não é favorável.
"Em 2006, eu fui até o Líbano naquela ocasião, mas deu muito trabalho de evacuar os brasileiros."
"Tenho certeza que o Itamaraty já esta planejando alguma coisa nesse sentido. Mas a experiência é dura, foram 3 mil brasileiros, e hoje as rotas são mais difíceis porque a rota que ia pelo norte do Líbano, direto para a Turquia, hoje em dia não dá [para ser usada]", diz Amorim.
Em Beirute, a capital do Líbano, a atmosfera é tensa, informa Nafiseh Kohnavard, correspondente de Oriente Médio do serviço persa da BBC.
"Vimos muitos carros com placas do sul do Líbano, alguns com malas amarradas no topo enquanto o interior está completamente lotado", relata a correspondente.
"Está claro que as famílias tentaram se espremer em um carro na pressa de sair de suas casas."
A reportagem da BBC conversou com uma família de cinco pessoas em uma motocicleta. Parecendo exaustos, eles disseram que eram de uma vila no sul, e tinham planos de ir para Trípoli, no norte do Líbano.
"O que você quer que digamos? Nós simplesmente tivemos que fugir", disse o pai, ansiosamente.
Jatos israelenses começaram a intensificar seus ataques no Vale do Bekaa, no nordeste do Líbano. Os militares israelenses emitiram um aviso dando aos civis da área duas horas para deixarem suas casas.
O Vale do Bekaa é considerado um reduto do Hezbollah e foi atingido por Israel nos últimos meses, mas os ataques desta vez parecem muito mais pesados.
O Irã condenou fortemente os ataques aéreos israelenses no Líbano, com o presidente do país, Masoud Pezeshkian, acusando Israel de tentar criar um conflito mais amplo.
Pezeshkian diz que o Ocidente pedia ao Irã que não retaliasse para não prejudicar os esforços por um cessar-fogo em Gaza. "Tentamos não responder", disse o mandatário.
"Eles continuaram nos dizendo que estávamos perto da paz, talvez em uma semana ou mais", acrescentou. "Mas nunca alcançamos essa paz ilusória."
Enquanto isso, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã alertou Israel sobre "consequências perigosas".
Irã e Israel são inimigos desde a revolução islâmica de 1979 no Irã, que trouxe um regime que usou a oposição a Israel como parte fundamental de sua ideologia. O Irã não reconhece o direito de Israel de existir e busca sua erradicação.
A Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil, na sigla em inglês) expressou "grave preocupação" com a segurança de civis no sul do Líbano.
O chefe da missão, o general espanhol Aroldo Lázaro, manteve contato com as autoridades de Libano e Israel, enfatizando a necessidade urgente de desescalada do conflito, informou o órgão.
"Qualquer nova escalada dessa situação perigosa pode ter consequências devastadoras e de longo alcance."
A Unifil, que é uma força de manutenção da paz da ONU, adverte que ataques a civis violam o direito internacional e podem ser considerados crimes de guerra.
Israel expandiu seus ataques aéreos ao Hezbollah para incluir lugares onde diz que o grupo estaria escondendo alguns de seus mísseis de longo alcance mais poderosos, incluindo casas particulares.
Dessa forma, tentando desarmar o grupo, forçando-o a aceitar um cessar-fogo nos termos de Israel.
Mas o Hezbollah não parece estar desistindo. O grupo expandiu o alcance de seus alvos para incluir Haifa, o grande porto comercial de Israel no Mediterrâneo.
"Uma guerra em grande escala ainda não é inevitável – ainda há muito mais danos que ambos os lados podem causar um ao outro. Mas sem um cessar-fogo à vista, é difícil ver qualquer um dos lados recuando", avalia Frank Gardner, correspondente de segurança da BBC.
Análise de Jeremy Bowen, editor de Internacional da BBC News, de Jerusalém
Esta segunda-feira está se tornando o dia mais sangrento no Líbano desde que o Hezbollah atacou Israel em apoio ao Hamas em 7 de outubro do ano passado.
Israel lançou uma série massiva de ataques aéreos esta manhã que até agora mataram 356 pessoas de acordo com o governo libanês e os israelenses estão alertando sobre mais ataques por vir.
A guerra está crescendo rapidamente, um processo que está sendo impulsionado pela escala da ofensiva aérea de Israel.
As forças de defesa israelenses estão alertando os civis para deixarem as áreas que estão alvejando. O próximo, disseram, será o Vale do Bekaa no nordeste do Líbano, que é um reduto do Hezbollah.
Mesmo antes da escalada atual, bem mais de 100 mil libaneses tiveram que deixar suas casas por causa dos ataques israelenses, sem expectativa imediata de poderem retornar.
Estamos vendo mais uma escalada muito grande pelos israelenses.
Talvez o cálculo de Israel seja que eles acreditam que o Hezbollah está em uma posição tão enfraquecida agora que esta é a oportunidade de realmente infligir algum dano ao grupo e mudar o quadro estratégico nas colinas e cidades de ambos os lados da fronteira entre Israel e Líbano.
Enquanto o conflito Israel-Hezbollah está acontecendo há décadas, a guerra atual entre ambos começou no dia seguinte aos ataques do Hamas em 7 de outubro do ano passado.
O Hezbollah iniciou uma campanha limitada, mas contínua, de disparos de foguetes sobre a fronteira, tentando conter as tropas israelenses e danificar propriedades e pessoas.
Cerca de 60 mil israelenses foram forçados a evacuar para o centro do país. Nos últimos dias, devolvê-los às suas casas foi adicionado à lista de objetivos de guerra de Israel.
Estados Unidos e Reino Unido, e outros aliados — e críticos — de Israel acreditam que a única esperança de esfriar esta crise perigosa é obter um cessar-fogo em Gaza.
Hassan Nasrallah, o líder do Hezbollah, disse que os ataques a Israel continuarão até que um cessar-fogo em Gaza aconteça. Mas parece bem claro neste ponto que nem o líder do Hamas nem o líder de Israel estão preparados para aceitar o acordo que os EUA colocaram na mesa.
A guerra em si tem apoio esmagador dos israelenses, embora o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu continue impopular com partes significativas do eleitorado israelense, apesar de uma melhora em suas avaliações.
Muitos israelenses também acham que Netanyahu é um líder terrível que conta mentiras e abandonou os reféns em Gaza. Então ele é um personagem muito controverso, mas apoiado no parlamento pelos direitistas que lhe dão respaldo, ele está politicamente seguro.
Sua decisão de partir para a ofensiva é arriscada.
Embora o Hezbollah esteja ferido, ele tem bastante capacidade para revidar. E é por isso que os amigos e inimigos de Israel ainda estão se preparando para o pior.
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