No sul do Líbano, famílias juntaram seus pertences e seguiram para o norte em carros, caminhões e motocicletas, enquanto os militares israelenses atacavam alvos que, segundo Israel, estavam ligados ao grupo armado xiita libanês Hezbollah.
Nesta terça-feira (24/9), o governo libanês disse que 560 pessoas foram mortas, incluindo 50 crianças, em ataques israelenses desde segunda-feira (23/9).
Alguns moradores contaram ter recebido alertas do Exército de Israel, na forma de mensagens de texto e gravações de voz, para deixar áreas próximas às posições do grupo apoiado pelo Irã.
Zahra Sawli, estudante na cidade de Nabatieh, no sul, disse ao programa Newshour, da BBC, que o bombardeio foi intenso.
"Acordei às 6h da manhã com o som de um bombardeio. Ao meio-dia, começou a ficar bastante intenso, e vi muitos ataques na minha área", disse. "Ouvi muitos vidros quebrando."
Diferentemente de muita gente, Sawli e as pessoas que estavam com ela não saíram de casa — não se atreveram, ela afirmou.
"Para onde devemos ir? Muitas pessoas ainda estão presas nas ruas. Muitos dos meus amigos ainda estão presos no trânsito, porque muita gente está tentando fugir", acrescentou.
No meio do dia, as estradas ao norte, em direção a Beirute, estavam congestionadas, com veículos se dirigindo à capital em ambos os lados de uma rodovia costeira de seis pistas.
Outras imagens mostram pessoas caminhando pela praia na cidade de Tiro, no sul, enquanto a fumaça dos ataques aéreos no interior do país se alastrava.
A BBC conversou com uma família de cinco pessoas que havia chegado a Beirute em uma única motocicleta.
De um vilarejo no sul, eles estavam indo para Trípoli, no norte. Estavam exaustos.
"O que você quer que a gente diga? Nós simplesmente tivemos que fugir", declarou o pai.
Segundo as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), um dos ataques teve como alvo um alto comandante do Hezbollah.
Na capital, também havia uma ansiedade generalizada. Enquanto as pessoas do sul chegavam a Beirute de carro com malas amarradas no teto, alguns moradores da cidade estavam partindo.
Israel alertou a população para se retirar de áreas onde afirma que o Hezbollah está armazenando armas, mas também enviou alertas gravados aos moradores dos distritos de Beirute que não são considerados redutos do Hezbollah, incluindo Hamra, uma área que abriga ministérios do governo, bancos e universidades.
Os pais correram para buscar seus filhos na escola depois de receber mais alertas para deixar a área.
Mohammed, um palestino que está na estrada com a esposa, conversou com a BBC ao sair de Beirute.
Quando perguntamos se ele ficaria na capital, ele disse: "No Líbano, nenhum lugar é seguro, Israel está dizendo que vai bombardear todos os lugares. Agora, eles ameaçaram este bairro, para onde devemos ir então?"
"É assustador, não sei o que fazer — trabalhar, ir para casa, não faço ideia do que fazer."
Enquanto uma equipe da BBC se instalava em um dos lados da estrada, um motorista de táxi gritou perguntando se eles sabiam da crise de combustível que estava acontecendo.
"Tem gente demais vindo para Beirute", ele disse.
As escolas foram convertidas às pressas em abrigos para os fluxos de desalojados provenientes do sul. Por ordem do governo, as escolas em Beirute e Trípoli, assim como no leste do Líbano, foram transformadas em abrigos.
A BBC esteve em uma sala de aula de uma escola pública em Bir Hasan, no oeste de Beirute, na segunda-feira, que estava sendo preparada para receber as pessoas do Vale do Bekaa — um reduto do Hezbollah no nordeste do Líbano, que Israel disse que também tinha como alvo.
As salas de aula estavam repletas de colchões empilhados, que seriam totalmente ocupados até o fim do dia, informaram os trabalhadores no local.
Em paralelo, os hospitais do Líbano também receberam ordens para cancelar todas as cirurgias eletivas na segunda-feira, enquanto os médicos se preparavam para atender as vítimas dos ataques.
Apesar da atmosfera de tensão e incerteza em Beirute, algumas pessoas adotaram um tom desafiador.
"Se uma guerra total acontecer, nós, como povo libanês, devemos permanecer unidos, independentemente de nossas afiliações políticas, porque, no fim das contas, nosso país será bombardeado", disse um homem à BBC.
Outros estavam simplesmente resignados com a violência.
"Se eles querem guerra, o que podemos fazer? Ela foi imposta a nós. Não podemos fazer nada", afirmou à Reuters Mohammed Sibai, dono de uma loja.
Aos 57 anos, Mohammed vive no subúrbio de Dahieyh, no sul de Beirute, a principal base do Hezbollah na capital.
Ele disse à BBC que "sobreviveu a todas as guerras desde 1975" — por isso, "é normal para mim".
"Não vou sair, vou ficar na minha casa", acrescentou.
Fonte: correiobraziliense
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