O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tinha acabado de defender o direito de eliminar o movimento xiita libanês Hezbollah e de ameaçar o Irã, em seu discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Por volta das 11h30 em Nova York (18h30 no Líbano), ele se preparava para responder a perguntas de jornalistas israelenses, quando um assessor militar cochichou algo em seu ouvido. Netanyahu cancelou o compromisso, se retirou da sala e antecipou o retorno a Jerusalém. A aviação israelense lançou bombas antibunker contra o quartel-general da milícia, no distrito de Dahiyeh, na região sul de Beirute, e destruiu seis prédios.
Autoridades israelenses anunciaram que o alvo do ataque foi o xeque Hassan Nasrallah, 64 anos, líder máximo do Hezbollah desde 1992. Até a noite de sexta-feira, não havia confirmação sobre se Nasrallah morreu durante o bombardeio. As Forças de Defesa de Israel (IDF) estimam em pelo menos 300 o número de mortos no ataque aéreo. Na madrugada de hoje (hora local), a Força Aérea israelense eliminou Muhammad Ali Ismail, comandante da Unidade de Mísseis do Hezbollah no sul do Líbano, e seu vice, Hussein Ahmad Ismail, além de outros comandantes e operativos do grupo.
Uma fonte ligada ao movimento informou à agência Reuters que a cadeia de comando da milícia está incomunicável. Sem mencionar Nasrallah, Ali Larijani — conselheiro do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã — afirmou: "A resistência tem líderes e quadros fortes, e cada líder martirizado será substituído". O premiê do Líbano, Najib Mikati, também encerrou as reuniões bilaterais à margem da Assembleia Geral e embarcou para Beirute. Antes, acusou Israel de realizar uma "guerra genocida". "A nova agressão demonstra que o inimigo israelense despreza os esforços internacionais em vistas de um cessar-fogo", declarou. Horas depois do bombaredeio sem precedentes à capital libanesa, o Hezbollah lançou dezenas de foguetes contra o norte de Israel. Um projétil caiu sobre uma casa na cidade de Safed, a 12km da fronteira com o Líbano. Uma mulher se feriu.
À 0h38 deste sábado (18h38 de sexta-feira em Brasília), a farmacêutica paranaense Sara Ali Melhem, 30 anos, moradora de Bmikin, cidade em uma região montanhosa de onde se tem uma visão panorâmica de Beirute, avisou ao Correio: "Acabaram de bombardear". Pouco depois, a agência France-Presse informou que Israel atacou um depósito de armas do Hezbollah. À 1h (hora local), houve mais três explosões. Sara contou que o ataque massivo contra o QG do grupo ocorreu às 12h20 (18h20 no Líbano). "Foi muito forte. O nosso prédio tremeu. As crianças estavam sentadas à mesa, desenhando. Estão traumatizadas e choram. Os aviões jogaram dez bombas."
Habib C. Malik, professor de história aposentado da Universidade Libanesa Americana (em Beirute), disse ao Correio que o Hezbollah está longe de ser uma força esgotada. "Eles começaram a retaliar o golpe massivo. Mas se sua morte for confirmada — e parece cada vez mais provável que ele não esteja mais conosco —, o perigo é que seus apoiadores inundem as ruas daqui de Beirute, destruam bens, tomem posse de propriedades e perpetrem violência. O Exército libanês está se posicionando, em antecipação a tal cenário", comentou. "Israel pode aproveitar essa oportunidade e lançar uma invasão terrestre para acabar com o Hezbollah."
Para Malik, o Irã não deverá escalar o conflito. "O que aconteceu, se confirmado, é, sem dúvida, uma grande mudança de jogo na região; no entanto, o Irã, no final, se importa, primeiro, consigo mesmo", observou. "Seus representantes no Oriente Médio (Hezbollah, milícias iraquianas, separatistas iemenitas huthis) foram criados para servir aos interesses de Teerã, e não o contrário. No entanto, o ataque de hoje (ontem) é um aviso tanto para o Hezbollah quanto para o Irã: 'Podemos pegar vocês em qualquer lugar e hora'. O chamado Eixo da Resistência foi efetivamente derrotado."
Analista político e de segurança em Beirute, Ali Rizk destacou a importância estratégica do bombardeio ao QG do Hezbollah. "Ele mostra como Israel demonstrou imensas capacidades de inteligência, que representam uma ameaça grave e sem precedentes ao Hezbollah. Não temos certeza se o ataque minará o poderio militar do Hezbollah. O que resta saber é se Israel teve sucesso meramente tático ou se terá resultados mais estratégicos", disse à reportagem.
Nações Unidas
O discurso de Netanyahu na ONU foi recebido com um gesto de protesto. Vários delegados, incluindo os do Líbano e dos Territórios Palestinos, deixaram a sala. A delegação brasileira abandonou o local antes que o premiê fosse chamado e retornou ao fim do discurso. "Depois de ouvir as mentiras e calúnias lançadas por muitos dos oradores neste pódio, decidi vir aqui e esclarecer as coisas", avisou. "Enquanto o Hezbollah escolher o caminho da guerra, Israel não terá opção. (...) Tenho uma mensagem para os tiranos em Teerã: se vocês nos atacarem, nós atacaremos de volta."
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