24 de Novembro de 2024

'Não há lugar no Oriente Médio que Israel não alcance', avisa Netanyahu


As forças de Defesa de Israel (IDF) iniciaram nesta segunda-feira (30) no final da tarde, horário de Brasília, madrugada no Oriente Médio, uma ofensiva por terra no Líbano, o que o governo do premiê Benjamin Netanyahu considera a "nova fase" da guerra contra o Hezbollah, em meio a pesados bombardeios que duram pelo menos duas semanas. A incursão ocorre dois dias após a confirmação da morte do líder do grupo extremista, Hassan Nasrallah, atingido por um ataque contra a base do grupo terrorista nos subúrbios de Beirute. O porta-voz principal do IDF, Daniel Hagari, pediu à mídia para "ater-se aos relatórios oficiais e não espalhar rumores irresponsáveis". A Al-Jazeera e a MTV Líbano informaram que tanques israelenses entraram em aldeias no sul do país. Em meio à fuga dos moradores, ao menos duas explosões foram ouvidas.

Brasil fará repatriação de brasileiros que estão no Líbano

As famílias desabrigadas por ataques de Israel no Líbano: 'qual é a culpa das nossas crianças?'

"Estão perto de interesses e instalações pertencentes ao grupo terrorista Hezbollah e, portanto, (o Exército) agirá com força contra eles. Para sua segurança e a de suas famílias, devem sair imediatamente dos edifícios e se afastar a uma distância de pelo menos 500 metros", declarou o porta-voz do IDF.

Horas antes, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou que "não há lugar no Oriente Médio que Israel não possa alcançar". A afirmação ocorreu em meio à ofensiva das Forças de Defesa israelenses, sobretudo a capital Beirute, onde Israel usou os túneis que atravessam a cidade, construídos pelo Hezbollah, como passagens. "O regime iraniano mergulha a região na escuridão e na guerra", afirmou ele, referindo-se ao apoio iraniano ao Hezbollah e à "necessidade" de eliminar líderes do grupo terrorista, como Hassan Nasrallah, e do Hamas, reforçando que Israel está preparado para agir. O Jerusalem Post informa sobre o planejamento do gabinete de segurança é para intensificar os ataques por terra. 

A afirmação de Netanyahu vem à tona após o governo do Irã informar que não pretende enviar combatentes ao Líbano ou a Gaza. O presidente Massud Pezeshkian, havia visitado o escritório do Hezbollah em Teerã para prestar homenagem a Nasrallah, que foi morto por Israel na semana passada. Após a investida da IDF por meio dos túneis construídos pelo Hezbollah, o vice-líder do grupo extremista, Naim Qassim, declarou que eles estão preparados para enfrentar qualquer invasão terrestre.

Israel executa "atualmente" operações terrestres "limitadas" contra o Hezbollah no sul do Líbano, perto da fronteira, informou o Departamento de Estado americano ontem. "Fomos informados que atualmente executam o que dizem que são operações limitadas contra infraestruturas do Hezbollah perto da fronteira", disse a jornalistas o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.

O exército israelense declarou várias partes de sua fronteira norte com o Líbano "zona militar fechada", com vistas a eventuais operações terrestres no país vizinho. "As áreas de Metula, Misgav Am e Kfar Giladi, no norte de Israel, foram declaradas zonas militares fechadas. Entrar nessas áreas é proibido", informou em um comunicado.

O Hezbollah anunciou, por sua vez, ter atacado tropas israelenses na fronteira com o Líbano.

O exército libanês ordenou um reposicionamento de suas tropas no sul, declarou à AFP um militar do Líbano. Os bombardeios israelenses causaram, até o último levantamento, a morte de cerca de mil libaneses, forçando 1 milhão a abandonar suas casas. "A batalha pode ser longa. Venceremos como vencemos em 2006", disse Qassim, referindo-se ao conflito anterior entre Israel e Hezbollah. O primeiro-ministro interino do Líbano, Najib Mikati, declarou que seu governo está pronto para implementar uma resolução da ONU visando a desmilitarização do Hezbollah ao sul do rio Litani.

Para Rodrigo Amaral, professor e analista de política internacional relações internacionais da PUC de São Paulo a possibilidade de que algo efetivo vai barrar as ações israelenses é quase utópica. "Vivemos quase um ano de guerra, quase unilateral por parte de Israel, sem que qualquer mobilização tenha sido feita. Falamos de uma guerra israelense que já vitimou mais de 42 mil civis em Gaza e os números de mortos indiretos ultrapassam 200 mil", afirmou. "Isso porque é respaldado pelos Estados Unidos, o maior fornecedor de armas e suprimentos de guerra."

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou que a organização se opõe a qualquer tipo de invasão terrestre no Líbano. Na Síria, o ministro das Relações Exteriores, Bassam Sabbagh, alertou sobre os riscos de escalada na região e criticou o apoio dos Estados Unidos a Israel. Ele pediu que a comunidade internacional trabalhe para acabar com a "agressão israelense".

Berlim anunciou o envio de um avião militar para retirar cidadãos alemães em situação de vulnerabilidade. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse ser contrário ao movimento de Israel e pediu um cessar-fogo. O Pentágono, por sua vez, aumentou a prontidão de tropas. Um navio da Marinha francesa partiu ontem para se posicionar em frente ao Líbano por "precaução", caso ocorra a evacuação de cidadãos franceses.

Para Gabriel Petter, professor e analista político, o Irã evita confronto direto com Israel para sua preservação. "Os iranianos evitam conflito direto com Israel porque isso pode colocar em risco o atual regime e o conhecido programa nuclear iraniano. O envolvimento direto pode arrastar outras potências para o conflito."

 

Em março do ano passado, eu e um grupo de colegas jornalistas brasileiros visitamos o túnel Shtula, na Alta Galileia, norte de Israel, na fronteira com o Líbano. Para chegamos até o local, percorremos uma estrada por uma região montanhosa, margeando um muro de concreto. Estávamos acompanhados de um oficial da reserva das Forças de Defesa de Israel (IDF).

Soldados armados guardam a entrada da galeria subterrânea. Shtula tem 70m de profundidade e é apenas um dos túneis abertos pelo movimento xiita Hezbollah para sequestrar soldados israelenses e contrabandear armas. Seis deles foram detectados por Israel. As unidades de comando do Hezbollah também utilizavam as galerias para acessar rapidamente comunidades israelenses e se deslocar até áreas de armazenamento de mísseis antitanque.

O túnel Shtula começou a ser escavado em 2013, a partir do assoalho de uma casa, no vilarejo de Ramiya, a cerca de 1km, no lado da fronteira do Líbano. A poucos metros de ser concluído, foi descoberto pelas IDF e teve a passagem obstruída. 

Descemos até os 45m de profundidade, equivalentes a um prédio de 14 andares. Os degraus das escadarias de pedra exigem cuidado e atenção por conta da umidade. Toda a escavação foi feita à mão. O uso de equipamentos poderia atrair a atenção dos militares israelenses. A milícia xiita usou perfuradores fabricados com a própria rocha, cujas marcas se encontram nas paredes do túnel. Com a ajuda de água e eletricidade, o Hezbollah conseguiu remover as toneladas de pedras. Toda a extensão do túnel é iluminada. 

Durante a descida, à esquerda, pudemos ver um duto se estender desde a superfície, por onde o oxigênio flui, até o interior, dividindo espaço com a fiação elétrica. No ponto em que chegamos, a 45m da superfície, o Hezbollah construiu uma base operacional. Em um painel acoplado à parede, os militantes instalaram um telefone e um relógio de energia padrão obsoleto. A partir dali, a passagem foi fechada. 

Entre 20 e 50 militantes do Hezbollah trabalharam na construção de cada túnel. "Por meio dessas passagens no subsolo, os militantes conseguem atingir áreas estratégicas dentro de Israel,", explicou o oficial. "O projeto de construção dessas galerias era altamente confidencial. Poucas pessoas, que trabalharam nas obras, e o alto comando do grupo sabiam da existência deles."  Depois que saímos do túnel Shtula, percebemos a presença de alguém em meio aos arbustos, no lado libanês da fronteira. Com a câmera fotográfica, ampliei o zoom até o máximo e vi um homem do Hezbollah, camuflado, tirando fotos de nosso grupo. (Rodrigo Craveiro)

A postura de Netanyahu vem sendo de agressividade desde o início dos conflitos com o Hamas e agora se estende ao Líbano com toda essa problemática do combate ao Hezbollah, só que com consequências, que atingem populações civis, como o deslocamento populacional, além de muitas mortes. Netanyahu tem problemas domésticos bastante sérios com relação aos reféns, então ele precisa desviar a atenção disso. Ele precisa criar fatos novos para se manter no poder e manter o apoio dos grupos. Atualmente, eu não vejo muito como diminuir as tensões, ao que me parece que tudo vem numa crescente e a partir daí, a gente continua sob o risco de mais e mais mortes nos dois lados. Também há a preocupação de envolvimento de outros atores regionais como o Irã e a incapacidade de se gerar estabilidade nessa região apesar das pressões de atores importantes, como Egito, Qatar e Arábia Saudita.

Cristina Pecequilo, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou que a organização se opõe a qualquer tipo de invasão terrestre no Líbano. "Não queremos presenciar nenhum tipo de invasão terrestre", declarou Stephane Dujarric, porta-voz de Guterres.

Na Síria, o ministro das Relações Exteriores, Bassam Sabbagh, alertou sobre os riscos de escalada na região e criticou o apoio dos EUA a Israel. Ele pediu que a comunidade internacional trabalhe para acabar com a "agressão israelense".

Berlim anunciou o envio de um avião militar para retirar cidadãos alemães em situação de vulnerabilidade. Joe Biden, expressou oposição a operações terrestres israelenses e pediu um cessar-fogo. O Pentágono, por sua vez, aumentou a prontidão de tropas americanas.

Um navio da Marinha francesa partiu ontem para se posicionar em frente ao Líbano por "precaução", caso ocorra a evacuação de cidadãos franceses, informou uma fonte do Estado-Maior das Forças Armadas.

Para Gabriel Petter, doutorando em educação, professor e analista político,  Israel impôs muitas humilhações ao governo de Teerã, como o ataque à embaixada iraniana na Síria em abril. "Os iranianos evitam conflito direto com Israel porque isso pode colocar em risco o atual regime e o conhecido programa nuclear iraniano. O envolvimento direto pode arrastar outras potências para o conflito, como os Estados Unidos, que já aumentaram o efetivo militar em Israel, e a Rússia, que recebe suporte militar do Irã." (IA)

"Haverá o aquecimento do conflito. A violação por parte do Hamas e do Hezbollah ao cometerem agressão armada e o desrespeito à soberania e à integridade territoriais de Israel, com a construção de túneis fronteiriços com a finalidade de cometer atos de pequena guerra, por si só, razões legítimas perante o direito internacional para contraofensiva, dificultam o ponto de equilíbrio político."

Clarita Costa Maia, membro da Associação Suíça de Direito Internacional

Fonte: correiobraziliense

Participe do nosso grupo no whatsapp clicando nesse link

Participe do nosso canal no telegram clicando nesse link

Assine nossa newsletter
Publicidade - OTZAds
Whats

Utilizamos cookies próprios e de terceiros para o correto funcionamento e visualização do site pelo utilizador, bem como para a recolha de estatísticas sobre a sua utilização.