Israel vai levar a sério a advertência do presidente americano, Joe Biden, de não lançar uma ofensiva terrestre no Líbano? Parece duvidoso diante da impotência dos Estados Unidos para influenciar as decisões de seu aliado desde o início da guerra em Gaza.
O presidente americano deu a entender, nesta segunda-feira (30), que é contrário a uma operação terrestre israelense no Líbano e pediu um cessar-fogo, em meio à tensão extrema depois de Israel matar o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah.
"Estou mais a par do que vocês pensam e estou de acordo em que parem. Deveríamos ter um cessar-fogo agora", disse Biden aos jornalistas, quando perguntado se estava sabendo dos planos israelenses de uma incursão terrestre.
Horas depois, o Departamento de Estado americano confirmava que os israelenses lhes disseram que realizavam "atualmente operações terrestres limitadas dirigidas à infraestrutura do Hezbollah perto da fronteira".
É uma situação familiar. Toda vez que os Estados Unidos falam em diplomacia ou pedem um cessar-fogo, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, parece responder intensificando sua ofensiva.
Na quarta-feira passada, Estados Unidos e França pediram conjuntamente um cessar-fogo de 21 dias entre Israel e o Hezbollah. No dia seguinte, Netanyahu anunciou novos ataques contra o movimento islamista libanês, apoiado pelo Irã.
Na Assembleia Geral da ONU, o contraste era surpreendente: enquanto o primeiro-ministro israelense autorizava na sexta-feira um ataque devastador contra Nasrallah, o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, voltava a pedir uma solução diplomática.
"Israel tem o direito de se defender, mas a forma como o faz importa", afirmou ele em uma coletiva de imprensa.
Blinken vez dizendo isso desde o ataque sangrento do grupo islamista palestino Hamas contra Israel, em 7 de outubro.
Washington não lamenta a morte do líder do Hezbollah, a quem considerava um "terrorista brutal", mas esclareceu imediatamente que não estava envolvido, nem tinha sido informado de antemão sobre o ataque.
O mesmo ocorreu após a morte do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, em 31 de julho, em um ataque no Irã atribuído a Israel.
Israel tenta tirar toda a vantagem possível, fragilizando consideravelmente o movimento islamista libanês e diante de um Hamas derrotado em Gaza, afirma uma fonte diplomática.
Apesar das evidências em contrário, Washington aposta na diplomacia.
"A diplomacia continua sendo o melhor e o único caminho para se obter uma estabilidade maior no Oriente Médio e os Estados Unidos seguem determinados a avançar nestes esforços com urgência" em busca de uma solução diplomática no Líbano e um cessar-fogo na Faixa de Gaza, disse Blinken.
Este último se reuniu no domingo com seu contraparte francês, Jean-Noël Barrot, que de Beirute instou Israel nesta segunda a "se abster de qualquer incursão terrestre no Líbano", aparentemente sem obter uma resposta.
Ele também conversou com o britânico David Lammy na manhã desta segunda, e com ministros árabes à margem de uma reunião ministerial em Washington da coalizão contra o grupo Estado Islâmico (EI).
Seu entorno garante que Washington não determina a Israel, um Estado soberano, sua conduta na guerra, mas reconhece nas entrelinhas uma margem de manobra limitada com Netanyahu.
Os eventos se sucedem sem que os Estados Unidos possam fazer grande coisa.
Joe Biden suspendeu uma entrega de bombas em maio, mas no geral tem se negado a usar a pressão das armas sobre Israel.
O calendário político americano piora as coisas. Enquanto a vice-presidente, Kamala Harris, faz campanha contra o ex-presidente Donald Trump para as eleições presidenciais de 5 de novembro, o governo se desespera por alcançar um acordo no Oriente Médio antes da votação.
O objetivo é evitar a impressão de caos, mas poucos observadores preveem uma mudança de estratégia tão perto das eleições.
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